Penso no provável insucesso de um produto como o polvere per bianchire le carni num país como Portugal ou Brasil, onde as pessoas torram ao sol e escolhem para bronzeado palavras como “acetinado” e “cor saudável”. Alguma vez vamos gostar (ou voltar a gostar) de branquelas, por aqui
Peço a Simone que me mostre o vinagre que numa visita anterior me deram a cheirar e que é um poderoso estimulante. Sejamos claros: é um cheiro intensíssimo e desagradável, ao qual resistimos uns dois segundos, se tanto. Mas então é como se viesse uma vaga de energia, um estímulo que faz abrir os olhos e acordar. Tão fantástico quanto o efeito do vinagre é o seu nome, que diz qualquer coisa da sua história: aceto aromatico dei sette ladri. Era pois usado por ladrões para avançar por entre a cidade, semi-abandonada pela peste, e saquear o que era deixado pelo caminho. Aspirado directamente ou deitado sobre um lenço, permitiu “arroubos de bandidos” (como num verso de Chico Buarque). Por mais pífia ou coxa que seja a versão, o nome ficou, o clima de aventura ligado a este elixir também e o poder da sua acção: se dá para avançar por entre a peste negra...
Eis-me no final da visita, eis-me na sala de vendas, misto de capela onde esperamos ver mais um Miguel Ângelo, porque estamos em Florença, e palácio erigido para a família Médici, porque estamos em Florença. Nem uma coisa nem outra. Apesar disso, um quase museu.
Há quem diga da Officina Profumo-Farmaceutica di Santa Maria Novella que é a loja mais bonita do mundo. Talvez. Convém dizer que a entrada é modesta, numa porta sem aparato. Entra-se por uma rua lateral, a Vila della Scala, passado o largo de Santa Maria Novella e a imponente fachada marmórea da igreja. Avança-se pela rua, tentando reconhecer o convento, procurando uma coisa imensa, e nada disso. A escala da officina é outra. E de repente, o assombro.
Antes de sair ainda me enchi de perfume de romã. Oxalá o cheiro durasse três anos.
Informações
Officina Profumo-Farmaceutica di Santa Maria Novella
Via della Scala, 16
Florença, Itália
www.smnovella.it
Aberta todos os dias
Os produtos vendem-se em lojas Santa Maria Novella pelo mundo todo e em algumas (poucas) lojas multimarca. Nesta, que é a sede, a oferta é imensa. Os preços são upa upa, convém dizer. Um sabonete custa quase vinte euros. Uma colónia 70. Antiguidade paga-se? A qualidade, seguramente. Todos os empregados falam inglês. Há prospectos contando a história do espaço em várias línguas, inclusive em português. Expressão, sobretudo, da procura crescente por brasileiros.