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A aventura de produzir um azeite ganhador

Por José Manuel Rocha

Lúcia Sá repete frequentemente a palavra "aventura" para explicar o envolvimento na exploração agrícola que dirige em Mirandela, no Casal de S. Pedro Vale do Conde. Cerca de 150 hectares de olival de onde saiu o azeite que recentemente ganhou aquele que é provavelmente o mais respeitado concurso oleícola do mundo - o Mário Solinas.

Fala em "aventura" por várias razões. Primeiro, porque a opção pela terra não estaria no seu projecto de vida há uns 10 ou 15 anos. Foram as circunstância da vida familiar que acabaram por impeli-la para o negócio. Depois, porque produzir um azeite de qualidade não é pêra-doce e colocá-lo no mercado pode ser um calvário. "Acabam por ser estes prémios que nos ajudam a levar o projecto para a frente. Que nos dão força para continuar", afirma.
Esse azeite que encantou o júri da prova, em Madrid, venceu a medalha de ouro na categoria "frutado intenso". É um azeite que evidencia uma profunda complexidade, com acidez no ponto certo e notas salientes de frutos secos, onde a amêndoa tem uma presença forte. O Quinta Vale do Conde é produzido a partir das melhores azeitonas de três castas - Verdeal, Madural e Cobrançosa - e resulta da combinação da excelente exposição solar, das elevadas amplitudes térmicas e de baixos níveis de pluviosidade próprios na região. 

É um produto feito a partir do melhor que a terra dá, mas que exige sabedoria na hora de o fazer. Escolher as melhores azeitonas, ter os profissionais certos no lagar, seleccionar os lotes que melhor combinem para um blend que se afirme.

Lúcia Sá tem "fortes ligações" a Trás-os-Montes, mas nasceu e cresceu a umas centenas de quilómetros do olival de família. Quando, na ordem geracional, se lhe abriu a possibilidade de pegar no negócio, era superficial o conhecimento que tinha da cultura. "O meu pai fez um trabalho notável no campo. Rodeou-se dos melhores técnicos para modernizar o olival e tirar-lhe o melhor partido. Temos 150 hectares de olival de sequeiro gerido em regime de protecção integrada" (um modo de produção mais amigo do ambiente). Mas o produto do labor de um ano ia direitinho para a cooperativa.
Quando tomou conta da exploração, Lúcia Sá colocou-se o desafio de produzir um azeite próprio. Mas isso implica conhecimento especializado. "Meti-me no comboio e fui ao Instituto Superior de Agronomia (Lisboa) bater à porta do professor Gouveia, uma autoridade no mundo dos azeites. Disse-lhe que queria fazer azeite de qualidade. Fiz várias formações no instituto, estudei muito em casa e comecei a produzir."

Um trabalho laborioso que exigiu, também, a procura de um lagar para transformar a azeitona. "Ter um lagar próprio não é uma prioridade, porque, à minha dimensão, não gera as economias de escala que justifiquem o investimento". A opção foi procurar um lagar próximo, que respondesse aos padrões de qualidade que pretendia para o azeite Quinta do Conde, que agora maravilhou o júri do Mário Solinas. Uma tarefa de Hércules. É preciso passar sete provas para chegar à final de prova cega. E entre o melhor que se produz em Portugal, em Espanha, em Itália, na Tunísia.

Qual é o segredo? "Manter-me fiel ao modelo tradicional de Trás-os-Montes. Apostar na diferenciação e na qualidade. Porque o azeite da região transmontana é inimitável quando devidamente adequado no seu terroir. No fundo, assumimos o compromisso com a terra, que é o lema da nossa empresa."
A cooperativa continua a ser o destino de parte fundamental da produção da Quinta do Conde.

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