É sobretudo para saborear os filetes e o arroz de polvo que as pessoas continuam a encher a Casa Aleixo, junto à estação de Campanhã, no Porto. O popular restaurante anuncia uma cozinha "o mais genuína possível, com produtos de qualidade excelente, para que o cliente possa usufruir do seu sabor na sua essência, confeccionando da forma mais tradicional e real possível" - e esse é, de facto, o grande suporte para as décadas de sucesso que se têm acumulado. Tanto que a carta tem até já uma versão em japonês para acomodar a clientela que chega do país do sol nascente.
Fundado pelo galego que lhe deu o nome, o restaurante só se tornaria, no entanto, famoso e muito procurado depois de Ramiro Gonçalves e Maria Inês o terem tomado de trespasse. Estávamos em meados do século passado e todas as manhãs Ramiro ia à Póvoa de Varzim para escolher os melhores polvos e pescadas acabados de retirar das águas frias e salgadas do Atlântico, enquanto a mestria da mulher à frente dos fogões arrebatava o palato da clientela.
Apesar da idade avançada, D. Maria Inês continua ainda hoje a marcar presença diária, sendo que depois do desaparecimento do marido, já há mais de 30 anos, foram os filhos, Ramiro e Inês, a assumir a rédeas do negócio, o que mais tarde haveria de gerar atritos com a inclusão dos respectivos cônjuges.
Ramiro decidiu então afastar-se e criar um novo espaço. Mais moderno e elegante, chamou-lhe Pai Ramiro em homenagem ao progenitor, mas acabou por sucumbir face ao apelo das origens, regressando recentemente para a companhia da mãe Inês.
Na Casa Aleixo, Ramiro tem agora o apoio e companhia da filha Sara e percebe-se que, a par da mesma cozinha e das receitas de sempre, há coisas que despontam por detrás da tradição e peso do passado. Os filetes e o arroz de sempre, os mesmos fogões a lenha, o espaço e mobiliário, mas também um serviço mais atento e arejado, propostas gastronómicas mais abrangentes e cuidadas. Uma espécie de evolução na continuidade, que se alarga às carnes e sobremesas, ao serviço de copos e carta de vinhos, que claramente denuncia uma terceira vida na rica história da casa.
Casa cheia na passada segunda-feira, dia em que revisitámos o espaço e em que as mesas terão rodado três vezes na hora de almoço. É claro que há crise, mas é também uma verdade evidente que nem todos a sentem da mesma maneira.
Lá estavam alguns clientes japoneses (a carta deve dar mesmo muito jeito) e os inevitáveis filetes e arroz de polvo a chegarem a praticamente todas as mesas. Quase sedosos, a saber a mar e a desfazerem-se na boca, os de pescada (13€); macios tenros e saborosos, os de polvo (14,90€). Ambos na companhia do tradicional arroz de polvo seco e avermelhado.
Como entradas saborearam-se o polvo laminado (5€) e os bolinhos de bacalhau com salada de feijão-frade (7€). O primeiro com pimento, salsa e cebola picados e um vinagrinho fresco a acentuar a lógica de salada e a sobrepor-se ao sabor do cefalópode, enquanto as bolinhas de bacalhau se mostraram falhas de sabor ao dito (demasiado demolhado).
Para além dos filetes, igualmente primoroso o bacalhau à Gomes de Sá (12€), que era apresentado como "sugestão do dia", numa ementa que no capítulo piscícola incluía ainda peixe galo com açorda de ovas (15€) e bacalhau à moda de Braga (13€).
Entre as carnes, as propostas passavam por vitela (15,50€) e lombo de porco (13,50€), assados "em forno de lenha", o último com castanhas; costeleta (13,50€) ou bife (19,50€) com batata frita à rodela; e posta de vitela à mirandesa com batata a murro (14€). Provou-se a última, macia suculenta e saborosa, além da atraente cor rosada a evidenciar a correcta execução culinária.
Da alargada lista de sobremesas provaram-se apenas as inevitáveis rabanadas (3€) e aletria (4€), que, a par dos filetes, são os outros ícones da casa, entre uma oferta que inclui pudins (francês e Abade de Priscos), tartes (lima e frutos silvestres), cheesecake de goiaba e mousse de chocolate, além de queijos e fruta.
A juntar ao bacalhau à Gomes de Sá, a "sugestão do dia" poderá passar à segunda-feira também pelo bacalhau à Brás. Às terças há tripas à moda do Porto (12€); cozido à portuguesa (14€) às quartas; costela mendinha assada em fogão a lenha (13€) à quinta; e pataniscas de bacalhau com arroz de feijão (11€), ao almoço, e cabrito assado com arroz de miúdos (16€), ao jantar, às sextas. Nos sábados repetem-se o cabrito assado e as tripas à moda do Porto.
Mantendo a estrutura de sempre, a Casa Aleixo pode acolher à volta de 80 comensais, divididos pelo piso de entrada e cave. Continua também a ser na saleta de entrada/recepção que se têm que saborear os cafés e digestivos, uma imposição irritante mas que se percebe face à habitual necessidade de libertar mesas para clientes à espera.
A carta de vinhos é criteriosa e abrangente. Não sendo muito alongada, privilegia a relação qualidade/preço e permite boas opções para a generalidade das regiões nacionais.
Ramiro e Sara Oliveira comandam o serviço em ambiente de afável familiaridade, mantendo-se ainda o humor das designações que indicam os vários departamentos: Laboratório para a cozinha onde confeccionam os pratos; Sala de Operações, onde são dissecados e saboreados pelos comensais; Farmácia, onde se guardam os néctares vínicos; e Sala de Torturas, onde se toma o café e pagam as contas.
É claro que o essencial são sempre as comidas e respectivos sabores, mas a afabilidade e doses certas de humor e boa disposição são também condimentos importantes para uma boa refeição.
- Nome
- Casa Aleixo
- Local
- Porto, Campanhã, Rua da Estação, 216
- Telefone
- 225370462
- Horarios
- Segunda a Sábado das 12:00 às 14:30 e das 19:30 às 22:00
- Website
- http://restaurantecasaaleixo.pai.pt
- Preço
- 20€
- Cozinha
- Trad. Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Não