Durante séculos, o vinho do Porto foi ruby (vermelho intenso) ou foi tawny (alourado), mas só há muito pouco tempo é que o branco entrou na moda. Em 1964, a Sandeman lançou no mercado um vinho do Porto branco com cerca de seis anos de envelhecimento, a que chamou simplesmente “Porto Branco” e, desde então, o grande vinho fortificado do vale do Douro abriu uma nova página. Porque esse Sandeman era um vinho doce que aparecia numa garrafa inovadora, transparente, que ganhou vários prémios de design; mas, principalmente, porque do gargalo da garrafa pendia uma pequena etiqueta onde se davam várias sugestões para apreciar este novo vinho do Porto. Entre elas estava a sugestão de servir o vinho num copo long-drink, juntando-lhe gelo, água tónica Schweppes e duas rodelas de limão!!
Recuemos no tempo, imaginemos como seria há meio século o mundo formal dos produtores e consumidores de vinho do Porto, pensemos por um momento nos rituais conservadores que estavam associados aos momentos em que era bebido. Assim, fica mais fácil antecipar a reacção que esta sugestão causou: escândalo, sacrilégio e muitos protestos. Alguma imprensa da época dizia mesmo que estas sugestões “eram capazes de provocar uma apoplexia aos consumidores de vinho do Porto”. A Sandeman tinha razão. Mas teve razão antes do tempo.
Estas sugestões caíram rapidamente no esquecimento, mas a empresa não desistiu e em 1990 lançou o “Sandeman Splash”, nada mais nada menos que a receita que lançara 25 anos antes: Porto branco, gelo, água tónica Schweppes e limão. Mas desta vez apoiou o lançamento da bebida com uma forte campanha publicitária, presente em todas as esplanadas em que o “Sandeman Splash” fosse servido no Verão desse ano. Estava lançada a base daquele que viria a ser o “Porto Tonic”, agora tão popular, sempre com a mesma receita - ainda que hoje o “Porto Tonic” da Sandeman seja servido em copos mais modernos que foram criados para o efeito.
Após o sucesso do “Sandeman Splash”, o Porto branco entrou no radar. As Portas dos brancos com idade foram abertas e o vinho do Porto ficou mais perto de consumidores mais jovens e mais susceptível de ser apreciado no ambiente descontraído das esplanadas, em bares ou em discotecas. Hoje em dia, até nas caves de vinho do Porto, onde se respira a mais pura das tradições, qualquer prova começa obrigatoriamente por Porto branco, normalmente seco. Ou por um Porto tónico.
Quebrado o tabu, garantida a dessacralização dos Porto branco, vários barmen começaram há alguns anos a criar os primeiros cocktails com vinho do Porto, indo mais além o espírito irreverente do “Porto Tonic”. Muitos responsáveis de bar e escanções deram largas à sua imaginação, criando cocktails refrescantes, saborosos, mais doces ou mais secos e alguns mesmo arrojados, que vão sendo cada vez mais apreciados. O próprio Instituto do Vinho do Douro e Porto (IVDP), o organismo que controla e certifica a produção do vinho do Porto, tem dado cobertura a estas bebidas inovadoras, sendo mesmo responsável por balcões onde se servem exclusivamente cocktails à base de vinho do Porto, em feiras e festivais um pouco por todo o país.