Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Centenário de boa forma e culinária apurada

Por José Augusto Moreira ,

Há cabidela de frango nas noites de sábado, tripas e cabrito ao fim-de-semana mas também muito para petiscar e partilhar todos os dias. O Sport de Viana do Castelo está novo e preserva a tradição.

É um estabelecimento emblemático o Café Sport, que em Viana do Castelo é apontado sem sombras como o de mais larga história na cidade. “Café pioneiro” que “no longínquo ano de 1879 já era considerado o mais antigo de Viana”, relata António Carvalho em “Acontecimentos que Viana Sentiu”, onde também explica que foi “ponto de reunião de democratas” e adoptou a actual designação apenas em 1949, “após grandes obras de remodelação”. 

Muito popular na cidade é também o apelido Natário, dos irmãos “Manelzinho” e “Zé”, em grande parte pelas gulosas bolas de Berlim com creme e deliciosas empadas, o primeiro, a pastelaria e o dirigismo associativo e desportivo, o segundo. E foi precisamente Zé Natário que em 1955 tomou as rédeas do Sport. 

E se já era popular, seguiu-se o aparecimento das emissões de televisão e a instalação de um dos primeiros aparelhos da cidade que fizeram do Sport como que local de romaria. A par dos serões televisivos serviam-se os petiscos e alguns cozinhados especiais, como a cabidela de frango que passou a ser habitual nas noites de sábado. 

As valências de café e restaurante mantiveram-se até há pouco, quando Zé Natário decidiu que era a altura de os netos assumirem o negócio. Com profundas obras de remodelação, o Sport assumiu a vocação única de restaurante e há mais de um ano que assim funciona. Permanece a fachada de sempre, agora com elegante recorte vintage, salas (duas) apetrechadas com mobiliário na mesma linha e toalhas brancas em algodão a completar o estilo moderno e confortável. 

A manter a vocação petisqueira há, ao fundo, uma salinha recuada com uma grande mesa quadrada, em plano e com bancos elevados, que convida à partilha e degustação. E nem se pense que o patriarca Natário dali desapareceu. É presença regular na mesa quadrada e em pano de fundo lá está uma reprodução gigante do cartão de jogador de José Enes Gonçalves Natário relativo à época 1960/61 emitido pela Federação Portuguesa de Futebol. 

Também a lista procura manter a ligação à história da casa garantindo que nas noites de sábado há “Arroz de frango pica no chão” e todos os fins-de-semana as “Tripas à Sport” e “Cabrito assado no forno”.

Instalamo-nos na mesa quadrada, claro, tendo sido convocados os bolinhos de bacalhau (0,80€ cada), pimentos padrón (2,50€) e rojõezinhos (3€) para partilhar. Bonitos, fofos, crocantes, escorridos e impecáveis os bolinhos; Muito bem fritos e expurgados de gordura os pimentos, com alguns picantes como é de lei; Desiludiram os denominados rojões, com fêveras aos pedacinhos e rodelas de linguiça numa espécie de refogado caldoso. E os “Rojões à Minhota” que estão na carta até parecem honrar a tradição! 

Voltou a satisfação com os filetes de polvo (10,50€) em meia-dose generosa, troços do octópode macios, crocantes e de sabor afinado. Acompanharam com salada da de feijão fradinho em molho verde e sensação fresca de vinagre. Muito bem! Boas sensações também com os filetes de pescada (8,50€), fresca e a decompor-se em lascas delicadas e capa de ovo e farinha. Acompanhou com salada russa, correcta, mas que nada perdia com os legumes em modo um pouco mais afirmativo.

Em Viana, já se sabe, não se brinca com o bacalhau e assim se passou com a versão à “Dona da casa” (13,50€). Meia posta de lombo alto impecavelmente frito em azeite fervente, lascas firmes a deslizar nas gelatinas, sabor, envolvência e prazer. Cebola refogada a acompanhar e irrepreensível batata frita às rodelas. 

Vistosa, bonita, saborosa e de bom corte a “Posta de vitelão grelhada” (13,50€). Carne rosada e cheirosa a evidenciar o correcto trato culinário, gordura amarela a transmitir sabor e satisfação na envolvência com saborosa batata a murro e brócolos cozidos. 

Nas sobremesas, a oferta não entusiasma mas há sempre o recurso à deliciosa pastelaria da casa Zé Natário que resolve o assunto com garantida satisfação. O serviço privilegia o despacho e a empatia com o cliente, mas isso nem sempre basta quando o propósito é de degustação.

A par da envolvência do tempo e do ambiente moderno, simples e acolhedor, o Sport cativa sobretudo pela demonstração de capacidade culinária. A carta deixa claro o propósito de uma cozinha diária, de preços contidos e satisfação garantida, mas inclui também cozinhados de maior envergadura e envolvência, seja com as propostas de fim-de-semana ou em pratos que carecem de encomenda com o cozido, sarrabulho ou arroz de lavagante. 

E a execução culinária, rigorosa e tradicional (ou tais rojõezinhos serão lapso, certamente), e a qualidade dos produtos parecem garantia suficiente.

A carta de vinhos concentra-se no básico para o dia-a-dia e as escassas opções para harmonização ficam claramente aquém do que cozinha pode oferecer e o espírito e partilha e degustação reclamam. Um ponto a melhorar.

Nome
Café Sport
Local
Viana do Castelo, Monserrate, Rua de Monjovos, 10
Telefone
258822117
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 23:00
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