Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/nFactos
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Bonaparte invade a Baixa portuense

Por Andreia Marques Pereira ,

Numa cidade que tem numa das suas praças mais emblemáticas um monumento que representa a derrota dos exércitos napoleónicos durante a Guerra Peninsular, não se pode dizer que o nome do imperador francês tenha tido um destino de opróbrio.

Se Napoleão é incontornável na história universal, Bonaparte é incontornável na história do Porto: é um dos seus bares mais antigos e, sobretudo, representa a quintessência dos pubs britânicos na cidade. Ainda que tenha sido fundado por um alemão, Klaus Teichgräber, cuja vida é inseparável do Bonaparte — e ambos já foram personagens de obras literárias. É uma instituição portuense, este Bonaparte, que há 40 anos (a abertura oficial foi em 1977, mas a história começa antes) está a ver o mar, na Foz. E agora, maioridade mais que consolidada, viaja até ao centro do Porto, para ver a Baixa.

Bonaparte Downtown é o irmão mais novo que emula o mais velho com orgulho descomedido; é o projecto de Pedro e Cláudia Teichgräber que reflecte o orgulho imenso dos filhos pelo pai, falecido há dois anos. “A história do Bonaparte confunde-se muito com a nossa história”, assume Pedro, “acompanhámos todas as transformações que foi sofrendo e conhecíamos o meu pai, sabíamos como funcionava. Perguntámo-nos muitas vezes: ‘Como faria?’ E sabemos”. É, orgulhosamente, um negócio de família — e aqui até ganha um novo membro, Paulo Andrade, o marido de Cláudia, e as presenças tutelares dos bisavós alemães em fotos por detrás do balcão.

E há, inequivocamente, um ar de família neste novo “Bona”, o diminutivo por que é conhecido pelas gerações de frequentadores assíduos. Desde logo na inconfundível luz que é meia-luz, amarela como só no Bonaparte, depois na música — “revivalista, das décadas de 1970, 1980 e 1990” — e, mais obviamente, na decoração, onde cabe tudo, literalmente, nas paredes. “As pessoas não ficam desiludidas”, afirma Pedro, “percebem a transformação mas não sentem as expectativas defraudadas”. Como poderiam, atrevemo-nos, se logo que passamos a antecâmara nos deparamos com as famosas cabinas que são uma das imagens de marca da casa? E se logo nessa parede primeira, onde as cabinas se alinham e que desemboca na montra sobre a praça, vemos um estonteante número de objectos mais ou menos identificáveis à primeira mirada? E nós, que entramos ainda com luz do dia, mas saímos já noite instalada, pudemos comprovar que a meia luz é igual, compondo a aura de conforto e inventando recantos com candeeiros de mesa, de pé, de tecto e de parede (de várias formas e feitios).

Não que não faltem recantos reais neste Bonaparte, duas salas (a das traseiras de fumadores) com um longo balcão entre elas, e muita madeira (não fosse este um pub) — no mobiliário, onde só se intrometem os almofadados das cadeiras, cadeirões e sofás, como nas paredes, algumas revestidas com pedaços de antigas paletes. “Quisemos desconstruir coisas”, nota Pedro, e foi assim que antigas cabeceiras de cama de ferro se transformaram nos corrimões da escada em caracol que um dia levará a nova sala, no primeiro piso. Por enquanto, ficamo-nos pelo rés-do-chão e num desses recantos do Bonaparte: um canto onde o pousa-copos é largo, há bancos, um espelho e uma máquina de tabaco que mais ninguém queria (revestida a madeira, com uma mala e máquina de escrever antigas em cima), com vista para outro recanto com um cavalo de madeira e uma antiga balança de mercado. Na parede, um leme — e sim, cada um pode girá-lo.

Entretanto, o final de tarde vai aquecendo e o Bonaparte vai enchendo até ser difícil observar as paredes sem perturbar os clientes que na sala de trás ocupam o sofá que contorna grande parte do espaço. É uma espécie de loja de antiguidades e velharias e não é à toa: tudo começou num antiquário, onde Klaus, viajante e coleccionador compulsivo, vendia o que ia recolhendo mundo fora. “Depois tornou-se também bar”, recorda Pedro, “muito básico: as mesas eram carroças de bois”.

E o que vemos nestas paredes — demasiado para enumerar, mas deixamos alguns exemplos: matrioskas, garrafas, um Homer Simpson junto com um Nenuco engaiolados, posters, merchandisingde cerveja, carros de brincar (tudo com a devida patine do tempo), capacetes militares (e um de motociclista iluminado), carimbos, volantes, bobines de cinema, raquetes de ténis de madeira — vem quase tudo da colecção de Klaus. O restante foi trazido pelos filhos e até emprestado por amigos, como a long board suspensa de uma parede. “De muitas peças não sabemos a história, podemos imaginar, outras foram os nossos brinquedos.” E para exibir tudo neste caos organizado (“muito direito não é Bonaparte”), os três sócios dividiram as paredes em porções e cada um se dedicou a montar tudo, como um jogo de Tetris tridimensional — que durou seis semanas. Da Foz vieram alguns objectos que estavam mais escondidos e que mereciam maior exposição, como um vitral, e o quadro de Napoleão que agora ocupa a sala das traseiras do Bonaparte Downtown; e veio também a ideia da escada de madeira que sobre o balcão serve para pendurar copos. Se encontrar amolgadelas, riscos e rachas nos objectos, faz parte: “A decoração vale pelas histórias que conta.”

Como bom pub que é, não faltam as televisões onde o desporto será rei, e a comida faz parte do cardápio, a acompanhar as cervejas (muitas, claras, pretas, ruivas e de fruta), as espirituosas (variadas). O Bonaparte (ainda) é uma steak house (e os espelhos que o dizem são herança do restaurante que chegou a funcionar no primeiro andar do “Bona” original), com bife tártaro e “à Klaus” à cabeça — e aqui há uma carta mais alargada no que a petiscos e snacks diz respeito, a cargo de Mário Rodrigues (vencedor do concurso Chef’s Academy). “A Baixa pedia, era preciso ter atenção às pessoas que por aqui passam.” 

“Queremos que as pessoas sintam que [o Bonaparte Downtown] já estava implementado, que não abriu há pouco tempo”, diz Pedro no seu discurso torrencial de jornalista televisivo. Com o mobiliário feito à medida de outros tempos, com o chão novo mas já gasto e com a decoração intemporal como legado é fácil sentir isso. Sobretudo quando “a viagem” (é assim que Pedro chama à experiência) pelo Bonaparte acontece de luzes acesas. Até pode chegar a abrir a porta que dá para a Rua das Galeria de Paris, mas ficará sempre à margem do furacão noctívago que aí se vive, como um navio escondido da tempestade — mas aberto sete dias por semana. 
 

Preços: fino a 2€; cervejas estrangeiras entre 3€ e 14€; brancas a partir de 6€; vinho do Porto desde 4€; cocktails e long drinks a 6€ e 7€; vinho e sangria a copo a 3€; café a 2€; chá a 2,5€; chocolate quente a 4€; água a 2€; bife tártaro a 14€; bife Klaus a 15€; tosta Bonaparte a 4€; preguinho de porco preto a 6€; chouriço ao vinho a 4€; polvo com molho verde a 8€; tábua mista a 9€.
 

Nome
Bonaparte Downtown
Local
Porto, Vitória, Praça Guilherme Gomes Fernandes, 40
Telefone
0
Horarios
Todos os dias das 17:00 às 02:00
Website
www.facebook.com/bonapartedowntown
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