Fugas - viagens

  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Nacho Doce/Reuters
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Nacho Doce/Reuters
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Joana Bourgard
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Joana Bourgard
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Nacho Doce/Reuters
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Luís Maio
  • Carnaval de Lazarim
    Carnaval de Lazarim Paulo Pimenta

Continuação: página 3 de 5

Lazarim, um Carnaval de caretos, demónios e senhorinhas

A maior participação das raparigas no jogo de máscaras veio de algum modo esbater a dualidade estabelecida entre o Entrudo e o domingo anterior. Fruto da renovação pós-25 de Abril, o Domingo Gordo em Lazarim passou a ter um programa meio abrasileirado, sobretudo dedicado à metade feminina da vila. Essa vertente brasileira/feminina ainda persiste, mas aparece agora integrada num programa temático, de desfile seguido de espectáculo, que integra ranchos folclóricos, grupos de bombos, gaiteiros e filarmónicas das vizinhanças. Será mais uma festa para consumo local, ao passo que o dia do Entrudo junta os nativos com os que vêm de fora.


Clubes da má-língua

O tema subjacente ao Carnaval de Lazarim é a rivalidade entre sexos, em versão pré-nupcial, estritamente arruaceira e quase sempre brejeira, sobretudo carregada de doses cavalares de indiscrição e maledicência. É a celebração dessa hostilidade, meio a sério, meio a brincar, entre os filhos de Lazarim que dá sentido ao Entrudo, alimenta as narrativas e os rituais que dominam o programa, inclusive justifica todo o corrupio que envolve caretos e senhoritas.

Ouvido o ribombar dos tambores e lançados os mascarados, representantes de rapazes e raparigas sobem à parte alta da vila a recolher o compadre e a comadre, bonecos antropomórficos em celofane e máscaras de plástico, que acabarão por ser queimados à maneira dos foguetes. Antes disso, porém, são levados em procissão até ao palco montado no Largo do Padrão, frente ao antigo Pelourinho, onde são lidos os respectivos testamentos por representantes dos dois sexos. Estão vestidos de preto a rigor e à antiga, como para um enterro - embora hoje também fizessem boa figura num casamento gótico.

O que eles vão fazer durante as duas horas seguintes é denunciar em praça pública as faltas (antes dizia-se pecados, agora diz-se defeitos) de cada um e de todos os moços e moças de Lazarim, desde que tenham mais de 12 anos de idade e estejam ainda por casar. Em tempo de desertificação do interior e de pirâmides invertidas, não haverá mais de dezena e meia de miúdos a frequentar o secundário, mas também se casam mais tarde e os limites do perímetro urbano são mais liberais. Os testamentos soam tão longos, porém, que quem vem de fora fica com a sensação que os mencionados são tantos ou mais que os habitantes todos da terra.

A tradição manda que os rapazes se reúnam em segredo para comporem o testamento das raparigas e elas façam o mesmo também em circuito fechado. Ou seja, estas redacções funcionam como convívios, em regime de clube exclusivo de rapazes e raparigas. Não admira, portanto, se levam semanas a ser ultimados, embora naturalmente a escrita seja acelerada nas vésperas da leitura. Cada defeito dá direito a herdar uma parcela de um burro ou de uma burra imaginária, escolha que concorda com a conotação de baixeza que se associa normalmente a estes animais. Por isso se chamam de "deixadas" estas quadras, onde se pretende pôr tudo a nu, sem pudor nem clemência, reciclando versos de testamentos antigos à mistura com observações penetrantes sobre os visados, de ano para ano mais carregadas de obscenidades.

--%>