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Situada entre a Puerta del Sol e a Plaza Mayor, a Plaza Jacinto Benavente é uma das mais castiças do centro de Madrid. Acaba de ser requalificada, mas conserva-se popular, caótica e hiper-ruidosa. Basta, porém, abrir uma porta na sua esquina sudoeste e descer dois lanços de escadas para entrar noutra dimensão, que é muito literalmente a antítese do stress urbano reinante à superfície. O lugar chama-se Medina Mayrit e oferece-se como uma recriação da cultura de banhos públicos consagrada no período áureo do El Andalus.
Vem daí o nome Medina Mayrit que significa "mãe das águas" e donde deriva Madrid, designação escolhida pelo Reino de Toledo (séculos VIII a XII) para o novo enclave em que assentou a capital espanhola. Um dos limites do seu perímetro amuralhado era a actual praça Jaime Benavente, onde em data incerta foi construída uma cisterna. Foi o seu subsolo recuperado, empregando materiais típicos dessa época, que deu lugar ao balneário ao estilo mudéjar inaugurado pelo grupo El-Andalus fez agora quatro anos.
Vem na tradição dos "hammams", tem óbvias similitudes com os banhos públicos que se podem hoje frequentar nos países árabes, mas a grande mais-valia para além do corte com o tumulto à superfície é a sua aproximação ao gosto e aos hábitos ocidentais. Resumindo, homens e mulheres partilham os espaços da Medina Mayrit com o à vontade (e correspondente decoro) comum a qualquer estância de veraneio europeia, enquanto a decoração recria o ambiente árabe/andaluz ao estilo das revistas de design.
Refúgio subterrâneo
A recepção fica no piso térreo. Com as suas arcadas em ferradura a demarcar os espaços, a escadaria em caracol de ferro forjado a fazer a ligação com o andar superior, as velas aromáticas e as vitrinas repletas de incensos e adereços para o ritual do chá, é já uma antecâmara do que espera o visitante no subsolo.
Também se percebe - sobretudo quem for às 16h00, último horário (ainda) da manhã com preços mais económicos - que a Medina Mayrit já faz parte dos roteiros alternativos e do turismo independente. A clientela nesse horário costuma ser numerosa e não engana: é uma mistura de espanhóis "new age" e de estrangeiros de "Lonely Planet" debaixo do braço, uma demografia à base de casais oscilando entre os 25 e os 45 anos. Chegada à hora da entrada do turno (reservas obrigatórias), a recepcionista dá as instruções para o programa de hora e meia que se segue: é indispensável levar fato de banho, a toalha eles facultam, só se pode entrar descalço e é proibido falar alto.
Cumpridos estes preceitos, o visitante está pronto para o banho de exotismo, começando por evoluir às apalpadelas, até se adaptar à penumbra, pelo estreito corredor que divide todo o subsolo. À esquerda estão três piscinas de águas mornas, o "tepidarium", a piscina de água quente, o "caldarium", e uma sala mais pequena e fechada de sauna, enquanto à direita se encontra um tanque de água fria e salas de relaxamento, temperadas com música suave e chá de menta. As paredes são em adobe com tectos baixos abobadados, tijolos de barro artesanal dispostos em composições geométricas com fiadas de azulejos coloridos pelo meio. Pequenos focos de luz estão incrustados no tecto, mas há também uma entrada de luz natural, através de uma fonte situada a meia da sala do restaurante, no piso superior. Ouve-se e vê-se a água a jorrar, mas como o fundo é de vidro não nos chega a cair em cima, o que só contribui para a acentuar a ambiência mágica do local.