A Fugas é, assim, um repositório sentimental, “como um livro” a que se regressa muitas vezes. “É para guardar, encadernar e consultar”, diz. Quando é publicado compra dois exemplares: o segundo é para recortar a “sua” página e colocar num dossier (num dos muitos que tem, uma vez que é assíduo nas colunas de leitores de várias publicações). Agora, reformado, está a preparar um plano de viagens, low cost, mais intenso. Fora de Portugal. Seja publicado ou não, sabemos que vai escrever sobre elas. Andreia Marques Pereira
Augusto Küttner Magalhães
65 anos, Porto
Está a poucas horas de partir para um fim-de-semana em Vila Viçosa, a convite do presidente da Fundação Casa de Bragança, Marcelo Rebelo de Sousa. Augusto Küttner Magalhães não é um viajante empedernido “por questões económicas”, sublinha, mas sempre que pode escapa-se por Portugal. Um fim-de-semana, um feriado são bons pretextos para um passeio, e um passeio é um bom pretexto para escrever.
Na verdade, para Augusto todos os pretextos são bons para escrever, o que o tornou uma presença regular em secções de Cartas ao director de vários jornais, com algumas polémicas mais ou menos públicas à mistura. “Sempre escrevi, achava muita piada, aliviava-me imenso.” E também lhe trouxe alguns dissabores, quando no trabalho lhe pediram que deixasse de o fazer. Disseram que “tinha um nome que dá no ouvido” (a família materna é austríaca, fugida depois do Anschluss) e não queriam que as suas opiniões se confundissem com a empresa, no caso uma produtora de vinho do Porto. “Mas se eu nunca escrevia sobre vinhos ou os chamados temas fracturantes”, recorda, “era uma espécie de censura sem o ser”.
A sua presença regular nas fugas dos leitores é, portanto, uma consequência natural desta sua espécie de participação cívica. Tanto escreve sobre Serralves em Maio como sobre a viagem “de cinco dias, baratinha”, que todos os anos faz pela Europa; tanto vai a um turismo rural em Évora como à Régua porque leu algo na Fugas que lhe chamou a atenção; tanto faz projectos de viagens baseados na Fugas (Bristol será um dos próximos) como lê sobre locais onde sabe que nunca irá; tanto aprende por que é o que vinho verde se chama verde como se mantém informado sobre os carros “sem ter de comprar revista de automóveis”.
E depois de lidas as revistas quase nunca as guarda. Às vezes fá-lo, para consultas, para inspiração, quando há uma viagem a alinhar-se no horizonte. O normal é juntar uma série delas passá-las ao filho, “nunca se desactualizam”. Mas Augusto parece ter a pressão da actualidade: um dia depois do regresso de Vila Viçosa, três dias depois da nossa conversa, recebemos um texto sobre o seu fim-de-semana. Quem sabe se não o leremos nas páginas da Fugas? A.M.P.