De carro é um pesadelo, de metro perde-se imensa coisa, a pé é uma canseira. A bicicleta acaba por ser o melhor meio de transporte para explorar o centro de Paris, por vezes até o mais rápido. Mas para quem não está familiarizado com o trânsito da cidade não resulta fácil, nem sequer constitui a opção mais cómoda. Andar em Paris de bicicleta? Sem dúvida, mas de preferência com conforto e na companhia de um guia que conheça a cidade como as suas próprias mãos. São essas justamente as premissas dos passeios organizados pela empresa Charms & Secrets, que quisemos experimentar.
Montámos uma bicicleta eléctrica, o que obviamente torna tudo muito mais confortável, e andámos durante quatro horas a explorar o centro da capital francesa, num percurso mais ou menos circular, que arrancou na Place Vendôme, prosseguiu para a Ópera, o Palais Royal e o Louvre, avançando depois para o Quartier Latin, até alcançar a Torre Eiffel e daí voltar ao ponto de partida. Atravessámos uma manifestação de rua, contornámos ruas congestionadas de trânsito, circulámos por sítios inacessíveis de carro. Andámos por bairros históricos e moradas mais ou menos consagradas, mas em todo o lado o que nos fez descobrir Olivier, o nosso guia em duas rodas, foi uma Paris insuspeita, desconhecida inclusive da maior parte dos parisienses.
Portas que se abrem
Numa cidade com a riqueza patrimonial de Paris o que não faltam são locais fascinantes que se mantêm em mãos privadas e não se abrem usualmente ao público, ou então que são públicos mas passam despercebidos e ninguém ou quase dá por eles. Ficam algumas dessas moradas, que aprendemos com Olivier.
Agência Central da Société Génerale
A Ópera está sitiada por bancos, entre os quais a sede da poderosa Société Génerale. As fachadas são típicas do Segundo Império, mas o que se descobre no interior é surpreendente: um gigantesco hall coberto por uma cúpula de esqueleto metálico e vidros policromados, no mais brilhante estilo Arte Nova de 1912. Desce-se um lanço de escadas e o espanto regressa, desta vez a propósito da sala dos cofres, ou melhor, da porta que dá acesso aos oito mil cofres distribuídos por quatro andares subterrâneos. Com um diâmetro exterior de 2,76 m, uma espessura de 40 cm e um peso de 18 toneladas, esta porta circular é um colosso que resume os desenvolvimentos da metalurgia em finais do século XIX, mas que impressiona tanto ou mais pelo apuro estético da sua cobertura de reflexos de ouro e prata. A Sala dos Cofres abre apenas ao público aquando das Jornadas do Património, mas o hall central da agência pode-se visitar nos horários usuais dos bancos.
Fraternidade do Santo Espírito
Já esta morada seria praticamente inacessível sem o nosso guia. Subimos uma rua do Quartier Latin (30, Rue Lhomond), tocamos a uma campainha minúscula, ao lado de um enorme portão de ferro e no momento seguinte somos admitidos num antigo convento. É ocupado pela Fraternidade (antes Congregação) do Santo Espírito, desde 1778, quando inaugurou o complexo desenhado por Charlgrin, o mesmo do Arco do Triunfo e das obras de St. Sulpice, das quais falaremos mais à frente. Inclui uma esplêndida capela barroca, mas também um refeitório e um pátio deliciosos, que parecem suspensos no tempo em que serviu de seminário de formação aos missionários coloniais.