Fugas - restaurantes e bares

Fernando Veludo/Nfactos

Talento e arte na escola de sabores

Por José Augusto Moreira ,

Nem só pelos preços o restaurante do hotel de aplicação da Escola de Hotelaria do Porto, o The Artist Bistrô, é uma agradável surpresa. Ambiente elegante e acolhedor, nível gastronómico e a alegria de olhar para os alunos e ver promessas de futuro para a restauração.

Oaustero e amplo edifício da Escola Artística de Soares dos Reis, no centro do Porto, acolheu durante largas décadas alunos vocacionados para a área das artes, até que nos últimos tempos foi adaptado e recuperado pela Parque Escolar para fomentar a prática de outras actividades. Foi para ali que há três anos se mudou a Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, beneficiando de instalações quase modelares para a formação dos futuros profissionais. 

A par do restaurante pedagógico (aberto ao público para almoço mas encerrado neste período de férias escolares) onde os alunos praticam em contexto real, o edifício dispõe também, na ala nascente, de um hotel de aplicação, o The Artist Porto Hotel & Bistrô, que funciona desde Abril e, ao que parece, com muito boa nota da clientela, sobretudo estrangeira, que tem garantido ocupação quase plena. 

É logo na entrada do hotel e com face para a rua que está o restaurante, o The Artist Bistrô, nome cujo anglicismo não esconde a óbvia ligação às antigas funções do edifício. A própria decoração do espaço preserva ainda as antigas vitrinas da escola, com pautas de notas e tudo, além de quadros e esculturas que fazem parte do valioso espólio da Soares dos Reis.

Quanto ao restaurante, que é o que para aqui interessa, há que dizer que o visitámos numa primeira ocasião apenas para conhecer, mas logo ficou a vontade de voltar com propósito mais analítico, dada a qualidade, aprumo, rigor e consistência com que fomos servidos. Tudo por conta dos alunos da escola de hotelaria, cujas equipas, ao que nos informaram, rodam em turnos de duas semanas e são enquadradas apenas por um profissional.

Outra das especificidades está no facto de não haver carta ou menu, limitando-se a escolha do cliente à opção por uma refeição com cinco, sete ou nove momentos e a indicação da preferência por peixe ou carne para o prato final. Os preços são de 20, 25 ou 30 euros consoante o número pratos, bebidas e sobremesas não incluídas. 

É claro que há a opção por pratos vegetarianos e o cliente é também perguntado sobre produtos com os quais tenha alguma incompatibilidade ou que não tolere. A ideia é que as refeições resultem de produtos do dia e que os alunos proponham composições específicas segundo aquilo que encontram no mercado.

Numa das ocasiões optámos pelo menu mais curto e na outra a opção foi para os sete momentos. Um delicado consommé, que designaram como “caldo com suspensão de legumes”, e o “creme de couve-flor com migalhas de presunto” foram servidos de entrada. Além do rigor de confecção, o serviço elegante e delicado que leva logo as expectativas para um patamar superior. 

Queijo de cabra como segundo momento em ambas as ocasiões. Mais conseguido o primeiro, em composição elegante com beringela, azeite e balsâmico; mais comum o segundo, com o queijo panado a acompanhar com pimentinhos Padron e couve roxa. 

Interessantes também a “bolsa de galinha” (trouxa em massa com picado de galinha e frutos secos) e a “espetada de tâmaras, bacon e espargos verdes”, a mostrar que nem sempre é preciso recorrer a produtos caros e raros para obter boas e elegantes combinações. 

Arte apurada
Na passagem para os pratos de mais substância, foram servidos um “atum flamejado com ervas e ar [espuma] de soja” e o tradicional “bacalhau à Brás”. Os pratos mais conseguidos em ambos os casos. E nem só pelo apuro de confecção e sabores. Também pelo empratamento criativo, fino e harmonioso, a deixar evidente que por detrás do contexto de aprendizagem há um chef cozinheiro com talento e arte apurada. Chama-se Rui Rodrigues e o melhor é estar com atenção ao que fará nos próximos tempos. É também ainda um jovem, ao que apurámos com percurso nos hotéis do universo Sonae (dona do PÚBLICO). Do Porto Palácio para Tróia, onde o recrutaram para este projecto de contexto formativo. Imagina-se que os alunos devem agradecer.

Nos peixes, como pratos finais, foram servidos um “naco de cherne com molho de maracujá e arroz de cogumelos”, tudo de confecção irrepreensível, e uma interessante “açorda e peixe”, numa espécie de soufflé de efeito visual muito interessante. Nas carnes, “lombo de porco” e “naco de vitela”, ambos com o complemento de cogumelos e batata rústica. 

Não são muitas as opções para sobremesa, mas destaca-se o quinteto para degustação de gelados, que em ambas as ocasiões foi a opção. Apresentados como uma espécie de flor, com pétalas de diferentes cores e sabores: pistácio com wasabi, ovo, lima com Porto, café e toffee, gengibre e baunilha, caipirinha, etc.

Num contexto elegante e acolhedor, o desempenho dos alunos acaba até por funcionar como uma mais-valia face ao seu desempenho jovial, simpático e eficaz. Ao prazer da refeição, junta-se a satisfação de ver a eficácia da formação e a esperança de que uma nova geração leve profissionalismo, criatividade e bom gosto a um sector que disso há muito anda carecido.

Quanto à cozinha, serviço e ambiente, este Bistrô bem honra o passado artístico do edifício. Reparos apenas para o sector dos vinhos, que claramente não acompanha o nível restante. É certo que os preços teriam que ser outros, mas justificava-se uma proposta de vinhos ajustados à degustação. Até porque o cliente, que não sabe o que vai comer, está impedido de fazer escolhas adequadas. Também os alunos parecem pouco à vontade nesta matéria.

A carta é abrangente e os preços sensatos, com oferta a copo, mas falta a indicação do estilo de vinho e de colheitas. E o nível culinário exige esse critério.

Já que falamos de acertos, parece também anacrónico que nas instalações sanitárias não haja toalhas ou toalhetes. Apenas a trivial máquina com “20 cm de toalha limpa e seca” para puxar, ao estilo do mais vulgar snack-bar. Não casa com o contexto.

Pelo estilo e ambiente, não parece que este The Artist Bistrô seja lugar para multidões. No entanto, como de duas tentativas em dias de fim-de-semana acabámos por voltar para trás com lotação esgotada, sempre será prudente a reserva antecipada. 

A opção pelas refeições com cinco, sete ou nove degustações (20, 25 ou 30 euros) funciona apenas para o jantar. Para o almoço, há um “menu do dia”, por 10 euros, que inclui prato principal, sopa ou sobremesa, bebida e café. Todos os dias há opção para carne, peixe ou vegetariano e as ementas são conhecidas para toda a semana.

Nome
The Artist Bistrô
Local
Porto, Santo Ildefonso, Rua Firmeza, 49
Telefone
220132700
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 14:30 e das 19:30 às 22:30
Website
http://www.theartistporto.pt/
Cozinha
Internacional
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