Fugas - Viagens

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Miradouros: Covão da Ametade, o miradouro invertido

Por Margarida Paes

Agradeço sempre ao arquitecto paisagista que inventou os parques naturais e a ideia de conservar a natureza. Eis o quinto miradouro desta viagem ao nosso património das vistas.

Que bela invenção! Não tocar nos processos naturais, só manter o que há e adaptar um mínimo a paisagem, lembrando aos homens que a beleza natural de alguns lugares deve ser preservada como uma catedral, porque desencadeia em nós emoções muito fortes, muito fundas. Assim é no Covão da Ametade, onde olhamos para cima e temos paredes de granito esculpidas por milénios de neve, de chuva e de vento, onde graças à beleza do lugar sentimos a nossa pequenez, a imensidão do nosso pensamento e a continuidade repetida da natureza. 

Entre vidoeiros de troncos brancos a paz é muita, mesmo com grelhadores e bicas necessárias ao campismo, porque há muito espaço organizado em clareiras rematadas por linhas de água que vão dar ao Zêzere nascente. São estes os seus pequenos e primeiros afluentes, de novo com margens acompanhadas de vidoeiros. O efeito de longe é de manchas de sol cortadas pelas silhuetas dos troncos, como um código de barras.

É ali que nasce o Zêzere e os serviços florestais, ainda antes do Serviço Nacional de Parques, fizeram este rio de montanha desacelerar a sua corrida para o vale de Manteigas, deter-se ali um pouco atrás de paredões de pedra, criando grandes superfícies onde o céu se espelha, seguindo depois num largo leito silencioso entre muretes, passando por baixo de uma ponte e dando água aos vidoeiros (Betula celtibérica) plantados nas suas margens. 

Quando vêm as chuvas de Outono ou quando a neve cobre todo o chão, o Zêzere engrossa e manda em tudo, ouve-se bem a sua água em cascata lançando-se no vale, depois de servir de espelho aos vidoeiros que nesta estação se transformam em árvores de copa amarela e cobrem a superfície da água com uma camada de folhas. O leito do rio foi encaminhado entre muretes bordejados destas árvores de troncos brancos e o caminho sobre a ponte oferece-nos a magia misteriosa da simetria do reflexo e do murmúrio da água. 

Este não é um jardim mas foi desenhado por alguém que o criou como que um miradouro invertido para vermos de baixo para cima. Vamos avançando entre árvores e grandes penhascos, e é preciso chegar ao fim de todas as clareiras, ao fundo deste covão, para descobrir o majestoso cântaro Magro, de onde, na Primavera, depois das neves, se lançam mil cascatas que se juntam para fazer nascer o Zêzere. O anfiteatro de pedra criado pelos cântaros Magro e Raso é tão majestoso e arrebatador visto de baixo que não podia ser esquecido nesta procura do nosso património de vistas.

Miradouros de Portugal
São 20 os miradouros destacados nesta série que vão levar o leitor a visitar, em Portugal continental, um “lugar elevado de onde se avista um horizonte largo”. São o nosso património das vistas: 
1. Penedo Durão
2. Nossa Sr.ª da Saúde
3. Forte de Almeida
4. Fragão do Corvo
5. Covão da Ametade 
6. Castelo de Montemor-o-Velho
7. Miradouro da Bandeira
8. São Pedro de Moel
9. Sítio da Nazaré
10. Pedreira do Galinha
11. Outeiro de São Pedro
12. Forte de Paimogo
13. Ponta dos Corvos 
14. Cabo Espichel
15. Castelo de Marvão
16. Forte de Nossa Senhora da Graça
17. Cromeleques dos Almendres
18. Cabo Sardão
19. Cabo de São Vicente
20. Cacela Velha

Pela Equipa ACB Paisagem  

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