Para lá de uma espécie de ecomuseu, a aldeia de Querença, um pouco acima de Loulé, é também um dos lugares onde melhor se preserva a tradição e o gosto algarvio. Têm fama os medronhos, licores artesanais e o mel, mas o seu património gastronómico inclui receitas como as sopas de pão com bacalhau e as chouriças, às quais é até dedicada uma festa anual, na última semana de Janeiro.
Um ambiente natural e preservado agora também enriquecido com a actividade da Fundação Manuel Viegas Guerreiro e a sua dinâmica cultural. Ainda no último fim-de-semana o FLIQ – Festival de Literário de Querença e o seu Encontro Ibérico de Poesia proporcionaram três dias de poesia, arte, livros e petiscos.
É mesmo em frente às instalações da Fundação que está a Tasquinha do Lagar, espaço restaurado e alargado com uma espécie de confortável alpendre. Em localização privilegiada, numa espécie de plateau com vista sobre o vale e horizonte até ao mar. Nuns palmos de relva, debaixo de oliveiras, a pequena esplanada é o lugar ideal.
Cozinha tradicional do Barrocal, de origem camponesa, onde o peixe surge como complemento. Ensopados, assados, cabidelas e comidas de tacho com os sabores e produtos da tradição local.
Nem isso impediu que tivéssemos saboreado as melhores sardinhas no que vai de temporada. Gordura a fazer deslizar o “capote”, carnes alvas, saborosas e suculentas e primorosamente assadas. Nada de batata ou pimentos assados para acompanhar. O calor da serra pede frescura e um soberbo gaspacho ajudou a destacar a qualidade das sardinhas. Tomate, pimento, pepino, cebola, bom vinagre e também uns cubinhos de pão serrano que refrescavam a boca e espevitavam ao palato.
Antes tínhamos sido surpreendidos — isso mesmo, uma boa surpresa — pela consistência e sabor da sopa de lentilhas. Uma sopa que é um tacho de substância. E muita! Um arroz de lentilhas com carnes de porco, da costela e barriga, chouriça (a tal de Querença) e cenoura. Vem à mesa no tacho de alumínio e o sabor e textura são mesmo irresistíveis.
Os ensopados, caldeiradas e cabidelas atraem também a clientela, assim como as sobremesas de inspiração local como as tortas de laranja e de alfarroba que agradavelmente se saborearam.
A capital do polvo
Por estes dias desembarcam em média na lota de Santa Luzia duas toneladas de polvo a cada jornada. Com o ambiente e vivência turística que nos últimos anos se instalaram na localidade vizinha de Tavira, a marginal rapidamente se transformou num desfile de restaurantes que agora fazem companhia ao conceituado O Capelo de há muitas décadas.
Pela quantidade e qualidade do polvo que aqui se apanha, Santa Luzia reivindica o título de capital do polvo e não é de estranhar que se destaque na maioria das ementas. A que ganhou maior fama, e clientela, é a Casa do Polvo – Tasquinha, espaço que há uns anos foi criado pelo professor Zé, um local que quis dar expressão às múltiplas formas de preparação do polvo da tradição dos pescadores locais.
O local é hoje gerido por um casal luso-alemão, com ritmo e estilo adaptado à procura turística. A lista de “pratos de polvo” alonga-se até às 18 variações, do tradicional arroz à açorda, passando pelos filetes, à Brás, abafado, de fricassé, grelhado, à lagareiro ou assado no forno, até um caril ou um modernaço burguer. Para todos os gostos e curiosidades, rondando as doses o preço de 11/12 euros.