Fugas - restaurantes e bares

  • Anabela Rosas Trindade
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Peixes e vinhos que brilham com estrelas da cozinha

Na sua versão há um molho e espuma de aroma tão fresco que faz lembrar um spa marinho. De perfume fresco e onde se cruza doce e amargo, cítrico e salino que, precisamente, potenciam o sabor e frescura marinha do carabineiro. Notável o casamento com esta colheita do Alvarinho da casa Soalheiro, parecendo que há no vinho toda a envolvência e textura do prato. Sublime também o lagostim, assado com physalis, jus de cenoura, gengibre e pimenta malagueta que emparelhou com o mesmo vinho.

E se o holandês deliciou com o seu tom kha kai para o carabineiro, o anfitrião Ricardo Costa não lhe ficou nada atrás com uma caldeirada e a sua feijoada de bacalhau. Notável como recorre às suas raízes na ria de Aveiro para sublimar dois pratos da história da região. Com raia, crustáceos e bivalves, a caldeirada é um hino à cozinha de sabores marinhos, enquanto a feijoada evoca a mais pura tradição. Há bacalhau, feijão com sames e molho de chouriço, mas tudo em contexto tão elegante e sofisticado que a surpresa é total. Está lá o sabor, a textura e até toda a emoção de quem sente o cheiro do lombo de bacalhau corado em azeite.

Enorme também o duelo das sobremesas e a proporcionar outra singular experiência com o mesmo vinho — o Porto Vintage Vargellas 2001 — a casar de forma oposta com cada uma. Com “ovos-moles de Aveiro” (onde parece até não haver açúcar), gelado de natas do céu, avelãs e pão de canela”, o chef da casa recorre mais uma vez à melhor tradição da sua região, enquanto o holandês soltou o génio com a sua “bomba de mirtilos”. Diversas texturas de mirtilo e manjericão, gel de lima e sorvete de manjericão e lima. Fruta pura e fresca a mostrar o lado saboroso do tanino e frutos vermelhos do vinho, enquanto a faceta fresca, doce e texturada do vintage se mostra no confronto com os ovos-moles.

Assim se revela o potencial que há nos vinhos, a genialidade dos cozinheiros e valor dos produtos e da tradição culinário. Por mim, não me queixo. Mas bom mesmo era que estas experiências se multiplicassem e muitos mais a elas pudessem ter acesso.

David Muñoz, o chef do momento da cozinha espanhola, procura louças na Vista Alegre

De modo inesperado, o jantar de domingo no The Yeatman acabou por ter a participação de um outro chef com três estrelas Michelin, se bem que neste caso sem passagem pela cozinha e apenas para se sentar à mesa.

David Muñoz é a coqueluche do momento da cozinha espanhola e isso não se deve ao seu aspecto de estrela de rock ou corredor de motos, tributário dos piercings, tatuagens e penteado em crista que são a sua imagem de marca. Tão-pouco decorre do mediático casamento com uma conhecida apresentadora, que enche páginas de notícias mundanas e revistas cor-de-rosa.

Faz agora dois anos que Munõz conquistou para o seu restaurante DiverXO, em Madrid, o símbolo das três estrelas do famoso guia vermelho, coisa que há mais de duas décadas era exclusivo de bascos e catalães. E sabe-se como isso pesa no país vizinho! Um espanhol que pudesse estar à altura do brilho das estrelas do País Basco e da Catalunha era coisa há muito esperada por terras de Castela.

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