Fugas - restaurantes e bares

  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda

O Coleguinha continua a dar cartas

Por José Augusto Moreira ,

Na zona sul de Espinho, onde domina o espírito vareiro e os aromas a peixe e a mar, a Casa Locas está em crescente afirmação. Pelos peixes frescos grelhados, mas também pela muito competente cozinha de mar, em contexto simples e familiar. Não há luxos, mas também nada falta de essencial.

A casa de andar único, o longo toldo que a abraça e a brisa quente poderiam, à distância, indicar um qualquer destino tropical, mas logo o cheiro a sardinha assada, o linguarejar e as brasas incandescentes desfazem qualquer dúvida.

Estamos à beira-mar, na zona sul de Espinho, onde o espírito vareiro, o aroma a peixe e o ambiente quente das gentes do mar criam uma atmosfera inconfundível. Já ali não mora a lota, cujas antigas instalações acolhem agora o Museu Municipal, mas a envolvência e a tipicidade permanecem intactas.

Não está sozinha a Casa Locas neste enquadramento, se bem que o ritmo em redor dos fogareiros, a gente à espera e o ar satisfeito da clientela sentada nas mesas que ocupam os passeios, logo deixam claro que este é o lugar certo para peixes nas brasas e outras comidas de gentes do mar.

Isso mesmo o mostra o quadro de lousa, pendurado na parede exterior, indicando as espécies disponíveis no dia, cuja lista termina com a indicação de que haverá ainda “+ outras especialidades”. Não há ementa nesta casa modesta, de contexto familiar, amigável e cordial, pelo menos por estes dias em que a procura é muita e a clientela mais que duplica com a disponibilidade que oferecem as mesas colocadas a par deste prédio de esquina. Os dois grelhadores a meio, como que a sinalizar uma e outra das ruas, e também uma porta de acesso voltada a cada uma das artérias, ajudam a acentuar a necessidade de despacho.

Zé Manel, “o Coleguinha”, é um velho marinheiro destas andanças. Deixou marca em casas de fama, como o Chafarrica (Espinho) ou a Chalandra (Matosinhos), mas desde o início do ano passado que completou o círculo e voltou às origens. Não só no contexto e envolvente da vida piscatória, mas com a cozinha simples das gentes do mar.

Uma ideia, ou desejo, que pode ser de muitos, mas que só é possível com o saber e arte de gente do meio, como é o caso da mulher, Maria Helena. E, neste caso, bem se pode dizer que se a casa é do Zé Manel, a arte da cozinha é dela e aí é que está segredo.

Mesmo em coisas simples, como as saladas ou lulinhas grelhadas que chegam à mesa com aquele tudo-nada que faz a diferença. E é, precisamente, nessa sabedoria das coisas simples que está a diferença da Casa Locas. Não se destaca pelo serviço, pela variedade de oferta, pelas instalações ou carta de vinhos. É antes pela cozinha sóbria e tratamento equilibrado dos produtos que cativa e convence.

E nem é preciso evocar as soberbas caldeirada, a raia alhada ou a lagosta fingida (com tamboril), que noutras ocasiões tivemos já oportunidade de saborear. Bastam as amêijoas, percebes ou camarão da costa e a forma saborosa como esta cozinha respeita a sua frescura e condição marinha para se aquilatar da qualidade da arte. Coisas simples, que são, afinal, aquelas que requerem saber e conhecimento.

Verdadeira especialidade é a sopa de peixe (2,50€), com base num refogado intenso que se envolve com as carnes dos peixes desfiadas, berbigão e camarão, sem lhes dominar os sabores. É caldo e é peixe e estão lá todos os sabores. E até algum picante que os espevita.

Desta vez saborearam-se as sardinhas assadas, que já as vai havendo de qualidade capaz de satisfazer. Uma meia-dúzia de cinco (7,50€), as que sobraram da soberba devoradora da clientela. Tamanho médio, gordura satisfatória (mesmo sem escorrer, ainda, para o pão), com a pele a soltar-se e sabor a mar e sal. Bem boas!

Preciosas as lulas (9€), igualmente medianas, crocantes e húmidas, com um molho onde se pressentia um toque de malagueta e o aroma fresco dos coentros. Suculentas e saborosas, tal como o rodovalho (26€) que se seguiu, com as carnes alvas e húmidas a separarem-se da pele, mas com os sucos ainda agarrados à espinha. De mestre de culinária os legumes cozidos (ao vapor?) que complementavam as batatas a murro que são o acompanhamento quase universal.

Da oferta exposta no quadro do dia, destaque também para o bacalhau (25€/2pax) ou as caras do mesmo (10€), grelhado na brasa. Claro que há sempre o bife da praxe (12,50€), que não deverá ter lá muita procura.

Bem interessantes também as propostas doceiras para sobremesa, entre as quais se saborearam as rabanadas com recheio de amêndoa e ovo e uns deliciosos folhados com doce de chila. Agrado e aplauso generalizado.

A par das mesas exteriores, protegidas também por toldos laterais transparentes, a casa desenvolve-se para lá do balcão de entrada em duas saletas interiores, onde se acomodam à volta de 25 comensais. Paredes em azulejo, toalhas de tecido vermelho aos quadrados cobertas com toalhetes de papel e baixela a compor o quadro simples e popular.

Não há luxos, mas também nada falta de essencial, inclusive copos adequados à degustação vínica. A carta, sem que seja especialmente adequada à oferta de mar, permite algumas opções válidas, se bem que extremadas em preços. Um aspecto claramente a melhorar.

Pelo que é dado observar, esta nova casa do “Coleguinha” Zé Manel está em crescente afirmação, e não é difícil descortinar as razões. Neste período de tempo quente, a oferta parece concentrar-se nos peixes grelhados e nos mariscos decorrente das pescarias do dia-a-dia, pelo que para as tais “outras especialidades”, ou seja cozinhados de tacho e de maior elaboração será avisado encomendar previamente.

A boa notícia é que até ao final do Verão, pelo menos, não é preciso olhar para o calendário, já que Zé Manel e a família estão disponíveis para receber a clientela todos os dias da semana.

Nome
Casa Locas
Local
Espinho, Espinho, Avenida 8, nº 1481
Telefone
227 341 842
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 00:00
Observações
Estacionamento: abundante nas ruas envolventes Pagamento: numerário (não aceita cartões)
--%>