Fugas - viagens

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Jaca: a calorosa cidade do gelo

E agora, lavados até à alma do frio, pele reluzente, ainda teremos direito a outros prazeres e circuitos, o das tapas. Ficámo-nos, e bem, pelas muitas delícias, num ritmo contínuo e infindável, da informal e saborosa Casa Fau e do imaginativo e aplicado Restaurante Lilium (ver caixa).

Novas paredes, velhas pinturas Mas Jaca, antes da despedida, ainda nos reserva algumas jóias da coroa e boas lições sobre a sua História e a da Península Ibérica, a provar que, mesmo em país vizinho, há sempre algo mais que desconhecemos.

Pelo aprazível e tradicional centro histórico, onde, sem surpresas, lojas clássicas e decanas se intercalam com casas modernas e de marcas internacionais ou com sedutores bares de tapas e pastelarias, descobre-se o coração da cidade, a imponente Catedral de São Pedro que oferece muito mais para além da simples admiração arquitectónica. Reza a história que foi por aqui que o românico começou em Espanha e essa marca está patente na catedral e por outros pontos da comarca da Jacetania.

O monumento, iniciado no século XI, guarda, na verdade, sinais de intervenções de todos os séculos vindouros, tornando-se um puzzle arquitectónico, onde capela a capela, templo a templo, se guardam majestosos tesouros artísticos. Mas por onde nos iremos demorar mais é pelo Museu Diocesano, que de diocesano tem apenas o facto de ser um museu de diocese, estando bem afastado do mais comum conceito paroquial.

Além das salas que albergam colecções do passado religioso e das artes locais, é um museu de arte sacra medieval onde se espalham pelas suas alas pinturas murais românicas e góticas retiradas das paredes de igrejas e eremitas de terriolas esvaziadas da diocese, o que torna este singular museu uma referência internacional para visitantes e estudiosos particularmente porque, hoje em dia, os especialistas não recomendam que se arranquem às paredes tais pinturas e porque muitas delas são únicas na sua essência em todo o mundo. Uma das salas é dedicada a um espantoso e imenso mural (conjunto retirado da igreja de Bagüés), o mais importante da colecção, que preenche duas paredes de alto a abaixo, numa espécie de banda desenhada românica onde, em dezenas de quadros, são explicadas histórias bíblicas. A sala inclui uma sessão multimédia com vídeo explicativo do que se vê em volta e de todo o processo.

O pentágono das miniaturas

Da religião à campanha militar vai a mesma meia dúzia de passos que do centro histórico a uma chamativa edificação de memorável forma e estrutura, já numa das saídas da cidade: trata-se da Cidadela, também chamada de Castelo de São Pedro, erigida entre os séculos XVI e XVII, em perfeita e (para a altura) moderníssima forma pentagonal, gigantesca fortaleza inexpugnável (à excepção de pelo ar mas, obviamente, naqueles tempos não havia grandes meios aéreos.) destinada a defender o Cristianismo ibérico e os interesses espanhóis dos avanços franceses e invasões protestantes e ainda hoje usada pelo Exército espanhol. Mandado construir por Felipe II de Espanha, I de Portugal (e daí termos direito a ver sinais da coroa portuguesa), tem centro numa grande praça militar e segue até cinco pontas estelares, autênticos baluartes defensivos. É estudada pelos quatro cantos do mundo, muito graças, também, ao aplaudido projecto de restauro de que foi alvo nos finais dos anos 60, conquistando um Prémio Europa Nostra (que consagra património cultural europeu).

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