Depois de seis horas de comboio, bebendo tchai e na companhia de um livro, desembarco numa espécie de oásis a que chamaram cidade azul. Os tons turquesa, celeste e indigo cobrem como um vasto lençol de seda esta cidade plantada às portas do deserto Thar. Uns afi rmam que afugenta os mosquitos, outros dizem que é tradição. Outros ainda respondem que é para escapar ao calor do sol abrasador. Não procuro consensos.
Toda a cidade é vigiada pela fortaleza de Mehrangarh, que se ergue, imponente, na Montanha dos Pássaros. Palco há mais de seis séculos da vida quotidiana de marajás, limita-se hoje em dia a receber os inúmeros turistas que acorrem para ver os seus magnífi cos palácios e templos. As paredes transpiram história. E sangue. Ou não tivesse sido este um importante ponto nas rotas do comércio do ópio, seda, especiarias e pedras preciosas.
À entrada dos jardins do parque Mandore, apresso o passo em direcção aos templos, enquanto os macacos que por lá deambulam me vão lançando olhares em tons ameaçadores.
Na praça do Mercado de Sardar, e sob o olhar do relógio da Torre, vende-se de tudo. Fruta, especiarias e artesanato. O calor convida-nos a tomar um lassi, bebida fresca e tradicional feita à base de iogurte. Imprudente, mas saboroso. Sob o sol abrasivo, mulheres circulam cobertas de saris em tons garridos. Dentistas e barbeiros aguardam pacientemente pelos clientes nas bermas. Tingem-se tecidos. Artesãos fazem panelas. Tecem-se tapetes. Burros puxam carroças. Vacas esgaravatam nas ruas empoeiradas. Sou convidado a comer uma das melhores omeletas do mundo, com dois indianos a mostrar com orgulho a recomendação do Lonely Planet. Nem um guestbook podia faltar.
Jodhpur pode ter muito para ver. Mas tem ainda muito mais para sentir. É por isso que a Índia cansa. No imediato. Pois é muito intensa. Com o tempo, surge o vazio e a vontade de regresso.