O assunto entusiasma-o. Conta como conheceu a comunidade portuguesa na Malásia quando visitou este país, e como na China se encantou com o congee chinês, uma grossa sopa de arroz cozido semelhante à canja de galinha. “Temos que fazer mais investigação para ver se conseguimos chegar à origem dos pratos. Nos meus primeiros seis anos de vida, o que eu comia quando estava doente era canja de galinha. Depois estive na China e comi congee. É uma das coisas mais tradicionais portuguesas, mas também é uma coisa tão chinesa.”
Tudo isto faz parte da tal história que quer contar, e para a qual aposta também nos bons produtos portugueses que, lamenta, ainda não se encontram com facilidade em Londres. “O queijo da serra da Estrela é um dos produtos mais únicos e interessantes que há, mas raramente chega a ter alguma exposição fora de Portugal, e às vezes o realmente bom nem a Lisboa chega. Temos também dificuldade em mostrar os nossos enchidos, que são tão únicos — é difícil encontrar uma boa alheira ou uma boa farinheira. Temos muito a mostrar, mas temos de arranjar maneira de fazer esse produto chegar a meios internacionais.”
Ele pode ajudar. “Consigo mostrar a chefs meus amigos o que estou a fazer com o produto. Há já um conjunto grande de pessoas que passaram pelos meus restaurantes e que hoje têm já projectos próprios, pessoas que se interessaram pelo produto, pelo país. É o suficiente para que valha a pena para uma empresa trazer alguns desses produtos até Londres, porque já teria um número bom de chefs a comprá-los.”
Aconteceu tudo muito rápido na carreira de Nuno Mendes, mas a verdade é que, com o seu trabalho, a ideia de uma cozinha portuguesa e de produtos portugueses começa a ganhar terreno em Londres. “Hoje temos uma voz mais forte”, diz, com o seu sorriso tímido, e afastando o cabelo da testa. Só há uma pergunta a que (ainda) não responde. Quando é que o Viajante estará de volta? “Um dia, um dia.”