Fugas - restaurantes e bares

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Em Barcelona, por sete restaurantes únicos

Por Miguel Pires

Com um magnetismo especial e múltiplos pontos de interesse, a vertente gastronómica de uma das cidades mais visitadas do mundo não poderia passar despercebida.

É uma cidade diferente a que se avista no trajecto do aeroporto ao hotel, no Porto de Barcelona, nomeadamente para quem está habituado a chegar pela parte alta e depois percorre a cidade descendo as Ramblas. A perspectiva de atravessar a zona portuária, com toda a envolvente logística escancarada à nossa frente, lembra um belo teatro em que entramos pela porta de serviço, num dia de folga — sobretudo se a vinda for a um domingo, como foi o caso. 

Barcelona é uma cidade com uma aura muito especial e um fervilhar que se sente à flor da pele. Pode não ter a dimensão de Londres, Paris ou até mesmo Madrid, mas possui um conjunto de características contrastantes que a tornam única: o monumental e o básico, o novo e o velho, o requintado e o popular, a vanguarda e o tradicional, a urbe e a praia. É verdade que esta aura gera um enorme poder de atracção, o que torna a cidade (e sobretudo quem nela habita) também numa vítima do seu próprio sucesso. Muitas vezes é preciso mesmo ser-se um Messi para fintar as hordas de turistas que se concentram nas principais vias e lugares históricos. 

Uma cidade com esta personalidade teria de ter uma identidade gastronómica igualmente forte. E esse é um facto evidente. Se soubermos olhar por entre as multidões e fugir ao engodo do very typical, encontramos lugares onde se celebra à mesa uma boa e diferenciada cozinha: local, catalã, espanhola ou do mundo; numa matriz mais tradicional ou mais contemporânea e em formato à escolha. Pode ser um restaurante de autor, requintado, ou de registo informal; uma casa de comidas em que se frita o peixe do dia (como existe na Barceloneta), ou uma taberna de tapas, em que se bebe um vermute à barra enquanto se pica um par de petiscos.

Espanha será provavelmente o país do mundo que, tendo uma gastronomia tradicional/popular forte, melhor consegue captar visitantes para os seus restaurantes de cozinha de autor. E se o País Basco, nomeadamente San Sebastián, é apontado habitualmente como a principal referência neste campo, a Catalunha não lhe fica atrás. É preciso não esquecer que é nesta região, em Girona, que se encontra o Celler de Can Roca (eleito este ano, de novo, o número 1 do mundo da lista dos 50 melhores restaurantes do mundo) e foi aqui, em Roses, que nasceu o El Bulli e Ferran Adrià, o chef que revolucionou a cozinha mundial nas últimas décadas. 

Se é verdade que o restaurante de Roses já não existe (por vontade expressa de Adrià) e que na capital, Barcelona, não há um único três estrelas Michelin, tal não impede (de todo) que se sinta o fervor criativo ao nível da cozinha de autor. E com uma vantagem: ela tirou a gravata e democratizou-se. 

Dos sete restaurantes (ou espaços restaurativos) experimentados durante uma semana de estadia em Barcelona, encontram-se alguns dos mais badalados da cidade, sendo que seis pertencem a chefs que ocuparam lugares ao mais alto nível no El Bulli. 

Tickets
“El Bulli de Bairro”, é assim que Albert Adrià classifica o seu restaurante da Rua Tamarit, no bairro de Sant Antoni. Trata-se de um espaço que remete para um universo do espectáculo e da fantasia, numa mistura de circo, Feiticeiro de OzBarco do Amor e Alice no País das Maravilhas. O menu é composto por umas boas dezenas de propostas, algumas para comer de uma só vez. Umas vêm dos tempos de Roses, como as azeitonas esferificadas, ou o airbaguette de presunto; outras são tapas de inspiração tradicional com um valente twist; e uma boa parte, ainda, são pratos criados especificamente para o restaurante. Como acontece com as coisas boas da vida, as duas a três horas passadas à mesa voam rapidamente com a trintena de criações divertidas, surpreendentes e saborosas, tudo num ambiente frenético e agradavelmente caótico. É difícil dar indicações sobre o que pedir, com tantas e tão boas opções de escolha. Partir à aventura (menu de degustação) é o conselho mais sensato, até porque é muito provável que inclua alguns dos pratos mais apreciados, como o jamon de toro (presunto de barriga de atum), as navalhas com molho de “refrito” e ar de limão, “a paisagem nórdica”, o brioche com papada ou a sobremesa globo de coco, servida, junto com uma série de outros postres, numa sala ao lado com o tecto forrado de frutos vermelhos gigantes e as paredes com ecrãs tipo peças de lego. Perante este ambiente delirante, quem ainda precisa de saber que o Tickets tem uma estrela Michelin e ocupa o 42.º lugar da lista dos W50Best?

Tickets. Av. del Parallel, 164. Encerra ao domingo ?e à segunda-feira
Reserva obrigatória: www.ticketsbar.es


Pakta
Albert Adrià apostou igualmente no novo boom criativo associado às cozinhas das antigas colónias espanholas. Se os restaurantes mexicanos Niño Viejo e Hoja Santa ainda dão os primeiros passos, o Pakta, de cozinha nikkei (nipo-peruana, popularizada no Peru) é já um caso sério, com direito a uma estrela no Guia Michelin. Para este espaço, de ambiente um pouco mais formal, Albert foi buscar os chefs Jorge Muñoz (peruano) e Kyoko Li (japonesa). 

Os três criaram menus cheios de criatividade e sem fronteiras estanques. Porém, a ebulição criativa é feita com sentido e zelo, dentro da matriz nikkei. O resultado é surpreendente e harmonioso. Tofu com abacate e ouriços do mar, navalha com molho de tamarindo e alga nori, chip de batata com creme de trufa negra, ceviche amazónico edaikon com creme de foie são apenas alguns exemplos da longa viagem que fizemos entre o Peru e o Japão com uma outra paragem na Catalunha (belíssima a tempura decalçots com molho romesco nikkei). 

Pakta. C/ Lleida, 5. Encerra ao domingo ?e à segunda-feira. 
Reserva obrigatória: www.pakta.es

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