Fugas - restaurantes e bares

  • Paulo Pimenta
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Um clássico que sabe manter-se sempre actual

A mesma satisfação com a aprimorada execução da cabidela de frango (6,70€), num arroz aromático, caldoso, guloso e com certeiro vinagrinho a fazer com que a boca peça sempre um pouco mais. É claro que escasseiam as capoeiras, mas não restam dúvidas que com carnes de um daqueles franganotes com tempo de criação a coisa seria mesmo de estalo.

Com critério, cuidado, sabor e envolvência, os rojões à minhota (7,50€) numa interpretação correcta da receita tradicional, coisa que já não abunda, pelo menos em contexto urbano. Carnes, do cachaço, a ressumar de gordura, sarrabulho com picadinho de alho e toque de cominhos, tripa enfarinhada bem frita e batatinhas coradas. Tudo regado com a banha fervente como manda a regra e se recomenda.

A par da salada de frutas que é uma espécie de ex-líbris da casa (texto ao lado), a oferta doceira é consistente e tentadora. Provou-se o bolo de laranja, a tarte de amêndoa e o bolo de bolacha (2,90€ cada, em doses sempre generosas), com satisfação e aplauso generalizado.

Numa lógica de equilíbrio de preços, a oferta de vinhos abrange todas as regiões e proporciona escolhas adequadas para a variedade e tipo de oferta gastronómica. Serviço afável, despachado e diligente, merecendo realce o ritmo com que tudo acontece. Não há hiatos, esperas ou tempos mortos, o que bem mostra a capacidade e competência cozinha.

Está-se bem no Ernesto, um restaurante que à tradição de bem receber e boa cozinha portuense associa a envolvência de modernidade que o rodeia. Um clássico que valoriza e enriquece os novos tempos e tendências.

Salada de frutas como referência cultural

Pela sua localização, história e antiguidade, o Ernesto adquiriu o estatuto de quase instituição da cidade. Não o é, claro, do ponto de vista formal, mas a verdade é que a relevância que assume no contexto da zona onde está instalado levou a Câmara do Porto incluir o velho restaurante da Rua da Picaria num roteiro muito particular e relevante. “Um objecto e os seus discursos” é um ciclo de conversas semanais, com um horizonte de dois anos e 60 sessões, com o propósito de “conhecer os espaços e os tesouros da cidade contados por quem faz as suas histórias”. 

E o Ernesto faz parte desse roteiro, que destaca a sua salada de frutas e o actual proprietário e gerente, Reinaldo Pereira: “No número 85 da Rua da Picaria serve-se, a crer na crítica gastronómica da imprensa, a melhor salada de frutas do Porto. Falamos de uma festa de, pelo menos, onze frutos. A contar: ananás, pêra, manga, kiwi, morango, pêssego, framboesa, ameixa, uvas, melão e laranja. Recebe-nos o Ernesto, casa fundada em 1938 e mantida em família até aos dias de hoje.” 

Paulo Cunha e Silva, o dinâmico vereador da Cultura recentemente falecido, era um cliente quase diário do restaurante, e isso não será alheio à escolha que o coloca entre espaços e instituições como o Ateneu Comercial, Casa da Música, estação de São Bento, Mosteiro de São Bento da Vitória ou a casa do Vinho Verde. 

Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, apresentou estas conversas como “um veículo peculiar de reactivação patrimonial e de ligação à identidade cultural” da cidade. E isso passa por conhecer o Ernesto e saborear a sua salada de frutas.

Nome
O Ernesto
Local
Porto, Vitória, Rua da Picaria, 85
Telefone
222 002 600
Website
www.oernesto.com
Observações
Fecha ao domingo ?e segunda ao jantar
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