José Alberto Silva dos Santos
52 anos, Almada
A primeira vez que leu a Fugas foi “num curso de escrita de viagens ministrado pelo Tiago Salazar”, há quatro anos. O primeiro texto que enviou, “para ver como corria”, escreveu-o “uns dias antes do segundo curso”, dois anos depois. “Passados três dias foi publicado e lá fui eu de jornalinho debaixo do braço para mostrar ao meu amigo Tiago e qual não é o meu espanto quando ele diz para ler em voz alta para todos”, conta José Alberto Santos.
Já publicou nove, há muitos outros a caminho, fruto das viagens que foi fazendo anualmente, sempre com a mulher e a filha, 16 países, cinco continentes. No final, quer compilá-los em livro. “Vai ser o meu terceiro”, diz, convicto. O primeiro, Página do Leitor, colige “pequenos textos que tinha escrito durante as viagens casa-trabalho-casa no comboio, sobre tudo o que ouvia, pensava e sentia em relação ao mundo que nos rodeia e que enviava para vários órgãos de comunicação social”. O segundo será sobre as férias de infância, passadas em família, em Moncarapacho. O terceiro, uma colecção de Fugas.
“Antes já publicava textos noutras revistas mas tinham uma grande limitação de espaço. A Fugas é uma fuga para mim e para os meus sonhos, que é descrever pormenorizadamente o mundo que eu gostava que as pessoas vissem”, conta. Em cada viagem, toma apontamentos, fotografa, recolhe jornais locais, postais, bilhetes e tudo o que lhe permita “reconstituir passo a passo” o passeio. Depois descreve tudo ao pormenor, “os cheiros, o sabor, a cor, as texturas, os sons”. “Há quem diga que sou maluco, que só falta pôr o azimute, a latitude e a longitude do sítio onde estou”, ri-se. Mas tudo, garante, só tem um objectivo: “Que as pessoas, mesmo que não tenham lá ido, sintam que viajar e ir a esses sítios é realmente uma coisa boa, que o mundo não é tão mau como o descrevem e que não tenham medo de ir.”
Perguntam-lhe muitas vezes porque é que escreve, se “ganha dinheiro ou muito reconhecimento”. Ao longo da entrevista, entre muitas histórias de viagem, vai lançando argumentos. Escreve porque “nunca regressou a mesma pessoa” que foi — “há sempre qualquer coisa que recolho de ensinamento e que me levou a adoptar um estilo de vida diferente”, como não beber álcool ou evitar carne de porco. Escreve para “quando já não puder viajar fisicamente, fazê-lo mentalmente”. Escreve para “satisfazer o ego e sentir-se bem consigo mesmo”. “Dá-me alimento aos sonhos. Um dia, quem sabe, talvez eu possa dizer: olha, eu comecei na Fugas.” Mara Gonçalves
Maria Clara Costa
74 anos, Amadora
“Sempre que me encontro solta / numa viagem pelo mundo / sinto a chamar-me de volta / Um sentimento profundo / (…) Neste vaivém vagabundo / sem ter princípio nem fim / estou sempre a pedir ao mundo / que não se esqueça de mim!”
O poema, escrito em 2005, inicia o dossier dos seus escritos de viagem, onde Maria Clara Costa guarda cada texto publicado na Fugas, alguns seguidos de fotografias e de poemas, que agora folheia cuidadosamente, sentada no sofá da sala, recordações do mundo aqui e ali.