Fugas - restaurantes e bares

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O vinho como pretexto e dois dedos de conversa terapêuticos

Por Andreia Marques Pereira ,

Um bar que promete ser uma verdadeira terapia para os dias e noites do Porto.

Durante anos, um problema de saúde deixou António Neves sem ocupação, mas quando as coisas melhoraram uma médica disse-lhe que devia encontrar qualquer para fazer que funcionasse como uma terapia, uma vez que já há muito tempo que não fazia nada. António pensou, falou com a mulher, falou com o filho. “Tinha de ser uma coisa realmente pequena, só para mim”, explica. 

O seu passado de bares, discotecas, restauração e hotelaria acabou por lhe indicar o caminho da terapia – um bar de vinhos. Pequenino, à medida das suas ambições (não é catequético e é António quem o assume) e com o nome óbvio, Terapia Wine Bar, TWB como se vê numa das paredes do espaço que abriu no Bonfim, no início de Junho, numa esquina quase a espreitar a Faculdade de Belas Artes (FBAUP). E não é à toa que falamos da FBAUP porque o trilho algo sinuoso que conduziu à decisão de António Neves até passou, indirectamente, por aí.

Mas voltemos ao TWP: janela enorme que abre para os bastidores (o interior do balcão) e porta logo ao lado – nestes curtos metros embutidos num prédio de azulejos amarelos, laranjas, verdes e brancos a desenharem uma geometria fina, cabe (quase) toda a terapia de António. O restante transborda para uma pequena esplanada, habitualmente três mesas, hoje apenas duas por problemas “técnicos”. 

Fora e dentro, as mesmas mesas de repas de madeira e pernas de metal com cadeiras a combinar (estas com almofadas negras) que dão leveza ao interior XS e charme ao exterior onde caberão duas floreiras e um novo toldo, maior, “para proporcionar mais conforto quando o tempo esfriar” – por enquanto são dois individuais, brancos, sobre janela e porta, que António Neves abre ao final da tarde. E este é precisamente um espaço que se quer afirmar nos finais da tarde, inícios de noite. 

“Gostava que as pessoas começassem a habituar-se a tomar qualquer coisa depois do trabalho”, confessa António, “mas parece que ainda falta algo”. Vinho, pelo menos, aqui não falta, embora não tanto quanto António desejaria e por isso prefere chamar ao seu espaço um “small wine bar”. Tem cerca de 20 referências, entre brancos, tintos e rosés – a que se juntam champanhe e espumante – de várias regiões portuguesas. “Um wine bar é muito mais”, afirma. Mas este, explica, não é tanto um bar para degustação como para promover encontros e conversas diante de um copo de vinho. Afinal, falar é terapêutico e um copo de vinho é um bom aliado. “Gostava que as pessoas pedissem um copo de vinho para conversar umas com as outras. Não quero estar a vender vinho só por vender.” 

Mais uma vez chama atenção à óbvia escassez de espaço, que pode intrometer-se nessa convivialidade desejada. “Não era para ser tão pequeno”, assume, “mas foi o que eu arranjei. Gostaria de ter um pouco mais de espaço”. Para mais clientes, sim, e para uma cozinha onde pudesse preparar mais petiscos. Não que estes faltem: da sandes de presunto ou tosta mista ao prego em pão com queijo da serra (um dos mais pedidos), ovos mexidos com bacon, gambas, cogumelos, tábuas de mistas. É o outro lado do vinho, do convívio – da terapia, acompanhada por música que é dada pela televisão (ao final da tarde estamos com pop rock de outros tempos, António gosta de entrar pelo jazz, porém, diz, “não é consensual”).

E, voltando à génese desta, encontramos indícios no TWB do outro caminho que ela poderia ter tomado, mais artístico. António desenha desde miúdo: “Os outros jogavam à bola, eu desenhava-os”, recorda. E é assim que vemos desenhos de António nas paredes cinza do Terapia, molduras douradas – como a do espelho que ocupa parte de uma das paredes – mas poderemos ver telas pintadas com acrílico, já que a ideia é ir expondo os seus trabalhos. E como o desenho também o levou, não há muito tempo, para um curso profissional de joalharia contemporânea, António chegou a ponderar montar uma oficina para desenvolver esse ofício. “Cheguei à conclusão de que era necessário um grande investimento, em máquinas e prata [a sua matéria-prima preferencial].” Coincidência: abriu o seu bar onde há muitos anos funcionou uma ourivesaria. E junto da FBAUP que visitou enquanto estudava joalharia. “Esta zona ainda é considerada histórica, abro um espaço para os alunos e estou perto desse ambiente artístico.” 

Várias terapias, portanto, para alguém que nem sequer é grande apreciador de vinho, confessa. “Nem às refeições bebo, só em ocasiões especiais. Bebo um copo de longe a longe.” No entanto, acredita que não há melhor aglutinador de gente do que um bom copo de vinho na companhia de petiscos: tudo para promover dois dedos de conversa. Por isso, este não é um wine bar ortodoxo – o vinho não é sequer o actor principal (e não está sozinho, há toda uma carta de bebidas que vão da cerveja de pressão, Heineken ou Super Bock, ou em garrafa às espirituosas), é o pretexto. No centro estão as pessoas.

Nome
Terapia Wine Bar
Local
Porto, Bonfim, R. Barão de São Cosme, 155
Telefone
223225085
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 11:00 às 23:00
Sexta-feira e Sábado das 11:00
Website
www.facebook.com/Terapiawinebar
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