Fugas - restaurantes e bares

  • Daniel Rocha
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E foi assim que o gin conquistou Portugal

O que acontecia até há cerca de um ou dois anos em Portugal era absolutamente errado, sublinha. “O que se via, e ainda vê, nos bares é virarem a garrafa para dentro de um copo com três pedras de gelo dentro, e depois a água tónica fica quase toda dentro da garrafa porque não cabe no copo. É ridículo.” Foi por isso que apareceram os copos grandes e largos, de balão, que, segundo os actuais puristas do gin, devem ser cheios de gelo e levar depois o quarto de gin e três de tónica, para uma “combinação perfeita de sabores”. Importante: a bebida deve ser consumida em meia hora, para que o gelo não comece a derreter.

Mas ainda estávamos na história da revolução em Espanha. Como é que a moda chegou a Portugal? “Quando os espanhóis a trouxeram para cá. Foi a Taberna Moderna, do Luís Carballo, em Lisboa.” O primeiro número da revista Zest tem, aliás, um artigo dedicado a este espaço, ao qual chama “o berço do perfect serve em Portugal”, e ao galego Carballo, também fundador do bar Lisbonita.

É Carballo quem, em entrevista à Zest, recorda os inícios: “Abri o Lisbonita Gin Bar com 40 gins. No mercado havia oito. Informava-me sobre novidades ou marcas que já existiam, mas não aqui, e falava com o Jaime, da Garrafeira Nacional. Ele, um pouco a medo, mandava vir algumas, quatro ou cinco, eu comprava tudo, tal como prometia. Isto durou até que ele começou a acreditar. Depois havia o problema das tónicas, as Fever-Tree, Indi, 1724, essenciais. Hoje, para termos a noção, hábitters que são feitas para a Península Ibérica, como a de pepino.”

No Norte, figura fundamental foi Miguel Camões, que abriu a Gin House, no centro do Porto, depois o Gin Room, em Vila do Conde, e no final do ano passado lançou o seu próprio gin, o NAO.

E assim, em dois anos, os portugueses começaram a discutir coisas sobre as quais provavelmente nunca tinham ouvido falar antes, como a noção de perfect serve, ou a quantidade de especiarias e florais que cada marca de gin integra. “Em Portugal, ao contrário de outros países da Europa, o consumidor está muito à frente, aprendeu muito nos últimos dois anos, e muitas vezes sabe mais do que o barman. E nós, Gin Lovers, também contribuímos para preencher um bocadinho esse vazio de conhecimento através da nossa página do Facebook, do site, da aplicação, dos workshops que organizamos. Percebemos que as marcas tinham as garrafas disponíveis para pôr no mercado e o mercado estava completamente perdido porque não sabia como as ia vender. Começaram a aparecer 20, 40, 40, 100 marcas, e as pessoas perguntavam: por onde é que vou começar?”.

O aumento do consumo puxou o aumento da produção e em Espanha começaram a surgir várias marcas. Não foi preciso esperar muito para que o mesmo fenómeno acontecesse em Portugal. No dia em que conversámos com Miguel Somsen, estava a ser lançada uma nova marca de gin português — o Sharish Gin, que se anuncia como “lentamente destilado no Alentejo”. “É o quarto gin no mercado num ano”, lembra Somsen. “O Big Boss foi o primeiro, o NAO [envelhecido em barricas de vinho do Porto] apareceu ainda antes do final do ano passado, depois o Templus [apresentado como “o primeiro gin biológico da Península Ibérica”, produzido em Évora] e agora o Sharish, que vai pegar na maçã Bravo de Esmolfe. E sei que até ao Verão vai surgir uma quinta marca.”

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