Tudo isto me vem à memória a propósito de um almoço recente no restaurante Tempero de Mar, inaugurado em Março último, na emblemática Avenida do Mar, da piscosa Peniche, cujo porto de pesca é dos mais importantes do país. Nesta rua penichense há uma grande concentração de restaurantes, cuja oferta é maioritariamente de peixes e de mariscos. Em muitos dos seus mostruários vêem-se muitas postas de salmão e outros que denunciam a sua condição de peixes de viveiro. Por isso, este Tempero de Mar constituiu uma bela surpresa. A sua ementa, maioritariamente constituída por pratos de peixe e mariscos, não tem lugar para espécimes de viveiro. Mais: dá o protagonismo a peixes do mar, que geralmente não o têm. Por outro lado, os grelhados são um método culinário ausente, o que se saúda por ser cada vez mais dominante, pondo em causa caldeiradas e assados de forno, por exemplo.
Das sete entradas da actual carta do Tempero de Mar cinco são de peixes e de mariscos: Assim: "creme de lagosta suada à moda de Peniche com a cauda fatiada com croutons e alho-porro" (8 euros), mais um caldo apaladado e sem farinha, umas rodelinhas de uma lagosta honesta, bem bom; "salada de raia cozida em azeite, feijão verde, tomate, batata e azeitona" (4,75 euros), peixe no ponto, sem pele, servido em boa companhia; "sardinha num pastel estaladiço e albardada, sardinha de conserva em paté com ovos" (4 euros), excelente realização, com um filete albardado e frito, outro envolvido em massa filo estaladiça e uma quenelle de paté de sardinha conserveira, uma homenagem ao peixe dos nossos Santos Populares; finalmente, outro petisco recomendável: "cavala levemente fumada e assada com pingos de soja, com salada de algas marinadas e rúcula" (4,30 euros), dispensável a malfadada rúcula, tudo o resto muito bem e muito bom. Das entradas ficaram por provar: "simplesmente a sapateira desfiada em recheio para barrar nas torradas de pão de forno a lenha" (7,50 euros); a "sopa de rabo de boi com couve coração, massinhas ''cheirinho'' de vinho do Porto e hortelã" (4,60 euros); e "secretos de porco preto salteados com pingos de limão e carolo de milho com amêijoas à Bulhão Pato" (5 euros).
Nos pratos principais (sete de peixes e mariscos, três de carne e quatro vegetarianos), elegeram-se três de peixe: "bochechas de tamboril e camarões tigre fritos com alho, açorda no forno e espinafres salteados" (17,70 euros), conjunto bem imaginado e bem cozinhado com a açorda, confeccionada num caldo de peixe e marisco, a ser servida num tachinho, quase com textura de soufllé, muito boa; "cabaço abafado em sabores mouriscos e algas, guisado de batata doce, percebes e poejo" (12,50 euros), sendo que o cabaço é um peixe da família do ruivo, de carne branca e firme, condimentado de forma discreta com raz-al-anout, uma especiaria norte-africana muito perfumada e delicada, a marcar o prato, no qual a batata doce também se salienta; e ainda a "abrótea em caldeirada de mexilhão, feijocas, couve coração numa feijoada" (13,50 euros), o peixe servido em filete alto, muito fresco e firme, provavelmente por ter sido "arrepiado" com sal, na só aparentemente estranha companhia de feijoada, cujo aroma foi levemente espevitado por cominhos. Nos peixes há ainda filetes de peixe-porco no forno, camarão tigre, pargo, raia, ruivo e pata-roxa numa caldeirada, posta de bacalhau assada sobre roupa velha e pargo assado no forno à portuguesa. Nas carnes há novilho, cachaço de porco preto e perna de pato assada.
Os doces enfileiram na mesma linha de cozinha criativa, inspirada em receitas regionais. E agradaram muito a pera rocha cheia de leite creme de cabra e o pé emborrachado com gelado de hortelã" (4 euros); "bolo abóbora com espuma de requeijão crocante de amêndoas torradas" (4,25 euros); "pão-de-ló com bombom de ginja e gelado de café d''Avó "Pena" (4 euros); e "torta de castanhas com creme de jeropiga, gelado de erva doce" (4 euros). Beberam-se, de uma carta pequenina, mas cujos preços são de grande sensatez, dois brancos: o Quinta da Alorna Verdelho 2009 (12,70 euros); e o Luís Pato Vinhas Velhas 2008 (14,50 euros), belos vinhos, mais fresco e frutado o primeiro, mais "sério" o segundo. O serviço é profissional e gentil. O chefe executivo é Ricardo Cera, que estava ausente, mas que tem no subchefe de cozinha Marcos Silva um substituto à altura. Estão de parabéns, mais Carlos Cera, irmão de Ricardo, gerente. Em Peniche não há muitos restaurantes que mereçam a deslocação. Este Tempero de Mar junta-se ao rol.
- Nome
- Tempero de Mar
- Local
- Peniche, São Pedro, Av. do Mar, 30/32
- Telefone
- 262185545
- Horarios
- Terça a Domingo das 12:30 às 14:30 e das 19:30 às 22:30
- Website
- http://www.temperodemar.com
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Peixe e Marisco
- Espaço para fumadores
- Não