Fugas - restaurantes e bares

  • Estrelas da cozinha na rota
    Estrelas da cozinha na rota Henrique Seruca
  • O minicone de lagostim e carabineiro, cortesia de  Miguel Gameiro
    O minicone de lagostim e carabineiro, cortesia de Miguel Gameiro DR
  • Os participantes na Rota das Estrelas visitaram as grutas de São Vicente, onde, entre outras coisas, provaram larvas e insectos desidratados, preparados pelo chef francês David Faure
    Os participantes na Rota das Estrelas visitaram as grutas de São Vicente, onde, entre outras coisas, provaram larvas e insectos desidratados, preparados pelo chef francês David Faure

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Rota das Estrelas: Sabores e sensações que fazem da Madeira um caso à parte

Também o estrelado Henrique Leis, em dupla com Paula Peliteiro (Restaurante Senhora Peliteira/Esposende), teve que trabalhar até à exaustão, curiosamente com uma versão do xerém algarvio que acompanhava vieira e espuma. Ambos tiveram o condão de destacar o excelente Parcela Única, o Alvarinho de Anselmo Mendes que claramente brilhou entre as dezenas de vinhos em prova.

Trabalho extra tiveram também Kiko Martins (primorosos ceviches) e Paulo Morais (sushi e sashimi), que igualmente se destacavam entre os onzes chefs distribuídos por um percurso que se alongava em 28 estações. Houve, assim, uma espécie de prova de fundo gustativa — com esforçados participantes, haverá que reconhecer — onde a cozinha ao vivo envolvia animadas conversas, vinhos, sommeliers, bancas de caviar, queijos, charcutaria, pastelaria, gelados, cozinha de evolução e molecular. Um percurso que tinha início com uma cascata de champanhe e sons pop-rock (banda ao vivo), intercalava com DJ, techno e ambientes psicadélicos, para terminar em calma e relaxamento com a preciosa lula (em linguini) com caldo de cogumelos e soja de Benoît Sinthon.

Pelo meio, Miguel Gameiro (escola Alain Ducasse) mostrava competência culinária com um minicone de lagostim e carabineiro (a imitar o Cornetto), mas seria com os dotes musicais que, no final, fez a festa rebentar em delírio e apoteose. Sim, o cozinheiro, que é também músico e vocalista da banda Pólo Norte, pegou na guitarra e pôs toda a gente de copo na mão a fazer estridente coro com as suas músicas mais conhecidas. A gastronomia é criatividade e festa e a música também tem sabores.

Natureza e produtos locais

No segundo dia foi tempo para os chefs fazerem uma incursão ao interior. Provar a poncha na serra d’Água, subir à Encumeada e descer das nuvens por entre a exuberância da Floresta Laurissilva até São Vicente, onde túneis de lava vulcânica desenharam interessantes grutas naturais que os locais descobriram em finais do século XIX e são visitáveis desde 1996. 

À emoção da visita ao seu interior, Benoît quis que colegas e convidados associassem sensações básicas de sonoridades, gosto e tacto, em três diferentes pontos do percurso de um quilómetro. A singela elegância de um camarão cozido, a rusticidade das carnes secas e salgadas da garoupa fumada, a diversidade de sabores de caviares e, por fim, a surpresa crocante de larvas e insectos (gafanhotos) desidratados. Com sabor a pistácio, na preparação do chef francês David Faure, que os cria em cultivo próprio e os desidrata no forno depois de passar por água fervente. 

Espaço também para dar a provar os vinhos da Quinta do Barbusano. Vinhas da parte norte da ilha, onde ao interessante Verdelho local Tito Brazão se esforça por juntar tintos e um rosé com base nas castas Touriga Nacional e Aragonez. Também na noite de véspera uma das estações de vinho era ocupada pelos madeirenses Terras do Avô, cujo Verdelho é já reconhecido. Sofia Caldeira deu agora a provar um vinho à base da casta Tinta Roriz que, como vinho local, pode ter algum caminho. 

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