Duas americanas entram num bar. Parece início de anedota, é Arroios em 2017. Duas americanas entram num bar, explicam que estão a fazer um intercâmbio e que moram do outro lado da rua há uns meses. Esta noite tiveram curiosidade de finalmente vir espreitar o que se esconde para lá da pequena esplanada de cadeiras velhas, mas robustas.
Esconde-se muito mais do que a vista alcança num primeiro olhar. O Vlada Lounge, à Rua Rosa Damasceno, ocupa o espaço que foi de uma antiga e importante padaria do bairro. A sala inicial é exígua e ainda conserva a geografia normal de um típico estabelecimento do género. Depois, atrás de uma cortina, revelam-se duas grandes salas, uma surpresa para quem ache que a ambição do Vlada se fica por estas paredes de mármore, pelo janelão em vidro de várias cores e pelo chão de marmorite.
“Isn’t it cool?”, comentam as americanas, depois de conhecerem todos os cantos à casa e de fazerem festas a Afonso, o cão pachorrento escondido atrás do balcão. Joaquim Pires, um dos sócios do bar, comissário de bordo há vinte anos, serve-lhes as bebidas e vai fazendo conversa, enquanto as colunas debitam indie rock. “Abrimos com a intenção de ser um bar virado para o gin e os cocktails”, explica, mostrando a carta com uma razoável variedade de gins e preços a oscilar entre os cinco e os 12 euros.
Em redor do renovado mercado de Arroios, ali a dois passos, há tentativas bem-intencionadas de animar esta zona, de a tornar em algo mais do que um bairro residencial longe dos bons restaurantes, dos bons bares, da movida lisboeta. O Vlada Lounge faz parte desse movimento. Abriu há um ano e o sucesso tem-se construído passo a passo. “Aqui não havia nada, pensámos que podia ser uma boa aposta. Eu lembro-me de quando era miúdo e não tinha sítio nenhum para ir, se quisesse sair tinha de ir para o Bairro Alto”, conta Joaquim.
Se é verdade que aparecem muitos turistas e estudantes de intercâmbio, também é certo que a estratégia dos dois sócios tem convencido muitos portugueses a entrar. Além de aplicar a experiência acumulada a bordo dos aviões nos cocktails que prepara, Joaquim é igualmente responsável pela música. “Sou eu que faço as playlists. Isso dá-me um grande gozo.” E até já deu uma história para contar para sempre. “Quando eu estava a fazer a playlist reparei que tinha muita coisa dos Pavement. Então mandei uma mensagem ao Bob Nastanovich [vocalista da banda], que é um tipo muito acessível, e ele publicou sobre nós no Facebook. Foi um orgulho enorme.”
O Vlada ainda nem tinha aberto portas. Ainda nem sequer era certo que a estatueta dourada de uma mulher, colocada do lado direito do balcão, ia ficar por lá. Foi um ucraniano chamado Vladimir que a trouxe quando andava a ajudar nas montagens. Dizia que era a mulher dele e que se chamava Vlada. “Eu achava aquilo muito piroso”, comenta Joaquim Pires. Mas a estatueta ficou. “Ela ficou ali e achei piada, os objectos encontram os seus sítios. Ficou ali e agora governa este espaço.”
Tal como com a Vlada, muitos objectos foram encontrando o seu sítio um pouco por acaso. Na sala inicial nota-se logo o gosto pelo antigo: há bustos, retratos e gravuras vitorianas. Nas outras divisões, mais retratos, candeeiros, cadeiras de vários géneros, sofás — um ambiente de luxo discreto, propício àquilo que Joaquim diz ser um dos desejos de futuro: ter exposições, eventos culturais, pequenos concertos.
- Nome
- Vlada Lounge
- Local
- Lisboa, São Jorge de Arroios, Rua Rosa Damasceno, 8
- Telefone
- 962 995 382
- Horarios
- Domingo, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 18:00 às 02:00
Sexta-feira e Sábado das 18:00 às 03:00