Ainda o Café Rivoli não era a “sala de estar” que Susana Peixoto quer oferecer à Baixa e já a urbanista, então estudante, fazia do terceiro piso do teatro municipal a sua própria “sala de estar”. “Costumava vir cá muitas vezes, tenho imensas fotografias aqui”, conta a actual responsável pelo espaço, passando os olhos pela sala, tão luminosamente emoldurada pelos grandes janelões com vista para a Praça D. João I. Estávamos então perto da viragem do milénio, altura “em que não havia quase nada no Porto”, e, mesmo tratando-se de uma cafetaria com serviços reduzidos, Susana era uma visita assídua: “Vinha cá à tarde, tomar café, ler, ficar. E sempre achei que era um desperdício gigante não se pegar nisto.”
Entretanto, como se sabe, a vida dá muitas voltas, mas às vezes parece que nos manda de volta para a casa de partida. Susana, hoje com 42 anos, foi para Aveiro, foi para Braga, regressou ao Porto. Dedicou-se ao urbanismo, sem nunca deixar de alimentar o “bichinho” da restauração com pequenos projectos ligados à alimentação, fundando por exemplo a Rubisco, uma marca de chutneys e compotas artesanais. Portanto, quando surgiu a oportunidade de gerir o espaço em conjunto com o teatro, não teve grandes dúvidas: afinal, o sonho podia deixar de o ser.
Concessionado a Susana, que agora se ocupa também do serviço no palco Understage e no Teatro Campo Alegre, o Café Rivoli reabriu a 28 de Abril com uma nova cara, depois de obras de remodelação com assinatura do atelier de arquitectura Cirurgias Urbanas. Do salão, com capacidade para mais de 60 pessoas, sobressaem as janelas, claro, que dão acesso à pequena varanda que percorre a fachada do magnífico edifício desenhado por Júlio José de Brito — localização ideal para (uns mais, outros menos) pensativos cigarros. Os antigos clientes podem recordar-se das mesas e das cadeiras, mas não dos sofás espraiados ou do menu na parede que faz lembrar as cafetarias de outras Europas. E lá, caractere a caractere, estão os preços, acessíveis, que não deixam enganar: este não é, nem quer ser, um café “institucional”. “A ideia é ser um espaço de cidade, público, em que se possa estar.”
Valorizar os pequenos produtores
O primeiro propósito do Café Rivoli é, lá está, apoiar o teatro que o aloja e toda a sua programação — antes de um espectáculo, o visitante pode subir e ter uma refeição leve. Mas não só, até porque está aberto de dia à noite. “Pode trazer mais público ao teatro”, diz Susana, “e do teatro para o café”. Há quem almoce aqui, há quem trabalhe (há wifi e tomadas com fartura), há quem beba um copo ao final do dia ou à noite, há quem jante uma sopa. “Gostava que se tornasse um espaço de vivência natural, democrático, com um valor justo.” Para visitantes e para fornecedores, já que o conceito passa por uma clara aposta na produção local. A carta de vinhos é curta e só conta com pequenos produtores (um copo do “vinho da semana” custa 2,50€). Os chás biológicos são da Casa da Penalva. A cerveja de pressão é da cidade, a artesanal Sovina (2€). O café é da Vernazza (80 cêntimos) de moagem artesanal. A pastelaria (irresistível) tem assinatura da Baronesa. “Porque faz sentido valorizar aquilo que temos, ajudar os produtores mais pequenos. Também é um veículo para mostrar o que se faz no Porto e no país.” E há abertura para isso. A ementa é sazonal e inclui tostas (o ex-líbris é a de salmão com abacate por 4,50€), saladas, bruschetas, foccacias, tábuas de queijos e enchidos. À semana, por 6,50€, há sempre um menu de almoço com sopa, prato do dia (carne/peixe ou vegetariano) e um refresco, que pisca o olho à gastronomia do mundo: moqueca de camarão, caril de lentilhas e coelho acompanhado com naam foram algumas das últimas opções.
- Nome
- Café Rivoli
- Local
- Porto, Santo Ildefonso, Praça D. João I
- Telefone
- 911 119 862
- Horarios
- Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 00:00
- Website
- www.facebook.com/Café-Rivoli-1434601263259074/