Fugas - Viagens

  • Da serra ao mar, com muitos encontros e desencontros
    Da serra ao mar, com muitos encontros e desencontros
  • Síto das Fontes, Estômbar
    Síto das Fontes, Estômbar
  • De Silves a Monchique
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  • Silves, a hospedaria
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  • Silves, o Castelo
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  • Sete léguas
    Sete léguas
  • Alferce
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  • Rumo à Picota
    Rumo à Picota
  • Monchique
    Monchique
  • Monchique, o convento
    Monchique, o convento
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  • Monchique, Caldas de Monchique
    Monchique, Caldas de Monchique
  • Fóia
    Fóia
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    Fóia
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  • Lição de paciência
    Lição de paciência
  • Marmelete
    Marmelete
  • Marmelete
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  • A flor da esteva colore e invade com o seu odor a sera
    A flor da esteva colore e invade com o seu odor a sera
  • A bússola
    A bússola
  • Odeceixe
    Odeceixe
  • O prazer dos pés
    O prazer dos pés
  • Odeceixe
    Odeceixe
  • Odeceixe
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  • Pela costa alentejana
    Pela costa alentejana
  • Azenhas do Mar
    Azenhas do Mar
  • Azenhas do Mar
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  • Praia da Amália
    Praia da Amália
  • Praia da Amália
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  • Praia dos Machados
    Praia dos Machados
  • Zambujeira ao fundo
    Zambujeira ao fundo
  • Zambujeira, Alteirinhos
    Zambujeira, Alteirinhos
  • As figuras
    As figuras "mitológicas" da imaginação na costa
  • Um sapato perdido no caminho
    Um sapato perdido no caminho

No dia em que fugi de casa

Por Luís J. Santos (texto e fotos)

Sigo, passo a passo, rumo ao meu paraíso. Cruzo a serra pelo interior quase deserto do Algarve, deixo-me guiar pelos encontros, chego ao mar do Alentejo. Há aqui um abraço à minha espera.

No dia em que fugi de casa para ir descobrir mundo, teria eu uns sete ou oito anos, fiz uma mochilinha para o caminho com pão, umas latas de salsichas, uns livrinhos de BD, talvez água ou sumos. Pouco mais de um quilómetro depois de começar a aventura, parei debaixo de uma árvore e devorei o meu piquenique enquanto lia os meus livrinhos. Mais uns passos depois e já estava de visita ao monte da minha tia, que sempre me parecera um refúgio perfeito para escapar à aldeia cheia de gente. A minha fuga ficou-se por aqui mas estou certo que, quando o meu pai me foi apanhar ao monte na sua velha carripana saltitona, eu tinha aventuras para contar-lhe. Que as aventuras não se medem aos palmos.

Mais de três décadas depois, aqui estou eu novamente pronto a fazer-me ao caminho. Tenho já mais algumas viagens no corpo, a rota agora será outra mas lá estou eu de mãos nos bolsos, mochila às costas e um assobio para assobiar. Perguntaram-me o que é o paraíso e para que lado fica. E eu, que nunca sei a resposta a estas coisas, disse apenas “deixem-me andar”, sem planos, passo a passo. E certo será que eu rumarei para o “meu” paraíso”.

Escolho caminhos entre serra e mar, uno o Alentejo ao Algarve a pé, aproveitando os grandes projectos pedestres da Via Algarviana e da Rota Vicentina. Opto por restringir o telemóvel, o GPS, a net, quero antes deixar-me guiar pelos encontros. Vou quatro ou cinco dias, mas não quero fazer uma maratona de caminhante, para poder dar-me o direito de parar, de perder-me, de mudar de rumo. Irei (quase) sempre a pé e sozinho, é verdade, mas, como verão, conto com uma legião.  

Para base da minha pequena grande aventura, escolho Lagos. Só por boas razões: não só é a “terra dos Descobrimentos”, meca turística e senhora de belas praias (até, diz-se, da “mais bela do mundo”, a, agora em obras violentas, D. Ana) como tenho aqui o meu amigo Manel, viajante dos sete costados, um manancial de dicas e informações. Falam-me do Sítio das Fontes, em Estômbar, perto de Lagos, com acesso facilitado ao primeiro troço da Via Algarviana que vou fazer, de Silves a Monchique (são só uns 28km a pé, quase sempre a subir…). Para primeiro treino de pernas, serve bem. Apanho boleia amiga para as fontes, um parque num esteiro da margem esquerda do rio Arade, entre inúmeras nascentes.

É aqui que, cercado de águas, entre sapal e matagal, ao som da passarada, dou o meu primeiro passo. Deambulo por ali até achar uma estrada velha rumo a Silves e lá vou eu, entre laranjeiras e medronheiros. Vou fazer-me à serra. Desaguo na cidade que ainda guarda pelas suas ruelas semidesérticas ao entardecer o orgulho de ter sido noutros tempos capital algarvia ou as memórias do Al-Gharb Al-Andalus e do seu príncipe-poeta. Por ali, alguém escrevinhou toda a parede de uma casa. “Incendeio o branco com palavras”, leio.

Lá em cima, o altaneiro castelo mouro. Cá em baixo… comida!, e o meu mal é fome. Faço logo uso da minha primeira guia encontrada ao acaso pelas ruas, em detrimento de tripadvisors, apps ou fugas, e a senhora há-de fazer-me acabar à volta de um belo cozido de grão no Monchiqueiro. A simpática Cristina serve-me uma dose brutal e será ela depois a encaminhar-me para o meu alojamento. À antiga, escuta os meus critérios (familiar, simples…) e lá vou eu para a Vila Sodré, onde sou acolhido pela dona Mariana. “Mas vai sozinho pela serra?, eu tinha medo!”, vai-me dizendo a senhora. Sinto-me logo em casa nesta residencial, que até tem uma grande adega familiar, horta e piscina.

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