Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Viva a lampreia e o sável, e quem os cozinha também!

Cozinha cuidada e equilibrada

A celebração da temporada começou com o “sável frito com açorda” (28€), em dose avantajada que serve à vontade um mínimo de quatro. A lista de “especialidades” assinala também as versões assado e de escabeche, mas que não constavam da oferta do dia. Belas postas, com as ovas a denunciar tratar-se de exemplar fêmea, a gordura a colar-se à pele e as carnes humedecidas a separarem-se em delicadas lascas e a permitir detectar as intrometidas espinhas. Ponto de fritura cuidadoso, bem escorridas e sabor afinado.

Preciosa também a açorda de ovas que acompanhava. Sem excessos, equilibrada no sabor e aroma de coentro. Acompanhava ainda com uma salada de tomate, alface e cebola, igualmente de tempero sápido e equilibrado, e um arroz branco solto.

Também na generosa “dose de lampreia à bordalesa” (40€), cinco troços do bicharoco de tamanho grande, sobressaíam o equilíbrio e a boa execução culinária. Servida em púcaro de barro, com cobertura de tostas de pão frito e o molho espesso polvilhado de salsa. Mesmo sendo raspada (como impõe a tradição local), os resquícios de pele em nada interferiam no equilíbrio de sabor e boa confecção.

Exemplar também o arroz branco, de grão graúdo, aberto, solto e levemente humedecido. Daqueles que só mesmo na cozinha nortenha sabe fazer e com um plus da folha de louro que aromatiza o estrugido. Boa cozinha!

Pediu-se ainda o “entrecôte de boi laminado” (15,25€), numa meia dose que será bem mais avantajada que as doses comuns. Acompanha com especiosa batatinha palha frita na hora e legumes muito bem salteados. A carne é de qualidade, mas há que ter cuidado com o tempo de exposição ao calor para não se desperdiçar toda a suculência, principalmente nas extremidades. É regada com um molho adocicado (de cenoura?), que nos disseram fazer as delícias da clientela mas que bem se dispensaria.

A par da qualidade e critério culinário com que são tratados o sável e a lampreia, devemos destacar o acerto da escolha do tinto da casta Vinhão da Quinta de Carapeços (12,50€). É uma velha e interminável discussão se o Vinhão é ou não o parceiro ideal para a lampreia e, como é óbvio, tudo depende daquilo que é colocado na garrafa e da forma como é feito.

Para os mais cépticos e renitentes, recomenda-se que provem este Vinhão de Carapeços, cujo trabalho enológico o coloca na garrafa em contexto elegante e com taninos domados. Vai muito bem com a força gustativa da lampreia, e pode muito bem emparceirar com gorduras e assados se o deixarmos ganhar forma em garrafa, como foi o caso de um exemplar da colheita de 2011 que ainda recentemente saboreamos com grande agrado e surpresa.

Falando de vinhos, diga-se que a oferta deste restaurante concentra no Douro e Alentejo, com os rótulos óbvios e de maior rotação comercial. Faltam, pelo menos, os Dão e Bairrada, incluindo espumantes, que se enquadrariam com a cozinha cuidada e sabores equilibrados que são a marca culinária da casa.

Nas sobremesas, a oferta é igualmente vasta e divide-se em três capítulos: frutas, doces e gelados. Fomos tentados com as “rabanadas de leite” (2,85€), que são confeccionadas por um dos elementos do staff de sala. Bom trabalho! Provou-se também o “pudim Abade de Priscos” (3,95€), que, não sendo um portento, não desmerece a memória do criador.

Nome
Restaurante Margem Douro
Local
Gondomar, São Cosme, Av. Clube de Caçadores, 4563 (EN 108)
Telefone
224 541 852
Horarios
Domingo, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado
Website
www.margemdouro.pt
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