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A Via Algarviana vai andar para trás?

Por Idálio Revez

A grande rota pedestre que atravessa o interior do Algarve corre o risco de ficar ao abandono. Municípios algarvios não aprovaram o plano de gestão da Via Algarviana. Ainda assim, há cinco novos percursos.

A Via Algarviana (VA) – a grande rota pedestre que atravessa o interior da região – corre o risco de ficar ao abandono. Após um investimento de 1,2 milhões de euros para criar uma via que conduz o turista a novos destinos na natureza, os municípios não se entendem quanto ao modelo de gestão e sustentabilidade do projecto. “Não há condições”, diz Anabela Santos, a coordenadora do projecto VA, enquanto arruma os “dossiers” a aguardar por dia melhores. A candidatura dos fundos comunitários que suportava o projecto, gerido pela associação ambientalista Almargem, terminou no fim do mês de Julho.

Ao fim de ano e meio de conversações com os 11 municípios envolvidos no projecto, Anabela Santos manifesta-se decepcionada, por não vislumbrar uma solução sustentável. “Tudo foi feito para que não se caísse num impasse”, comenta. Por seu lado, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (Amal), Jorge Botelho, reconhece a sua incapacidade de liderança neste processo: “Não foi possível consensualizar uma solução, no seio da Amal, quanto ao modelo de gestão”. Estamos no Verão, observa Anabela, lembrando outros interesses: “As atenções estão viradas para as sunset party e outras festas à beira-mar”. Nos concelhos de Alcoutim e Castro Marim, o verniz da esteva derrete com o calor e raros são os caminhantes que ousam subir às montanhas. Por estes dias, o apelo das piscinas e da água do mar fala mais alto. Quando chega o Outono, inverte-se a situação: as praias ficam desertas e o cheiro da terra molhada puxa os visitantes à aventura pelos montes – lugares perdidos no interior, onde se destila o medronho e o mel adoça paladares.

No combate à sazonalidade, as prioridades parecem ser outras, valorizando-se acções de “inovação” e “criatividade”. O Plano Intermunicipal da Amal (documento que define a estratégia de desenvolvimento até 2020) faz eco disso. Dentro do pacote dos 319 milhões de euros destinados à região, surgem alguns exemplos da criatividade. Para o concelho de Portimão, – que pediu resgate financeiro para evitar a bancarrota – anuncia-se a realização do "Festival das Cidades Invisíveis” e, em Alcoutim, o projecto “Aves à Vista”.

Nesta altura, festas e eventos não faltam no calendário de animação regional, com apoios significativos. Mas, para a zona do interior, não houve entendimento das câmaras para disponibilizar 3000 euros ­– o valor que cada município teria de suportar durante um ano – para garantir a manutenção e gestão da Via Algarviana. O projecto soma 1,2 milhões de euros, suportados por duas candidaturas a fundos comunitários. As autarquias entraram com cerca de 360 mil euros, sendo os restantes 840 mil euros suportados pelo Feder.

Cinco novos percursos
No Nordeste algarvio, o proprietário da Casa do Lavrador (turismo rural), João Henriques, desabafa: “As entidades lá de baixo [litoral] têm muito pouca sensibilidade para o que se passa aqui na serra”.

A rota da VA, criada em 2006, na altura com 300 quilómetros, foi entretanto alargada para os 800 quilómetros. À Grande Rota Pedestre (que liga Alcoutim ao Cabo de São Vicente-Sagres), foram acrescentadas cinco novas ligações: Marmelete/Aljezur, Mexilhoeira Grande/Monchique, Estação da CP de Loulé/Salir, Paraíses/São Brás de Alportel e Lagos/Bensafrim. A ideia, explica Anabela Santos, é criar rotas temáticas permitindo a inter-ligação entre o litoral e interior.

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