Portugal é um destino turístico e um país reconhecido mundialmente pelos seus vinhos e paisagens vinícolas de rara beleza: dos campos de vinha alta da Região dos Vinhos Verdes aos patamares esculpidos no xisto das encostas do Douro, passando pela imensa planície alentejana ou pelas vinhas do Pico, cultivadas em chão de lava negra e protegidas por muros, junto ao mar. Por isso é com a maior naturalidade que ambos os mundos se cruzam criando dinâmicas ligadas ao lazer e às actividades associadas à cultura do vinho. Porém, apesar de todo um património e tradições neste campo, só a partir dos anos de 1990 é que enoturismo se começou a desenvolver e a ser visto como uma actividade estratégica para o país. Até essa altura o turismo associado ao vinho não ia muito mais além das tradicionais visitas às caves mais emblemáticas (sobretudo às do vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia) e a algumas quintas e solares.
Desde então a actividade cresceu, ganhou novas valências e começou a contribuir como um factor de desenvolvimento e de dinamização, sobretudo, do meio rural. As regiões vitivinícolas criaram rotas dos vinhos e geraram sinaléticas e materiais de comunicação apelativos para as divulgar. E os produtores associaram-se, desenvolveram condições para visitas aos seus espaços e conceberam programas de actividades atractivos. Uns de carácter mais lúdico, dirigidos a um público geral, outros mais especializados, destinados a grupos de enófilos que cada vez mais começavam a viajar com o intuito de aperfeiçoar o seu conhecimento na matéria e para conhecerem os bastidores desta sua paixão.
Assim nasceram actividades diversas, desde provas, participação nas vindimas ou no processo de vinificação, passando por encontros gastronómicos. Em paralelo, alguns destes produtores investiram na construção de novas adegas, já não apenas com preocupações funcionais mas igualmente arquitectónicas. Recorrer a figuras de prestígio neste campo estava na moda e o investimento era compensado pelo retorno em termos de imagem. No fundo seguia-se uma tendência vinda de fora, do qual o projecto de Frank O. Ghery para o Hotel Marquês de Riscal, na região de Rioja, Espanha, era o exemplo mais emblematico.
Também se adaptaram, ou construíram de raiz, quintas e herdades e pequenas unidades hoteleiras rurais. Esta aposta tem funcionado como um complemento ao negócio do vinho, e, também, como um factor importante na divulgação da sua imagem, tal como no contacto directo com os próprios consumidores. Contudo, o desenvolvimento do enoturismo fez com que muitos projectos seguissem um caminho próprio e a via de profissionalização - mesmo quando ligados a produtores. Na sequência do sucesso e do potencial que é reconhecido nesta área surgiram, igualmente, projectos hoteleiros de temática vínica, como o The Yeatman (Gaia) ou o L’And & Vineyards (Montemor-o-Novo), bem como o desenvolvimento dos cruzeiros fluviais, nomeadamente no rio Douro, onde todos os dias sobem e descem parte do leito várias embarcações hotel.
Por último, as tendências mais recentes passam pelos Spas (em hotéis) que oferecem tratamentos de vinoterapia e por diversas actividades associadas à natureza, aventura, desporto e às actividades da terra explorando, neste caso, outras vertentes das propriedades, como a produção agrícola biológica ou a criação de animais de raças autóctones. Este último aspecto tem colocado vinhos e gastronomia lado a lado, de uma forma ainda mais efectiva, atraindo um nicho de consumidores cada vez mais interessado no modo de fazer e no aprofundamento dos seus conhecimentos - levando operadores a oferecerem programas que incluem actividades culinárias e cursos de vinhos, por exemplo. No fundo já não se trata apenas da oferta daquilo que está directamente ligado ao vinho e à vinha, mas, igualmente, da oferta de todo um conjunto de experiências associadas com uma componente de lazer e bem-estar.
Seleccionámos exemplos do enoturismo das principais regiões vitivinícolas de Portugal, que não deve perder: de hotéis rurais a contemporâneos, de quintas tradicionais a adegas de arquitectura moderna, das tradicionais caves do Vinho do Porto às da Madeira.
MADEIRA: Blandy’s Wine Lodge
O Vinho da Madeira é um dos grandes vinhos generosos do mundo e a Blandy’s a sua principal referência. No centro do Funchal este produtor abre as portas da sua histórica adega Blandy’s Wine Lodge, construída em 1840, e que é, há muito, um ponto de passagem obrigatório para quem visita a ilha. A história da família, que chegou à região há mais de 200 anos, confunde-se com a própria narrativa do Vinho da Madeira e se ao turista comum poderão interessar, sobretudo, os dados históricos, práticas e costumes, ao enófilo é dada a possibilidade, também, de ficar a saber o essencial sobre as características e os diferentes tipos de vinho, as castas com que são produzidos, bem como o perfil de cada uma das marcas do produtor. No museu do Blandy’s Wine Lodge encontrará ainda alguns artefactos interessantes como cartas de Winston Churchill ou o lagar de madeira mais antigo da região, datado do século dezassete.
O edifício, onde ainda hoje são guardados 650 tonéis e barricas de vinho, que envelhecem pelo método tradicional de canteiro, alberga ainda a garrafeira da família. Se tiver sorte e algum poder de persuasão pode ser que consiga que lhe mostrem esse espaço, na cave, protegido por paredes grossas e repleto de vinhos que descansam há dezenas, por vezes centenas, de anos. No final da visita poderá provar alguns dos vinhos do portfolio da casa no bar, ou adquiri-los na loja, onde encontrará, igualmente, toda uma linha de merchandising, acessórios, bem como outros produtos da região. Próximo do local a Blandy’s dispõe ainda de quatro apartamentos remodelados e equipados para alugar, num edifício do século dezassete onde viveu o primeiro membro da família. M.P.
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Viver e sonhar entre as paisagens do vinho