É tempo de celebração pascal e é ela que oferece uma perspectiva única: os crentes rezam diante da cruz e também do que resta do mirhab; isto é, nestes tempos marcados pela violência recente vivida em Bruxelas, é possível ver cristãos orando virados para… Meca. Surpreendente! Surpreendente e revelador dessa osmose que se sentiu no exterior, junto ao rio, dessa possibilidade de diálogo e de abertura ao que aparece como radicalmente outro.
Resta a visita à alcáçova, à réplica de uma casa islâmica, e descer de novo em direcção ao rio, cruzando agora a encosta marcada por socalcos (mais uma vez o Douro) num emaranhado de ruelas que culmina na Praça Luís de Camões inundada por uma atmosfera matinal quase inebriante pela intensidade do perfume da flor de laranjeira; e de novo a voz dos poetas:
e na ânsia da viagem
eis que, por fim,
eu parti…
Ibn Darrâj al-Qastallî
Antes de partir, visita aos jardins do Convento de São Francisco, propriedade do casal de artistas holandeses Christiaan e Geraldine Zwanikken, espaço ideal para um final de tarde tranquilo.
Esta crónica, ao mesmo tempo que confirma a hipótese que a narrativa que lhe deu origem exigia, pretende também ser testemunho da possibilidade de um diálogo entre mundos, cruzando destinos, para lá da violência gratuita: re-ligare – Mértola-Beirute.
______________
Nota: os versos citados foram extraídos da obra de Adalberto Alves, O meu coração é árabe (3.ª edição, Assírio & Alvim, Lisboa, 1999), publicação a que o título desta crónica muito deve.