Também se passou pelo Ancoradouro (258722477), em Moledo; o mau tempo, impeditivo da pesca artesanal que fornece a casa em exclusivo, remeteu-nos para a carne e os enchidos transmontanos - com destaque para as alheiras -, grelhados; tudo de grande qualidade, com tempero de simpatia. Finalmente, perfeito, como é habitual, o almoço no São Gião (253561853), em Moreira de Cónegos: bacalhau assado nas brasas, pregado cozinhado em caldo apurado, cabrito assado no forno, tripas guisadas com feijão, sobremesas doces, entre elas os charutinhos recheados com creme e o pudim do Abade de Priscos, serviço de grande nível.
Já próximo da Páscoa, uma ida ao restaurante Manuel Azinheirinha (266857504), em Santiago do Escoural, para comer um ensopado de borrego de sabor imaculado: ponto de cozedura perfeito, borreguinho gordo e sem ponta de cheiro e sabor a borregum, fatias de pão de trigo fatiadas fininhas abeberadas no caldo fino e oloroso, este é um daqueles cozinhados que nos ficam na memória.
Embora num registo culinário muito diferente dos exemplos acima, também agradou muito um jantar recente no Gspot, um pequeno restaurante de 22 lugares e cozinha exígua, aberto nas imediações da Biblioteca de Sintra em Março de 2009, por Manuel Moreira, conhecido e competente escanção, que já teve a seu cargo a gestão de vinhos de restaurantes como Gemelli, em Lisboa, Fortaleza do Guincho ou 100 Maneiras, em Cascais. Os seus companheiros neste projecto são os jovens e, pelo que se provou, talentosos chefes de cozinha André Simões e João Sá, que também estiveram no 100 Maneiras.
O Gspot é um restaurante que tenta, com garbo, com uma cozinha imaginativa e muito saborosa, confeccionada com produtos comuns, responder a esta época de crise. Os menus, quer o "do dia" (almoços), quer o "de degustação" (jantares), mudam todas as semanas. Um exemplo do primeiro: "couvert" (0,90 euros, pão e manteiga); creme de alho francês com pernil de porco fumado (3 euros); salada de alfaces com requeijão e frutos secos (4,50 euros); peixe espada preto com arroz de camarão (7,50 euros); fricassé de frango com folhado de cogumelos (7,50 euros); manga salteada com especiarias e sorvet de tangerina (3,50 euros). O "menu completo", com "entrada ou sopa, peixe ou carne ou sobremesa", que inclui "couvert e uma bebida (água 0,25 l/refrigerante/cerveja/copo de vinho e café)", custa 13 euros; o "menu simples" (entrada e prato principal ou prato principal e sobremesa), que "inclui couvert e uma bebida" e café, custa 10 euros; a "sugestão de vinho a copo", quer branco, quer tinto, custa 3 euros cada.
Aos jantares há um "menu de degustação" a 27 euros, que se propõe "ser o testemunho" do "conceito, ideias e criatividade" da casa. Um exemplo: "Couvert"; "amuse bouche"; "Choco com tinta ou sem tinta?"; "Bacalhau confitado, com creme de alho francês e espargos"; "Peito de pato com compota de laranja e perna em empada trufada"; "Manga, mascarpone e tangerina"; e "mignardises". Em alternativa ao menu de degustação, há uma pequena ementa. No dia em que por lá passei, era assim: "Couvert" 1 euro, selecção de pão, manteiga e azeite); Entradas: Carpaccio de vitela, 7 euros; sopa do dia, 5 euros. Peixe: tagliatelle com camarão, 16 euros; Carne: bife de novilho salteado, sortido de cogumelos e batata assada com queijo da Serra, 18 euros; Sobremesa: bolo de chocolate com frutos vermelhos e gelado de nata, 5 euros. Os menus rodam todas as semanas: o dos almoços habitualmente às 3ªs feiras; o dos jantares às 5ªs.
Aos almoços, explicou-me Manuel Moreira, que conheço, o Gspot quer "ser competitivo" não só no preço, mas também no tempo de duração da refeição, a qual, com entrada, prato, bebida e café, demorará 30 a 40 minutos. Pretende-se também fidelizar os que escolhem o Gspot através de um "cartão de cliente". A carta de vinhos é pequena e bem escolhida, esforçando-se Manuel Moreira no encontro de vinhos portugueses com boa relação qualidade/preço. Para dias mais abonados ou festivos há uma selecção "prestige" com três vinhos brancos e 11 tintos portugueses dos mais famosos.
Algumas notas sobre as provas do "menu de degustação" acima descrito. O "amuse bouche" foi um feliz e saboroso crepe de legumes de massa estaladiça recheado com tirinhas de legumes e fiapos de carne de sapateira; o "choco com tinta ou sem tinta?" é uma criação bem imaginada e bem cozinhada: os tentáculos confitados em azeite, servidos cobertos com uma fatia de "copa" de Parma (um enchido feito com carne da cabeça de lombo de porco); o corpo salteado, servido sobre melão e enfeitado com um "ar" de tinta do choco, conjunto catita, no qual os cozinheiros exploram as diferentes texturas dos produtos; o bacalhau confitado, feito com o nosso bacalhau salgado e seco, apresentou-se perfeito: bem demolhado, gelatinoso, bem cozinhado e em boa companhia; o pato, peito fatiado, pele bem assada, interior rosado, marmelade de laranja para combater a gordura; e a perna estufada, desfiada e bem temperada, conjunto escondido uma empada de massa fina e bem cozida, também agradou muito. A sobremesa proporcionou aquilo que se esperava dela: sabores com algum exotismo e muita frescura. Bebeu-se um belíssimo branco de mesa madeirense, o Primeira Paixão Verdelho, colheita de 2008 (26 euros), da dupla de enólogos Francisco Albuquerque e Rui Reguinga; e o tinto Quinta de Baixo 2004, um Baga civilizado bairradino. O serviço, a cargo de Manuel Moreira, situa-se ao bom nível da cozinha. Parece ter condições para singrar este Gspot. Sintra tem mais uma razão motivadora para uma visita.
- Nome
- Gspot
- Local
- Sintra, São Pedro de Penaferrim, Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, 12A/B
- Telefone
- 927508027
- Horarios
- Terça a Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
- Website
- http://www.g-spot-gastronomia.com
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Não