Fugas - restaurantes e bares

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    Nuno Mendes Enric Vives-Rubio
  • Chiltern Firehouse, uma refeição especial para reputados chefs do mundo por alturas da gala dos The World's 50 Best Restaurants
    Chiltern Firehouse, uma refeição especial para reputados chefs do mundo por alturas da gala dos The World's 50 Best Restaurants DR/NunoMendes Instagram

O Viajante quer viajar mais por Portugal

Por Alexandra Prado Coelho

Nuno Mendes, o chefe português que conquistou Londres, conta à Fugas "a loucura" que tem sido o último ano e os planos para reabrir o Viajante e “contar a história ainda melhor”.

Nuno Mendes fala com leves hesitações, como se procurasse a palavra mais correcta (às vezes encontra-a em inglês). Tem um sorriso simpático, quase tímido, puxa frequentemente para trás o cabelo que lhe cai para cima dos olhos. Mas esta aparente timidez esconde uma determinação: este é um homem que sabe o que quer fazer, e que o faz mesmo quando a sua escolha é pouco convencional e parece a menos óbvia.

Para nos situarmos, é preciso fazer um pequeno resumo do percurso até aqui do chef português actualmente à frente do mais falado (e cobiçado) restaurante de Londres, o Chiltern Firehouse, projecto do empresário André Balazs, e local preferido das estrelas de cinema e demais celebridades que passam pela capital britânica.

Vamos andar para trás um passo de cada vez. Antes da aventura do Chiltern, Nuno Mendes, 41 anos, tinha o Viajante, um projecto muito mais pequeno mas igualmente de grande sucesso, no qual fazia uma cozinha com marcas portuguesas cruzadas com as muitas viagens que fez pelo mundo. Com o Viajante, que abriu em 2010, conquistou uma estrela Michelin (logo no primeiro ano), e o 59.º lugar na lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo (que na verdade são 100), organizada pela revista britânica Restaurant.

Mas se o Viajante, situado em East London, a sua zona preferida na cidade, era um espaço pessoal, onde havia uma relação próxima com os clientes, o projecto anterior tinha sido o embrião de tudo isso. Chamava-se Loft e funcionava na própria casa de Nuno. Parecia uma ideia arriscada, mas foi um enorme sucesso. Mais arriscado só a opção que tinha feito antes dessa, ao chegar a Londres: quando teve a hipótese de escolher entre um restaurante em Trafalgar Square e um gastropub em East London, num antigo pub numa zona mal afamada, escolheu o último. Chamava-se Bacchus — e foi aí que os londrinos começaram a reparar que havia alguma coisa de especial neste português que antes passara 16 anos nos Estados Unidos, onde estudou na California Culinary Academy, em São Francisco.

Em Lisboa — onde esteve recentemente a convite das Edições do Gosto para presidir ao júri do Concurso Chefe Cozinheiro do Ano — falou deste percurso para uma plateia cheia de aspirantes a cozinheiros na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Dois dias depois, encontrámo-lo na FIL, onde estava a decorrer o concurso, e começámos a conversa a partir do fenómeno do Chiltern Firehouse.

“Passei 16 anos nos Estados Unidos e como no Viajante fazia uma cozinha mais baseada em ideias portuguesas, nunca tinha tido a oportunidade de expressar esses 16 anos de experiências. Aliciou-me a ideia de um projecto que manifestasse essas minhas vivências”, conta. “Depois, o espaço [um antigo quartel de bombeiros] é incrível e o André Balazs é uma pessoa com projectos muito interessantes [que incluem o Hotel Mercer em Nova Iorque, o Standart em Los Angeles, Nova Iorque e Miami, e o célebre Chateau Marmont em Hollywood].”

Apesar disso, não foi uma decisão fácil, porque aceitar o desafio do Chiltern Firehouse implicou fechar o Viajante. “Estava muito nervoso, especialmente por anunciar que o Viajante ia fechar. As pessoas perguntavam porque é que eu ia deixar um sítio onde fazia uma cozinha muito criativa portuguesa por um projecto assim. Foi muito arriscado para mim.”

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