Fugas - restaurantes e bares

  • Produtos do Lugar do Olhar Feliz, no Alentejo, que serão usados no jantar no Loco
    Produtos do Lugar do Olhar Feliz, no Alentejo, que serão usados no jantar no Loco Paulo Barata
  • Estudo sobre a anatomia do porco no Mercado de Benfica
    Estudo sobre a anatomia do porco no Mercado de Benfica Paulo Barata
  • Em busca de diospiros no Lugar do Olhar Feliz com o proprietário Jean Paul Brigant
    Em busca de diospiros no Lugar do Olhar Feliz com o proprietário Jean Paul Brigant Paulo Barata
  • A manhã de terça-feira começou no Mercado de Benfica
    A manhã de terça-feira começou no Mercado de Benfica Paulo Barata

Quem são os chefs mistério que vão cozinhar em Lisboa?

Por Alexandra Prado Coelho

Adivinhem quem vai fazer o jantar? É este o ponto de partida do Gelinaz, um festival mundial marcado para quinta-feira à noite. Em Lisboa, os jantares vão acontecer no Belcanto e no Loco.

Já andam por Lisboa os dois chefs que, na quinta-feira, vão cozinhar no lugar de José Avillez, no Belcanto, e no de Alexandre Silva, no Loco. O problema – o melhor é assumi-lo desde já – é que este texto não vai poder dar resposta à pergunta do seu próprio título. Os organizadores do evento – o The Grand Gelinaz Shuffle 2016 – pediram a todos os envolvidos que mantivessem segredo até ao início dos jantares.

A ideia tem muito de desafio: 40 dos mais famosos chefs do planeta – entre os quais René Redzepi do Noma, em Copenhaga, Massimo Bottura da Osteria Francescana, em Modena, Alex Atala do D.O.M., em São Paulo, ou Virgílio Martinez do Central, em Lima – fizeram as malas e partiram para o destino que lhes coube na sorte (Avillez e Alexandre Silva também já estão nos países em que vão cozinhar, e nem estes podem ser revelados).

Alguns ficaram instalados na casa do outro chef (a família de Alexandre Silva, por exemplo, está a receber a pessoa que cozinhará no Loco). Outros instalaram-se em hotéis mas vão trabalhar nas cozinhas e com as equipas locais, exactamente como se fossem o chef daquele restaurante.

“Tirar as pessoas da sua zona de conforto” – basicamente é o que se pretende com este Gelinaz, uma ideia de Andrea Petrini, influente jornalista gastronómico e curador de eventos nascido em Itália mas a viver em França. Há ainda um “quartel-general” em Bruxelas, onde parte dos chefs envolvidos nesta aventura estarão também durante o dia e noite de quinta, numa maratona non-stop a servir refeições a partir de menus criados pelos chefs que viajaram para os diferentes países (e de acordo com os diferentes fusos horários). Confusos?

Sim, a ideia é complicada. Vamos então pegar num exemplo para tentar explicar melhor. Quando José Avillez ou Alexandre Silva souberam para que país iriam, tiveram que criar um menu a partir do que sabiam (ou imaginavam) da gastronomia desse país. É esse menu que vai ser reproduzido pelos chefs que estarão em Bruxelas.

Quanto aos que viajaram para Portugal, o objectivo é que, mantendo os respectivos estilos, trabalhem com produtos portugueses. A Fugas acompanhou um desses chefs – vamos chamar-lhe Z – na segunda de manhã num raide por vários locais de Lisboa procurando precisamente ingredientes para o jantar de quinta-feira no Loco.

Começámos pelo Mercado de Benfica. Explicações sobre o que é bacalhau seco (não existe no país de origem de Z), perguntas sobre quais os produtos da estação (“há melão agora? Mas há cogumelos, certo?”), dúvidas sobre se os grelos são picantes ou que frutos secos comem os portugueses. Paramos um momento para comprar alhos, que Z cheira antes de tomar uma decisão. E, de repente, momento de grande entusiasmo perante uma banca que vende diversos tipos de feijões.

Os feijões seguem para o saco, mas não serão usados no jantar. Z quer plantá-los quando voltar a casa. Mais uma avalanche de perguntas perante uma montra de charcutaria, novos produtos para o saco (estes sim, para usar em Portugal) e depois um momento alto no talho. Simpatia total da parte do talhante que, quando Z lhe mostra fotos no telemóvel para explicar que parte do porco procura, vai montando em cima do balcão, pedaço a pedaço, um porco, para ajudar a identificar o corte pretendido.

Seguimos para o Martim Moniz em busca de especiarias. Entre sabores indianos e chineses, várias coisas entram no saco. Vão juntar-se a muitos produtos que Z descobriu durante uma visita, na segunda-feira, ao Lugar do Olhar Feliz, no Alentejo, onde existe uma imensa colecção de citrinos, ervas e romãs que deixou o chef encantado.

Última paragem do dia, o Mercado 31 de Janeiro, perto do Saldanha, onde fomos recebidos por Açucena Veloso, transbordante de simpatia junto às suas bancas de peixe. Upss, por momentos a identidade secreta que tanto nos esforçamos por proteger parece estar comprometida porque, a falar com Açucena, estão outros dois chefs portugueses. As selfies são inevitáveis mas acontecem por entre várias promessas de que ninguém divulgará identidades. É preciso esperar por quinta, não há nada a fazer.

Z vai voltar para o Loco e testar receitas. O outro chef mistério também anda por aí, mas a Fugas só irá encontrá-lo esta quarta-feira para perceber o que se cozinhará no Belcanto enquanto Avillez andar por… bom, sabe-se lá por onde.

Para quem quiser ficar a conhecer quem são os 40 chefs do Gelinaz, há uma página online na qual é possível ir acompanhando os bastidores de toda a operação. Cada cozinheiro, cada equipa anfitriã em cada país e ainda os jornalistas que os acompanham vão postando imagens e pequenos comentários.

A dificuldade é fazê-lo não revelando nada que possa levar a conclusões sobre quem é o chef que está onde. Quanto a estes, a dificuldade é ainda maior: têm que fazer posts sem revelar em que país se encontram. O resultado é muitas vezes divertido e, quem tiver vocação para detective, pode sempre procurar pistas para tentar resolver o mistério. 

--%>