A lagosta e o polvo (confitado) combinaram com o Frei Gigante 2015, da Adega do Pico, e também com o milho das Furnas em três diferentes texturas: a típica maçaroca (bebé, no caso), um crocante e um puré.
Na sobremesa, como já foi dito, a diversão veio à mesa. Chegaram primeiro os ovos (na caixa), depois leite, farinha, açúcar e manteiga (da ilha das Flores) em gelado. Cada um juntava a sua dose e saboreava. Entretido e dinâmico para terminar em convívio com o Lagido Doce Reserva 2004.
Autêntica mostra dos produtos, da capacidade culinária instalada e do potencial gastronómico dos Açores, este foi um jantar preparado a 20 mãos. Eis o registo: Sandro Meireles, Pedro Oliveira, Nuno Santos, Angelina Pedra, César Arruda, Cristina Rodrigues, Jorge Goulart, Michael Ross, Paulo Lourenço e Rodrigo Teves.
Todos ligados à Escola de Formação Turística e Hoteleira de Ponta Delgada e que espalham talento, dinamismo e valorizam a gastronomia em vários pontos do arquipélago.
Talento francês
Depois do jantar dos chefs locais, a Fugas teve ainda oportunidade para se sentar à mesa com Alain-Christian Priso, um jovem francês com raízes no Senegal que promete grandes voos. E porque nessa noite havia futebol e jogava a nossa selecção, brincávamos até que seríamos servidos pelo William Carvalho, dada a semelhança física entre ambos. Não houve golos nem pontapés na bola, mas fomos brindados por um festival de qualidade, técnica, saber e harmonia que tocou a emoção e felicidade.
Sim, uma daquelas refeições com rara capacidade de nos emocionar, sobretudo percebendo que o jovem chef não trouxe nada preparado nem serviu pratos ou criações anteriormente executados. Limitou-se a usar os produtos locais, os que encontrou no mercado e na disponibilidade da despensa açoriana. O efeito foi genial. Emocionante e saboroso!
Eis a sequência: ceviche de besugo; gaspacho de abobrinha e pepino; ravioli de salmonete, bisque de lagosta e pimenta da terra; duo de peixes dos Açores (abrótea e rocaz), couve recheada e arroz de lapas; bife grelhado com cerveja, pão de gengibre e puré de batata-doce; tarte tatin de ananás assado com sorbet de coco.
Ao apuro e conjugação de sabores, texturas afinadas, complementaridade e elegância, tudo se conjugava de forma quase perfeita e sob a aparência de desarmante simplicidade. Tudo harmonizado com vinhos franceses e com o interessante objectivo de mostrar vinhos menos conhecidos e de diversificados e menos conhecidos pontos do país. Fabulosa a forma como resultaram todas, mas mesmo todas, as combinações e também como foram seleccionados os vinhos.
Ora, é aqui que entra o outro grande protagonista. Paulo Bouca Nova é um lusodescendente, também jovem, director comercial e responsável pelas compras de uma importante cadeia de lojas de vinho em França (Le Repaire de Bacchus). Além do gosto e profundo conhecimento, tem enorme curiosidade por Portugal e os nossos vinhos. Pelos visto, é também muito assertivo no que respeita à gastronomia, já que foi da sua responsabilidade a vinda de Alain-Christian Priso, que acaba de instalar-se em Paris, junto ao Sena, com um prometedor restaurante/bar de vinhos, o L’Ardoa.