Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

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O pão nosso de cada refeição

Como o papo-seco perdeu as maminhas

Foi na década de 50 do século passado que foi criada a carcaça, um pão que nasceu para contrariar o aumento do preço dos cereais e reduzir as importações. Numa altura em que Salazar não permitia que se mexesse no preço do pão e um quilo de pão chegou a ser mais barato que um quilo de farinha, a indústria teve que recorrer à criatividade para dar a volta ao texto e parar com os prejuízos. Coube então a Vítor Moreira, um engenheiro químico que já trabalhava para a Fábrica Portuguesa dos Fermentos Holandeses, protagonizar a versão panificadora do tradicional desenrasque lusitano.

O pão de Lisboa era então o papo-seco e, olhando para ele, o engenheiro pensou que prescindido das extremidades aguçadas, as maminhas como sempre foram designadas, seria possível poupar na mão-de-obra e reduzir substancialmente os custos de produção. Se o pensou, melhor o fez. Com a “carcaça”, assim designou o novo modelo, o padeiro poderia fazer o pão apenas com uma das mãos, enquanto as extremidades do papo-seco implicavam o empenho dos dois braços.

E o padeiro que fazia uma média de 40 papo-secos passou, assim, a produzir 70 carcaças no mesmo período de tempo. A par da poupança na mão-de-obra, Vítor Moreira aplicou também ao novo modelo uma fenda longitudinal, fazendo com que fosse maior a superfície de massa exposta ao calor. Conclusão: Aumentava a expansão da massa e, consequentemente, o volume da cada pão.

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