Quando se entra, o Solar de Lisboa divide-se entre um corredor que nos afasta da luminosidade e do ruído da rua: um bar luminoso para a esquerda, sala de estar a meia luz em frente, ladeada por estantesgarrafeiras, e conjuntos de mesas e poltronas. Para a esquerda do bar, há mais recantos e uma ampla sala, com grande mesa apalaçada, dirigida a grupos.
É nesta sala que pára Folgado, com os olhos a escaparem-se para a vitrina de velhas garrafas de Porto, algumas já só com vapores de vinho, mas sempre um regalo para o olhar, graças ao eterno bom gosto do design de rótulos e garrafas.
Esta sala de provas é uma jóia, com azulejaria em tons de azul, do edifício original do palácio do século XVIII, construído pelo arquitecto Ludwig, o homem que criou o Convento de Mafra. A sala e todo o solar foi alvo de uma intervenção do designer Paulo Lobo que sublinha, particularmente com iluminação, os traços entre o religioso e o teatral, apelando à mística desta quase capela do vinho do Porto.
Obviamente, além de alguns móveis modernos e de toda a parafernália de iluminação, mantém-se e recuperou-se mobiliário antigo para garantir a solidez seminal. O que se criou de novo enaltece o vinho, caso de uma nova garrafeira no salão principal, que assume um aristocrático verdeinglês, tonalidade que, recordam, "marcou o espaço durante a década de 60".
Vamos serpenteando com Folgado e, pelo caminho, apreciando detalhes e fotos, como uma da Régua antiga, "uma Régua que já nem existe". Numa sala frescota ("está um bocado fresco, está", "16/17/18 graus", está a adega, fechada ao público, apenas um sítio de apoio. Mas se quiser espiar é pedir. Há vinhos de toda a idade, 20, 40 anos - "o mais velho é de 1961", "mas já cá houve de 1900", "coisa com muito ano em casco de carvalho, que se vendia por mil e tal euros".
Folgado aponta para garrafas de vinho com tantos de anos de permanência no solar como ele próprio e sorri, passeando pela nova decoração como se nada fosse, apesar de esta, à partida, não deixar ninguém indiferente, ame-se ou odeie-se: abandonadas convenções e conservadorismos, joga com cores fortes ligadas ao mundo dos vinhos, das vinhas, do Douro. O objectivo do designer foi criar uma "atmosfera de charme, arrojada e provocante". O conceito de espaço a procurar ser moderno passa até por resumir a intervenção como cool.
No mesmo sentido cool caminham os cocktails. De execução simples, como nos demonstra Folgado, criando os três à nossa frente: Portonic (vinho do Porto ou Extra Seco com tónica e rodela de limão), Caipiporto (Porto Branco Seco com lima e açúcar e gelo), Porto Rosé (com rodela de laranja e gelo) - custam apenas €2,5 e servem para atrair a juventude; bebidas frescas e ligeiras, vão bem como aperitivos primaveris e estivais. Resultado: provamos (enfi m, bebemos) os três e não nos importaríamos nada de repetir.
Os cocktails, como nos diz o gestor de existência, também fazem parte da sedução de um público diferente "e dos jovens". Para já, continuam a ser os turistas a fazer a festa. E o solar serve também para instruir paladares estrangeiros.