O que fazer a um armazém com 1500 metros quadrados de área? A resposta não foi um quebra-cabeças para Raquel e Batata Cerqueira Gomes: um Armazém, pois claro. Um armazém que a passos poderia ser um sótão, daqueles onde entramos como quem entra num navio afundado em busca de tesouros — aqui, objectos tocados pela patine do tempo, a obsolescência trocada pela estética; a outros passos é uma galeria de arte; e a outros ainda (1500 são muitos metros quadrados), loja(s) de autor. E no centro de tudo uma grande lareira que serve o bar e quem quiser embrenhar-se neste espaço em bruto onde a estrutura está em carne viva — e não poderia ser de outra maneira.
Podemos chamar-lhe espaço multifuncional, porque o é, mas o Armazém é sobretudo um aglutinador de pessoas — e de animais, como veremos. É um espaço que se deixa descobrir naturalmente — isto depois de nos puxar para dentro com um exterior que é tudo menos discreto, tudo menos ortodoxo. Então, estamos em Miragaia, com a Alfândega do Porto do outro lado da rua, que está, digamos, num andar superior.
Por estas arcadas e praças caminhamos até ao Armazém: numa esquina (de uma praça e antes de mais uma fileira de arcadas, claro), muro alto e rede a subir mais, portão escancarado para um pátio-jardim que parece chegado de outras latitudes.
No cimo, outro grande portão e a entrada no armazém, propriamente dito, que já foi da Real Companhia Velha, de uma drogaria, mais recentemente, parte do atelier de Paulo Lobo (continua a trabalhar ali ao lado) que foi quem sugeriu ao casal ficar com o espaço.
Já entraremos, então, nesse espaço que imediatamente apaixonou o casal de antiquários (“pensámos logo em fazer um espaço multicultural”, recorda Raquel), primeiro deixemo-nos levar por esta esplanada — e o único ponto negativo é a chuva que em finais de Janeiro não a deixa ser desfrutada (por pessoas e por animais: há um lounge para estes, com direito a cama, colchão e bebedouro de pedra — “percebi que ao fim-de-semana há muitas famílias a passear com os animais”, explica Raquel, contando que um dia apareceu até um lobo, pela trela do dono).
Está disposta em socalcos (aproveitemos o passado vínico), cada um debruado de vasos que delimitam uma espécie de pátios com mobiliário a condizer: mesas e cadeiras de madeira, algumas baixas, outras altas (e até compridas ao estilo germânico), e encostado à parede do armazém um pequeno bar exterior cujo balcão assenta em ferro forjado que já pertenceu a uma varanda.
E falamos de tudo o que a esplanada tem ignorando o incontornável: a parede branca do armazém salpicada de cadeiras coloridas é mais uma intervenção artística do que outra coisa.
Nestes dias de Inverno, o grande portão principal pode estar fechado, para evitar correntes de ar, mas um néon a várias cores desenha a palavra open para chamar a atenção de quem passa.
Há quem hesite (um grupo de jovens olha sem perceber bem), há quem lá passe a tarde a trabalhar: na mesa corrida bem diante da lareira, computador aberto, música de fundo, televisão sem som. É a lareira o ponto nevrálgico deste armazém, pelo menos nestes dias de Inverno. Está na zona do bar e é como uma ilha de metal rodeada de espaço por todo o lado, ou não tivesse sido construída aproveitando um dos muitos pilares de pedra que sustêm o pé direito desmesurado (excepto na parte em que há um mezanino, não aproveitado) que termina em traves de madeira com as telhas logo por cima.
- Nome
- Armazém
- Local
- Porto, Miragaia, Rua de Miragaia, 93
- Telefone
- 222011702