Fugas - viagens

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Jaca: a calorosa cidade do gelo

Além de permitir um passeio bem guiado pela história militar ibérica, guarda mais uma daquelas descobertas de encher o olho, o Museu das Miniaturas Militares, resultado de uma paixão pessoal de um coleccionador, Royo-Villanova, esquecida durante muitos anos e agora digna e merecidamente exposta no seu esplendor de 32 mil figuras. Mesmo estes profissionais (isto é, nós: meia dúzia de jornalistas convidados) sentiram o impacto de uma certa alegria, digamos, infantil (afinal, também muitas infâncias se distraíram com bonequinhos. militares).

A colecção do museu reparte-se por quadros "vivos" de batalhas ou exércitos de outros tempos, recriadas em miniaturas ínfimas por artistas, decerto, com infinita paciência. São milhares de peças, soldadinhos e suas armas, aviões, tanques, etc. etc., todos restaurados há poucos anos. Já agora, tente descobrir o detalhe, tendo em conta o ambiente, mais curioso de todos, em jeito de passatempo: uma das cenas recriadas tem um azulíssimo céu de onde cai, esvoaçando, Mary Poppins (a mais pequena Poppins alguma vez vista, apostamos) liberdade artística que lança um sorriso imaginativo ao belicismo local.

Bruxas e monges

Saídos da cidade, guardámos para o final uma visita à área do parque de San Juan de la Peña e Monte Oroel. E temos monumentais razões para isso. Mas antes de subirmos ao derradeiro monumento, uma paragem curta, que a agenda não permite mais, em Santa Cruz de la Serós destino certo já na nossa agenda para uma próxima visita mais prolongada. Serós, porta de entrada para o parque, é uma aldeia histórica da Jacetania, integrada no conjunto histórico e artístico do Caminho de Santiago, como muitos outros pontos da província. Encostada à serra que iremos subir, mantém a traça românica e é exemplar na mostra de arquitectura tradicional de Aragão. É daquelas aldeiazinhas de postal ilustrado, bonitas por Natureza, abençoadas pelos deuses e. célebres por manterem a tradição de espantarem bruxas, o que faz com que as casas de pedra (e com telhados também cobertos de pedra para proteger da neve), por entre ruas e ruelas, se admirem até à ponta das chaminés: cada uma tem a sua singular decoração feita por figuras em pedra tosca chamadas, precisamente, espantabruxas.

Ainda avistámos lojinhas, restaurantes e igrejas a tentarem seduzir-nos. Mas fica para a próxima, ala para cima que se faz tarde.

Subimos até ao mosteiro velho de San Juan de la Peña, aonde se chega após uns sete quilómetros de estrada serpenteante, com direito a vistas vertiginosas. E é quando nos preparamos para mais uma curva que surge esta jóia incrustada na montanha, impressionante criação da época medieval. Impressionantemente, também, gelada e húmida, até porque está encostada e usa como cobertura e paredes em partes a própria montanha. Maior martírio terão sofrido os monges que por aqui viveram desde o século XI ao que parece, a maioria morria de doenças derivadas do agreste clima e localização do mosteiro, com boas partes preservadas e que resistiram ao tempo. É passeando pelo seu interior, vislumbrando, entre janelões ou arestas, céu, montanha, vale, tem-se quase uma sensação religiosa, mesmo apesar de a temperatura ser sempre (até mesmo no Verão, garantem-nos) assustadoramente baixa. Para admirar, além de construções na rocha, salas despidas, há capela, pinturas, claustro românico ou panteão real.

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