Fugas - restaurantes e bares

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No regaço d'Aurora

Por José Augusto Moreira ,

Cozinha à base de peixes e mariscos, mas também carnes na grelha e pratos tradicionais. É variada e competente a cozinha D’Aurora, e está-se mesmo bem em cima do mar e com horizonte a perder de vista.

Para lá dos peixes, mariscos e uma boa cozinha tradicional, o restaurante D’Aurora oferece uma localização privilegiada sobre o imenso Atlântico. Na praia de Cortegaça, concelho de Ovar, em cima do passeio marítimo, onde com grande prazer se desfruta em toda a plenitude das vistas limpas e desafogadas 

Limpo e acolhedor é também o areal contíguo, outrora palco da azáfama piscatória da arte xávega e agora quase exclusivamente dominado pelas actividades de veraneio. A tradição das redes puxadas por valentes juntas de bois foi cedendo à facilidade e potência mecânica dos tractores, mas consta que há ainda alguns resistentes pescadores que teimam em manter a tradição e municípios que trabalham para a ver salvaguardada como património imaterial da UNESCO. 

O projecto, segundo noticiava o PÚBLICO, abrange toda a costa de Espinho à Caparica e, ao todo, não serão hoje mais que umas quatro dezenas as embarcações que se dedicam à pesca artesanal feita com rede e alagem para terra. Em Ovar, onde, além de Cortegaça, a pesca tradicional ainda resiste nas praias de Esmoriz, Furadouro e Torrão do Lameiro, os técnicos municipais têm registado histórias e imagens com vista à candidatura a património da humanidade. 

Quanto ao restaurante, que é o que por agora nos interessa, oferece — além das vistas, claro! — uma lista onde se destacam as “especialidades” com peixes e mariscos. Cozinha tradicional, com arrozes, caldeiradas e cataplanas, mas há lugar também para carnes de boas peças. E até, como vimos, um farto cozido que não constava do menu e tinha sido especificamente encomendado. 

Outra das particularidades do D’Aurora está nos champanhes e espumantes, que são por aqui servidos com abundância e parecem mesmo em muitos casos acompanhar toda a refeição. O instigador é Amadeu Amaro, o dinâmico anfitrião-gerente-chefe de sala, ele mesmo também aplicado degustador. Logo à entrada há uma mesa com frapé e garrafa aberta, da qual os clientes habituais se vão servindo enquanto aguardam por indicação de mesa. 

O ambiente é, por isso, informal e descontraído, com movimento e dinâmica que podem não ser do agrado daqueles que privilegiam o sossego e a calma. Há uma primeira sala, em jeito de esplanada, que antecede o salão principal, com a particularidade de todas as mesas estarem orientadas para o mar e com vistas a condizer. Lugares espaçados, cadeiras confortáveis, baixela adequada, toalhas e guardanapos em algodão, copos correctos e serviço dinâmico. Informal e despachado, mas com condições apropriadas.

Nestes primeiros dias de sol e com a procura em alta, houve que fazer reserva para garantir lugar na primeira rotação de mesas ao almoço. Manteiga, azeitonas, pasta de atum e ovos de codorniz num pratinho, ao lado do cestinho com pães brancos de linha industrial e qualidade sofrível, tostinhas no mesmo estilo e broa de mistura, esta sim mesmo boa. Das entradas, provou-se o presunto pata negra (8,75€), fatiado à máquina, pratinho com quantidade generosa e boa qualidade. É também proposto polvo em vinagreta, mexilhão meia concha e queijo (3,50/4,75€). 

Entre gambas “aguilho” (15€), ao natural (35€/kg), camarão tigre (75€/kg), navalheiras (30€/kg) e sapateiras (28€/kg), convocaram-se os percebes (35€/kg) e as amêijoas à Bulhão Pato (16€). De tamanho médio e boa cozedura, os primeiros percebes estavam “escondidos” no sal e foi preciso passar a primeira camada para lhes descobrir a frescura e sabor a mar. Além de prejudicial, o sal só serve para esconder um mau produto, o que não era o caso. 

A sério mesmo as amêijoas. Boas, frescas, gordas e muito bem “suadas”, com alho e coentro na proporção certa e a proporcional e apetitosa “molhenga” para aproveitar com o pão. Fosse ele do bom… 

É extensa a lista de “especialidades”, que vai dos arrozes (de marisco — 22,50€, tamboril — 20€ ou lavagante —60€/kg), à cataplana de robalo — 40€/kg, moqueca de camarão — 16€, e caldeiradas (de enguias — 25€, raia — 14€ ou peixes vários —18€). Muito bem a sopa de peixe (6€, 2 pax), refogado suave, pedaços de peixes limpos e saborosos, cebola e pimento. Havia também alguns camarões, rijos da congelação, que nada acrescentam e bem se dispensavam. Grande satisfação com o ensopado de robalo (32,30€), com alho, salsa e ovo escalfado que é envolvido já na mesa. Carnes limpas de pele e espinhas, sabor e envolvência num prato que bem mostra o apuro e consistência da cozinha da casa. 

É claro que há também os “peixes na grelha” (com rodovalho, linguado e cherne — 40€/kg), incluindo lulas e bacalhau (12/14€), ao que se junta a oferta de carnes, comchateaubriand (24€), filet mignon (16€), as pouco canónicas picanha e maminha (14€), naco D’Aurora (16€) e miminhos de boi. Provaram-se estes últimos com aprovação geral. Naco generoso de carne do lombo, grelhado no ponto correcto. Carne laminada, rosada, macia, suculenta e saborosa. Acompanhou com legumes salteados e batata frita, à inglesa, de se lhe tirar o chapéu. 

Nas sobremesas, o pão-de-ló é simplesmente arrebatador. Com ovos, estilo de Ovar, mas que vem de Castelo de Paiva. Macio, aveludado e envolvente. Uma delícia.

Não sendo extensa e dispensando os caros, a lista de vinhos é ajustada, com uma oferta que cobre sobretudo Douro e Alentejo. É a moda! Há boa escolha para os Verdes, faltará algo mais de Dão e Bairrada — e tão bons vinhos por aí andam —, mas inclui até algumas ousadias como Riesling alentejano da casa Arrepiado Velho. Um tanto envergonhado nos aromas, mas seco e firme na boca e ajustado ao ambiente marinheiro da cozinha e ambiente envolvente.

Quanto aos efervescentes, há alguns champanhes dos mais badalados e de moda, e espumantes de Távora-Varosa. Num serviço onde estão em destaque seria de esperar muita mais variedade de escolha, notando-se sobremaneira a falta de qualquer exemplar da Bairrada. Não só porque os há de grande qualidade e a preços convidativos, mas sobretudo pela proximidade à região. 

O bom tempo ajuda, mas mesmo sem calor e praia é seguro que se sairá satisfeito e recomposto deste refúgio D’Aurora. 

Nome
Restaurante D’Aurora
Local
Ovar, Cortegaça, Av. N.ª S.ª da Nazaré
Telefone
256755603
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 15:30 e das 19:30 às 22:00
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