As Américas de Madrid, por Luís Maio (14.5.2011)
Madrid - Retiro do coração, por Luís Maio (6.9.2008)
Madrid, a cidade que se reinventa pela cultura, por Luís Maio (17.5.2008)
Madrid é uma festa e está toda na Gran Vía, por Andreia Marques Pereira (11.9.2010)
Madrid das arábias, por Luís Maio (14.6.2008)
Voa-se para Madrid por 10 ou 20 euros
A renovação da centenária Gran Via, a conversão do antigo Matadero em centro de artes, as novas extensões do Triângulo dos Museus, mais os reforços da Caixa Fórum e de La Casa Encendida tudo isso é ainda muito recente. São investimentos que fazem parte de um esforço concertado para relançar Madrid e contestar a primazia turístico-cultural de Barcelona. São, no entanto, novidades com meia dúzia de anos e, apesar da crise e doutras contrariedades (como a perda dos Jogos Olímpicos de 2016 para o Rio de Janeiro), a capital espanhola não parou para descansar, no dia a seguir a essa maré de inaugurações.
Surgem agora atracções mais avulsas e singulares, como o Mercado San Miguel e o AndénCero, ou até mais insólitas, como a Capilla del Obispo. No lugar de mais museus e galerias de arte, a nova sensação cultural de Madrid é a antiga Tabacalera transformada num laboratório de autogestão new age. Entretanto, bairros tradicionais como Las Salesas e TriBall, ainda ontem adormecidos ou mesmo decadentes, renascem e ganham instantânea projecção internacional. Em Abril, a cidade inaugurou oficialmente o novo parque Madrid Rio.
La Capilla del Obispo
Guarda obras-primas to Renascimento Espanhol, mas esteve fechada quase meio século e mesmo agora só abre ao público fora de horas. A Capilla del Obispo é um desses lugares espirituais e insólitos que excita a fantasia dos amantes de policiais medievais, por enquanto uma morada quase secreta, ou apenas conhecida dos madrilenos mais "cuscos". Fica na Plaza de la Paja e pertence ao Conjunto Monumental de San Andrés, no centro medieval da capital espanhola. Há 40 anos estava à beira da derrocada, mas depois foi declarada Bem de Interesse Cultura e os trabalhos de recuperação começaram há cinco anos, quando um banco disponibilizou a maior parte dos 3,3 milhões de euros necessários ao restauro.
A capela reabriu em Julho passado, mas para já apenas nos (irregulares) horários dos serviços religiosos, promovidos pelas Hermanitas del Cordero. É outro atractivo, que contribui para a singularidade da visita: as freiras são todas sub-30, muito sorridentes e elegantes nos seus hábitos azuis imaculados. Para mais falam um castelhano cantarolado em francês, que se prende com a circunstância de a sua comunidade, pertencente à família dominicana, ter sido formada em Perpignan em 1983.
Passadas as imponentes portas duplas, talhadas com cenas bíblicas ao estilo renascentista, o visitante acede ao templo, que primeiro impressiona pela altura e majestade das suas abóbadas góticas. Logo a atenção é monopolizada pelo retábulo do altar-mor, obra plataresca de Francisco Giralte, especialmente exuberante na ilustração das cenas da paixão de Cristo. É o género de construção escultórica que deixa o observador petrificado, até se recompor e perceber que na parede da direita há mais esplendor: desta feita um cenotáfio cinzelado em alabastro, representando uma figura masculina orando num rico genuflexório, na companhia de crianças e outras duas figuras de pé, presumivelmente mais velhas.