Fugas - restaurantes e bares

  • Rui Farinha/nFactos
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À sombra da ramada e dos cozinhados da patroa

Por Pedro Garcias ,

O estilo moderno e bem posto não esconde as origens de casa de petiscos e comidas populares que lhe deram fama e proveito. Na Casa da Ramada (Póvoa de Varzim, bem perto de Vila do Conde), mantêm-se a substância e os sabores de uma cozinha com tradições e essa é a essência do restaurante.

É encostado aos centenários arcos de granito que outrora levavam a água ao imponente Convento de Santa Clara, em Vila do Conde, que encontramos a Casa da Ramada, um restaurante de vestes modernas mas de essência profundamente tradicional. 

O nome, como logo salta à vista, está associado à frondosa ramada de uvas americanas, que pelo tempo quente protege do sol a esplanada e o amplo terraço fronteiro. Uma longa mesa de pedra e respectivos bancos, igualmente em granito de uma só peça, logo permitem imaginar o antigo ambiente de casa de petiscos. 

Assim foi, de facto, até há onze anos, altura em que as instalações foram alargadas e remodeladas, dando origem a um restaurante bem posto e de estilo contemporâneo. Mas isso é, digamos, apenas uma questão de estilo, já que na essência se trata de uma casa ao mais puro conceito tradicional, que vive da sua cozinha desde que ganhou fama e clientela com os petiscos da patroa.

Comanda agora a filha, Marília, mas Adélia Oliveira continua a orientar a cozinha. Às merendas de fim de tarde para operários esfaimados e patuscadas de fim-de-semana, deram lugar os almoços e jantares para uma clientela exuberante e endinheirada, tal como o denunciam os expositores repletos de vinhos caros e raros e respectivas caixas, que igualmente fazem parte da decoração da casa. 

À esplanada de Verão, juntam-se duas salas interiores. Uma mais ampla, iluminada e arejada, onde está o balcão de recepção e a zona de serviço, e outra, que acolhe fumadores, igualmente ampla, mas com menor intensidade de luz natural.

Está-se bem em ambas, com tectos altos, ambiente desafogado e capacidade para acolher à vontade uma meia centena de comensais em cada uma delas.

Alvas toalhas e guardanapos de algodão, baixela orientada apenas para a função, tal como o serviço de copos.

Sentamo-nos à mesa para duas refeições consecutivas, primeiro ao jantar e, depois, para o almoço do dia seguinte. Provaram-se as entradas (5€), um conjunto de três pratinhos, com chouriço do lombo avinhado, rissóis de carne e atum com cebola e vinagreta, com evidência para a qualidade dos produtos e acerto de sabores. Alheira (6€), grelhada na frigideira, na companhia de legumes salteados, igualmente do agrado geral.

Nos peixes, sardinhas assadas (8€ por meia dúzia), a largar a gordura e a libertarem-se da pele, como não podia deixar de ser em terras de pescadores, e também lulas e filetes de pescada. Pequeninos, de boa fritura e tempero, os filetes (6,50€ por meia dose) e ainda com o brilho das carnes a evidenciar a frescura. Também as lulinhas grelhadas (7€), tenras e suculentas, a honrar os pergaminhos marítimos. 

 

Sabores simples naturais

Realce-se, nos filetes, o acompanhamento com o vulgar arroz seco e batata frita, só que tudo com o sabor inconfundível das coisas simples e naturais e que marcam, afinal, as boas cozinhas. Batatas aos palitos irregulares de confecção caseira e fritura impecável e o arroz, branco e solto, com evidência do sabor e aromas únicos do nosso carolino. 

Já as lulas, que chegaram à mesa numa sertã de ferro fundido que vai aguentando as temperaturas, tinham como complemento dois tipos de batata, cozida e assada com pele e a murro. Uns gomos de ameixa vermelha (sem pele) e tomatinhos cereja davam não só ao prato vivacidade de cores mas também a componente ácida que equilibra e evidencia os sabores. 

Deu para perceber que a fama da casa está associada ao bacalhau frito com cebolada, mas disseram-nos que o que havia não seria o mais adequado à boa confecção do prato. Em alternativa, o bacalhau lascado (12,50€) esteve claramente à altura. A posta é assada na brasa e depois limpa de pele e espinhas. Vem à mesa na tal sertã de ferro fundindo, com rodelas grossas de batata cozida, azeite, um pouco de alho e rodelas de cebola translúcida. Por cima, ovo cozido aos gomos e boas azeitonas, compondo uma espécie de bacalhau à Gomes de Sá, só que assado na brasa em vez de escaldado. Belo prato!

Como carnes de substância, as opções foram para uma meia dose de feijoada (6,50€) e outra de vitela mendinha assada (8€) e outra de cozido à portuguesa (8,50€). Tripalhada, enchidos e feijão num puxado apetitoso (sabe bem mas o sal é mesmo um perigo para a saúde), e o naco da vitela a desligar-se da costela com capa de gordura a desfazer-se e a impregnar de sabor as batatinhas envolventes.Cozido de muito bom nível, com equilíbrio de carnes gordas e magras, costela, chispe, orelha, enchidos e legumes de evidente qualidade.

 

Merendas aos sábados

Mesmo com vestes de modernidade, a substância é de uma cozinha de tradição e com firmes âncoras nos produtos e no trabalho de cozinha. Essa é a essência da casa, que para não esquecer as origens propõe também uma lista de “merendas” para as tardes de sábado. Coisas como o bacalhau frito com cebolada, chispe cozido, rojões, papas de sarrabulho, pataniscas ou bacalhau esfiapado. Petiscos cujos preços oscilam entre os 0,50€ e os 11€.

Além das entradas, para os almoços e jantares há sempre peixes para grelhar, as sugestões do dia com quatro propostas e uma lista de “especialidades” que, além de alguns dos pratos provados, inclui bacalhau com batatas a murro (11,50/22€), lombo assado em forno a lenha (7/13€), rojões (7/13€), arroz de pato à antiga (7/13€), costelinhas de cordeiro (9,50/18€), costeletão na brasa (15/30€) ou picanha na pedra (19,80€). Anuncia-se ainda o arroz de frango pica no chão e, em doses duplas, há também o polvo, na brasa ou em filetes panados (28€) e o cabritinho assado em forno a lenha (29,90€). 

Bem menos popular é a carta de vinhos, que, a par de um lote de boas escolhas para quase todas as regiões, inclui coisas raras e caras e das mais diversas origens. Vinhos como o australiano Penfolds Granje 95 (420€) ou o famoso californiano Opus One de Robert Mondavi (375€), sem indicação de colheita, até icónicos chateaux bordaleses como Margaux, Haut Brion, Cheval Blanc e Rieussec, todos sem indicação de colheita e com preços a rondar os 500 euros. Por garrafa, claro!

Uma incongruência que se torna ainda mais evidente quando constatamos que não há critério para copos ou temperaturas, mesmo que sejam visíveis na sala os adequados armários para a guarda de vinhos. Um contexto que remete para as muitas histórias que se ouvem a propósito do consumo de vinhos de prestígio por algumas classes endinheiradas, mas que, pelos vistos, não será exclusivo das sociedades africanas.

Extravagâncias à parte, há boas opções para quase todas as regiões e com variedade de preços. Destaque para as propostas do Dão, Beiras e Bairrada, enquanto nos verdes não há praticamente nada, à excepção de um Alvarinho. Incompreensível para um restaurante da própria região!

Esqueçam-se as extravagâncias e o ar de modernidade, e temos uma casa de boas comidas, cozinha tradicional e consistente. Também para prevenir enganos, esclareça-se que, apesar de o endereço indicar a localização na Póvoa de Varzim, esta Casa da Ramada se situa bem próxima de Vila do Conde, junto ao estádio do Rio Ave e logo à saída da A28. Vindo da auto-estrada, é sair à direita logo na primeira rotunda e seguir as placas. Em sentido oposto, sair para a esquerda na rotunda de acesso ao estádio e seguir igualmente as placas, sempre sem perder de vista os arcos do centenário aqueduto.

Nome
Casa da Ramada
Local
Póvoa de Varzim, Argivai, Rua de Quintela, 786
Telefone
252624145
Horarios
Domingo, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 10:00 às 16:00 e das 18:00 às 23:00
Preço
20€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Sim
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