Um percurso por alguns dos novos espaços de comida do renovado Mercado de Campo de Ourique: das ostras com champanhe aos hambúrgueres e petiscos, passando por pratos mais elaborados em versão mercado.
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Joe’s Shack Menu
A primeira pessoa que encontramos quando entramos na nova zona de pequenas tascas do Mercado de Campo de Ourique, em Lisboa, é David Igrejas, um dos criadores do Prego Gourmet, que já existe em vários espaços da cidade, e que aqui estreia um novo conceito importado dos Estados Unidos: comida de bar americano.
Chama-se Joe’s Shack Menu e vende asas de frango com aipo e molho bluecheese (com molhos picante forte, picante, alho e mel e barbecue), choco, peito de frango, camarão e filetes de peixe panados e ainda as célebres BBQ Ribs, ou seja, entrecosto com molho de barbecue. Tudo acompanhado por batatas fritas com casca – que não são congeladas, sublinha o proprietário. E por 7 euros a dose.
Quando o vemos, David está numa das bancas do mercado a comprar limões para o seu espaço, e logo explica que, para além de explorar o Joe’s Shack Menu (com o sócio da Prego Gourmet, João Cota Dias), ligou-se também a Diogo Sousa Coutinho para este projecto de criar no Mercado de Campo de Ourique algo que pretende – assumidamente – ser semelhante ao Mercado de San Miguel, em Madrid. E uma das ideias é precisamente que quem explora os espaços de restauração use produtos que se vendem no mercado. Vamos então seguir viagem.
Praça japonesa
Rui Santos, o sushiman, já está a preparar sushi e sashimi na tasquinha japonesa, que funciona também como pequena loja, vendendo “tudo o que é preciso para fazer comida japonesa em casa”, dos ingredientes aos utensílios próprios.
Quanto ao que aqui se pode comer, Rui diz que “há o sushi mais tradicional e o mais contemporâneo, e o objectivo é que as pessoas possam experimentar os vários tipos” (duas peças de uramaki por 1,60 euros/ três de sashimi por 3 euros). Há também noodles (4 euros). E, quem quiser, pode comprar o peixe numa das bancas do mercado e trazê-lo aqui para um sushi personalizado.
Empadaria
Não se apresenta com o nome Empadaria do Chef, projecto que existe em vários espaços de Lisboa, mas os produtos são os mesmos, das empadas tradicionais de galinha, frango thai ou outros sabores (1,15€), a diferentes salgadinhos como os croquetes de vitela, os pastéis de bacalhau (95 cêntimos) ou os croquetes de alheira (75 cêntimos).
Hamburgueria U Try
Quem está já a saltear uns grelos na frigideira é Gonçalo Foro, sócio, com Pedro Cabral, do projecto U Try, que existe há um ano no Estádio Universitário, e que agora se instalou também em Campo de Ourique. Numa cidade que se encheu de hamburguerias, o que diferencia esta? “Todos os nossos hambúrgueres são feitos com produtos naturais e damos primazia à qualidade da carne, que é 100% de vaca”, explica Gonçalo.
Na lista há um hambúrguer diferente, feito com 80% de vaca e 20% de farinheira – é o Farinhegue, e leva ainda grelos e ovo (8,5 euros). Outro (a que chamaram Pinque-xiquene) tem frango, queijo camembert e doce de framboesa (6,5 euros). O que tem mais saída (pelo menos no Estádio Universitário) é o Beicone, com cebola, cogumelos salteados, bacon e queijo Edam (7,5 euros). O preço inclui batatas fritas que não são feitas no local, mas que, garante Gonçalo, são caseiras.
Chef do Mercado
Manuel Lino tem o espaço do mercado com mais ambições de se aproximar de uma cozinha de autor. É um projecto próprio (com a sócia, Joana Borie) e o que ele gostaria era de conseguir fazer “cozinha criativa”, embora reconheça que num local como este, em que a rapidez de serviço também conta muito, não pode ter uma oferta demasiado complicada.
Vai tentar usar produtos do mercado (o padeiro já faz um pão especial para ele) mas não exclusivamente. Há também a possibilidade de os clientes comprarem os produtos e trazerem-lhe para ele criar um prato. O que tinha na lista no dia em que o visitámos era, por exemplo, uma entrada de presunto de pato com queijo azul e cebola caramelizada, e um prato de puré de beringela assada com gema de ovo, tempura e ervas frescas, ou umas plumas de porco ibérico com puré de batata-doce, cogumelos e castanhas.
Charcutaria Lisboa
A Charcutaria Lisboa nasceu de uma decisão tomada numa semana. Francisco Mira tinha estado no Brasil, veio a Portugal sem saber se ficava ou não, visitou o mercado, soube do projecto, e resolveu, com dois amigos, “criar um conceito do zero”.
A ideia que tiveram foi abrir uma charcutaria, e, como tinham bons contactos com produtores, foi relativamente fácil arranjarem os produtos que prendiam, com destaque para o presunto DOP de Barrancos, e vários tipos de queijos, azeite, sal e doces. As pessoas podem comprar os produtos, ou consumi-los no local, em tábuas ou pratinhos com uma selecção de queijos e enchidos. No dia anterior à nossa visita, o chouriço assado tinha-se revelado um trunfo para atrair pessoas à tasquinha.
Petiscaria 2 à Esquina
A petiscaria de José Sousa já existe em Lisboa, por detrás da Av. Almirante Reis, e agora abre um segundo espaço no Mercado de Campo de Ourique, onde serve os mesmos “petiscos à antiga, com um toque de modernidade”. São “coisas que se podem comer numa pequena frigideira, acompanhadas com pão”, resume Cátia, que está ao balcão, onde se alinham recipientes com carapaus de escabeche, estopeta de atum, dobradinha, favinhas com chouriço. O menu na parede apresenta outras ideias: peixinhos da horta, passarinhos fritos, ovos verdes, farinheira com grelos, e o incontornável pica-pau. Doses entre os 3,80 euros e os 7 euros.
O Atalho
Nuno Gomes tem um negócio de importação de carne, e agora decidiu, juntamente com três sócios, lançar-se na venda directa. O Atalho funciona como talho, mas também como restaurante, onde se pode comer qualquer um dos tipos de carne à venda.
Não se trata de concorrência aos talhos locais, sublinha Nuno, porque são tipos e cortes de carne “que geralmente não se encontram nos talhos e restaurantes em Lisboa”. Um exemplo é o entrecosto maturado (15 a 21 dias de maturação) que vem da Alemanha. Há também carne da vazia “marmoreada, com infiltração de gordura”, ou maminha Black Angus, ou costeletas de borrego vindas da Escócia.
E, no futuro, promete Nuno, poderá haver momentos especiais como um “fim-de-semana wagyu”, dedicado à deliciosa carne marmoreada frequentemente identificada também como “vaca de Kobe” (embora haja criação destes animais noutros pontos do mundo que não apenas o Japão).
Mercado do Marisco
É um em dois. O espaço do Mercado do Marisco (que está ligado ao restaurante Porto de Santa Maria, no Guincho, embora seja uma marca diferente) divide-se em duas áreas, uma de “produtos mais nobres”, como explica Constança Homem de Melo, a responsável pela loja, onde se podem comer ostras e beber champanhe (os outros espaços do mercado não podem vender bebidas, que devem ser compradas nos espaços do café ou da garrafeira), e outra em que há marisco em versões mais económicas, dos percebes aos mexilhões, passando pelo camarão (de momento não há camarão de Espinho por causa do defeso, mas assim que existir vai estar à venda aqui).
O serviço de take away ainda não começou, mas a ideia é vir a tê-lo em breve. “Apesar de haver aqui várias peixarias, não se vende marisco, e por isso pensámos que seria bom ter essa oferta”, explica Constança. Os preços das doses situam-se entre os 5 e os 10 euros. Mas também há oferta abaixo disso: por exemplo recheio de santola apresentado dentro de uma latinha (2,50 euros) ou uma sopa de marisco pelo mesmo preço. Quem ficar com fome pode ainda comer um prego ou uma omeleta de camarão.
Gelati di Chef
Os gelados vêm de Itália, mas as bases de bolacha são feitas aqui, com massa própria. O projecto existe em Sintra há sete meses, mas em Campo de Ourique aparece com algumas receitas diferentes: há o Copo de três (com pera bêbeda), a Pizza de gelado (com morangos e chocolate branco), a Sandes mista (gelado entre bolachas). Para quem andar às compras no mercado, existe a possibilidade de trazer a fruta para fazer o seu gelado ou waffle.