Fugas - restaurantes e bares

  • Ana Cerqueira e Isabel Saúde
    Ana Cerqueira e Isabel Saúde DR
  • O licor Orangea
    O licor Orangea DR
  • Uma sobremesa com o licor
    Uma sobremesa com o licor DR
  • Um prato de atum que o chef Pedro Limão preparou no Ozadi
    Um prato de atum que o chef Pedro Limão preparou no Ozadi DR
  • O chef Pedro Limão
    O chef Pedro Limão DR

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Pedro Limão na terra do licor de laranja

Se produtores, responsáveis locais e agentes turísticos se unissem, como aconteceu na região de Amalfi, seria possível criar uma estratégia comum para promover a laranja do Algarve, acredita Ana. Uma estratégia que passaria pelo Orangea, mas não só. “A nossa laranja não é valorizada em Portugal. Os próprios hoteleiros preferem comprar em centrais de compras a laranja que vem de Espanha. É muito mais barata do que comprá-la ao produtor português, que vai de porta a porta e não entra nas centrais de compras.”

Ana interroga-se por que é que, numa região famosa pelas laranjas, “nunca há um jarro de sumo de laranja natural nos restaurantes?”. Já perguntou em alguns porquê. “A resposta é sempre a mesma: porque dá trabalho. Preferem a lata, que não dá trabalho nenhum.” E defende que a promoção da laranja devia “partir de quem regulamenta o turismo”. Tal como o Sul de Itália tem o limão, “temos aqui um produto que é custo zero, que promove uma região, uma identidade, que promove qualidade”. Se existe já no Algarve uma rota das amendoeiras, “porque é que não se faz uma da laranja?”. A estratégia é sempre a mesma: um produto está a morrer, como estava a acontecer com as amêndoas ou a alfarroba, e alguém pega nele e tenta fazê-lo renascer, criando novos produtos, organizando rotas turísticas.

Até agora, a produção do Orangea tem sido feita de forma artesanal. Mas Ana e Isabel já conseguiram uma licença semi-industrial, e das 6000 garrafas (que actualmente se vendem em mercearias gourmet em Lisboa, Porto, Algarve e Funchal) vão passar para as 30 mil. Por isso, Ana desafia os responsáveis pelo turismo do Algarve: “Porque não tornar o Orangea a bebida de boas-vindas da região?”

Os cocktails servidos ao final de uma tarde de Maio na esplanada do Ozadi serviram precisamente de boas-vindas para um jantar preparado por um chef convidado pelo hotel: Pedro Limão, vindo do Porto para cozinhar com produtos algarvios.

Nesse dia (um sábado) de manhã cruzámo-nos com Pedro Limão no mercado de Tavira. Tinha andado à procura de pimentão fumado e estava muito satisfeito por o ter encontrado. “Quando me propõem uma situação nova penso no menu antes de o realizar e depois tenho vários problemas porque nunca tinha feito aquilo”, confessa, rindo.

Mas gosta muito da ideia de experimentar coisas novas. No caso dos produtos algarvios, o único que nunca tinha trabalhado eram os lingueirões e decidiu fazê-los com dois sabores da região: uma espuma de arjamolho (uma sopa semelhante ao gaspacho feita com pão, tomate, pimento, pepino, azeite, vinagre e sal) e ar de orégãos.

A seguir serviu um atum de cebolada em tártaro com maionese de wasabi e sésamo, pimentão fumado e coentros; depois veio um bacalhau em crosta de amêndoa e aromáticas, risotto de tinta de choco, creme de pimento vermelho na brasa e salada de daikon. Um granizado de amêndoa amarga e lima serviu como limpa palato antes do prato de carne: um magnífico carré de borrego de leite fumado com favas à algarvia, quinoa e ervilhas de quebrar. A sobremesa foi um bolo de montanha com nozes, cítricos e mel.

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