Fugas - viagens

  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Nacho Doce/Reuters
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Nacho Doce/Reuters
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Joana Bourgard
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Joana Bourgard
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Nacho Doce/Reuters
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Paulo Pimenta

Continuação: página 2 de 5

Lazarim, um Carnaval de caretos, demónios e senhorinhas

Caretos e senhoritas são figuras extraordinárias e andar no meio delas (ou elas no meio de nós) oferece um lamiré da idade de prodígios que os deve ter visto nascer - aura de magia que, diga-se de passagem, parece já impressa no código genético das gentes de Lazarim. Mas não há um guião, nem qualquer espécie de encenação. Os mascarados esboçam poses aparatosas, podem ensaiar uns passos de dança, por vezes também saltam e correm. Pelo meio, grunhem e urram, quando não se exprimem só por gestos. É mais brincadeira que teatro - tudo improvisado e bastante inofensivo, a milhas certamente do cunho ameaçador/terrorista que estes festejos terão assumido noutras eras.

O Carnaval de Lazarim é, assim, ou no que aos caretos diz respeito, um espectáculo improvisado, onde as verdadeiras estrelas são as próprias máscaras, despidas de pintura, justamente para salientar a arte de quem as esculpiu. Ou talvez a chave resida no confronto do semblante empedernido das mascarronhas com os sonhos e pesadelos que deixam estampados nos rostos de uma assistência em boa parte jovem, culta e urbana - esse híbrido que poderemos classificar de Carnaval indie-rústico.


Artesanato de autor

As máscaras de Lazarim são uma arte de raiz tradicional, que hoje se pratica em versão livre, nada purista. Parece que existem desde sempre, quando na verdade o seu fabrico em madeira só se generalizou depois do 25 de Abril - antes eram mais comuns as máscaras em renda, ainda correntes entre a miudagem. E se antigamente o desenho das caretas respondia a um molde colectivo e anónimo, depois do 25 de Abril foram surgindo artesãos com um estilo singularizado, imediatamente reconhecível.

São três os artesãos principais actualmente em actividade em Lazarim. O decano é Afonso Castro, nascido em 1925. Foi pescador no Brasil, antes de regressar à terra onde se veio a especializar na realização de máscaras de inspiração bíblica e medieval (diabos, reis e rainhas), à mistura com caricaturas de figuras do poder por ele mal-amadas, como sejam os polícias florestais. Adão Almeida, nascido em 1962 e calceteiro de profissão, é quem faz máscaras de traço mais rústico ou mais próximas de uma tradição idealizada (sobretudo diabos e senhoritas) - pelo menos é quem vende mais para fora. Há depois o Costinha, nascido em 1973 e carpinteiro de profissão, mais conhecido pelas caricaturas de figuras públicas, frequentemente inspiradas nos bonecos do Contra-Informação, de António Guterres a Bin Laden, passando por Pinto da Costa.

Trata-se, portanto, de artesãos-autores, cada qual criando ou recriando a tradição à sua maneira, o que naturalmente depende da sua fantasia, mas também de quem sai à rua com as suas criações. O número de mascarados nas ruas é, aliás, uma incógnita em cada Entrudo, quando depende de quem encomenda novas caretas (Adão recebe 20 a 40 pedidos para esse efeito por ano), mas também de quem já as tem e decide vesti-las para os festejos. Neste plano também a tradição já não é o que era, e se antigamente todos os mascarados, fossem caretos, fossem senhoritas, eram desempenhados por homens da terra, nos últimos anos verifica-se uma percentagem cada vez maior de raparigas, que não vivem forçosamente em Lazarim. Isso mesmo se descobre ao cair do pano, no final da tarde do Entrudo, quando chega a altura da entrega dos prémios para as melhores máscaras e vestimentas artísticas. É quando se descobre que os disfarces de aparência mais masculina e assustadora foram, afinal, ostentados por garotas sorridentes.

--%>