Um excelente exemplo desse espírito de compromisso responde pelo nome de Jenners, os grande armazém de Princes Street, convertidos em casa encantada pela Alice de O Mágico. Inaugurados em finais do século XIX por uma família local, ganharam um novo patrão corporativo e foram remodelados a meio da década passada. Deixaram de ter produtos de fabrico próprio e as coberturas antigas foram removidas para deixar entrar mais luz. Mas as fachadas vitorianas foram magnificamente restauradas -incluindo o conjunto de elegantes Cariátides instaladas na fachada em 1893 e é hoje de novo a grande referência comercial da baixa de Edimburgo, pelo menos no capítulo do luxo clássico.
Do outro lado da rua, na mesma Princes Street, encontra-se o tão ou mais imponente hotel da gare de Waverley, coroado por um relógio no topo de uma torre de 58 metros de altura, muito ao estilo Big Ben. É outro ícone da cidade e uma presença recorrente no filme animado por Chomet. Primeiro chamado North British Hotel e agora Balmoral, o hotel centenário, também de factura vitoriana, foi recentemente renovado, perdendo no processo os seus belíssimos balcões em pedra. Uma perda lamentável, sem dúvida, mas que acaba por ser um mal menor, sobretudo quando tantos grandes hotéis de gare foram demolidos por essa Europa fora. Hoje mesmo entra-se no Balmoral, ocupa-se uma mesa no seu fabuloso salão de chá e isso chega para nos sentirmos transportados para outra época -o tipo de efeito mágico que fez o realizador francês escolher Edimburgo para capital da sua rêverie.
A Fugas viajou a convite do Turismo Britânico
Contexto: De Tati a Chomet
Em Les Triplettes de Belleville havia uma cena em que os personagens, a mãe coxa e o filho ciclista, estão a ver televisão no quarto. Sylvain Chomet achou que seria divertido pô-los a ver Jour de Fête de Jacques Tati. O seu produtor pediu autorização a Sophie Tatischeff, única herdeira legal, e enviou-lhe desenhos do filme em construção.
Sophie gostou tanto que não apenas deu o seu assentimento para a citação de Jour de Fête, como ainda propôs a Chomet realizar o Film Tati Nº4. Tati teria escrito a história do mágico como uma prenda para Sophie, para a compensar do fraco pai que foi para ela, ou aliviar a culpa que sentia por ter passado mais tempo a trabalhar que a ajudá-la a crescer. Entretanto, o realizador estava em Montreal e Sophie em Paris. Ficaram de se encontrar, mas ela morreu em 2001, dois anos antes da estreia das Triplettes em Cannes.
Assegurado o financiamento da distribuidora francesa Pathé, o cineasta mudou-se então com a família para New Brewick, estância balnear a meia hora de comboio da capital escocesa, Durante cinco anos, ia e vinha todos os dias a Edimburgo, onde montou uma produtora por cima de um pub de George Street, uma das ruas mais emblemáticas da New Town.
A produtora, chamada Django Films, tinha grandes ambições, mas perdeu dinheiro com a sua primeira animação (Barbacoa), não conseguiu financiamento da BBC para uma série apresentada como "Os Simpsons Escoceses" e o próprio Chomet foi despedido da realização de A Lenda de Despereaux.
Onde ficar