Fugas - restaurantes e bares

  • DR
    DR
  • DR
    DR

Aqui cozinha-se o fado da Invicta

Por Andreia Marques Pereira ,

Paredes com seis séculos, casa de fado com quatro décadas. É uma das mais emblemáticas da Invicta, já recebeu grandes nomes e continua com uma programação intensa, servida por um elenco de quatro elementos.

A idade das paredes conta-se em séculos - já vão seis - a tradição fadista conta-se em décadas - vai na quarta. O Mal Cozinhado, escondido numa praceta da Ribeira a ver o Douro passar, é uma das mais emblemáticas casas de fado no Porto, com espectaculo, de segunda a sábado. Os sons viajam pelas vielas de Lisboa ou por Coimbra graças a um elenco de quatro elementos. Amália apresentou-se aqui três vezes e o seu busto ocupa lugar de destaque - e pela plateia passaram, entre outros, o príncipe Eduardo de Inglaterra, Ayrton Sena e Simone Veil.

Percorremos a Ribeira numa noite invernosa, quase deserta, até à ruela que desemboca no rio. Um edifício de 600 anos alberga umas das casas de fado do Porto: o Mal Cozinhado, cave na penumbra no fundo de uma escadaria de madeira. O proprietário, José Martinho, tinha avisado: o Inverno é época baixa e à semana mais baixa é.

Mas é numa noite de semana que entramos ao som de fado de Coimbra - "temos os dois estilos", esclarece-nos, "o turista apercebe-se da diferença", acrescentará o filho, Luís Miguel. Valdemar Vigário está na guitarra e na voz, João Moutinho acompanha à viola para uma sala - que são duas, graníticas, divididas por arcos, com traves de madeira, busto negro com xaile, "D. Amália" permanece na casa onde cantou três vezes - com duas mesas ocupadas. Em breve serão três.

Todas por estrangeiros: um argentino solitário, uma família brasileira e um grupo de espanhóis. "98 por cento dos nossos clientes são turistas", esclare José Martinho, numa cidade que "tem pouca tradição de fado". Tradição tem o Mal Cozinhado: em 32 anos, por aqui passaram Simone Veil, Ayrton Senna, o príncipe Eduardo de Inglaterra, chefes de Estado e de governo, entre outros. É o privilégio de ser "sui generis" - "as pessoas vão à net e gostam do visual" - e de ser considerada de utilidade e relevância turística pela Secretaria de Estado do Turismo - a autarquia assegura que convidados oficiais são para ali encaminhados, o mesmo com hotéis e postos de turismo.

Damian Russo chegou pela internet. "Estive à procura e não há muitos locais para fado". De Buenos Aires para o Porto, via Madrid, o fado teria de fazer parte do seu roteiro. "Foi uma das coisas que me inspirou para vir a Portugal" - com Fernando Pessoa. Neófito nestas andanças, portanto, e "encantado" na casa de fado, ainda que à chegada estivesse sozinho na sala.

Sozinho está praticamente o Mal Cozinhado e José Martinho recorda o tempo em que o Porto tinha cerca de duas dezenas de casas de fado - "profissionais", ou seja, com fado todos os dias e elenco fixo (aqui, quatro). O filho fala do tempo em que as casas "competiam" para contratar os melhores fadistas (nos anos 80) e Rosinda Maria das "atracções de fim-de-semana". Agora, há "os fadistas de bastidores": "Somos artistas não conhecidas do grande público", explica Rosinda, que há 22 anos, quando veio para o Porto, cantava com Fernanda Baptista e Beatriz da Conceição. "Davam-me dicas".

Os tempos são outros, diz sem fatalismos Luís Miguel, e agora no Porto "há mais fado amador". Talvez porque o público nacional não perceba "nada de fado" - "Só gosta de gritar: ‘Há fadista!'", diz; e o pai já o havia referido: "Se há burburinho na casa é de portugueses, os estrangeiros respeitam mais".

Como é cantar para estrangeiros? Rosinda responde: "É óptimo. Até choram. Entendem tudo, não sei de que maneira..." "Talvez", reflecte, "pela maneira de expressar as palavras. O fado não é só voz, também é emoção."

Espanhóis, holandeses e brasileiros são os maiores fãs de fado, pela experiência de José Martinho. E Rosinda Maria sabe como chegar-lhes: "A Casa Portuguesa", "Lágrima" são trunfos. "Estranha Forma de Vida" que Cátia cantou ficou na cabeça dos valencianos, que chegaram tarde e saíram cedo. "Esta noite estava um ambiente frio, sem garra", dizem-nos já cá fora. Não se arrependem de ter vindo, mas não será para repetir.


Comer e beber

O preço médio do jantar é 30€ (consumo s/jantar: 15€). Entre as especialidades propostas pela casa: pasteis de bacalhau com arroz de feijão, bacalhau à lagareiro, posta à mirandes, vitela mindinha no forno.

Nome
Mal Cozinhado
Local
Porto, São Nicolau, R. do Outeirinho, 13
Telefone
222081319
Horarios
Segunda a Sábado das 20:30 às 01:00
Website
http://malcozinhado.home.sapo.pt
Preço
25€
Cozinha
Portuguesa
--%>