Fugas - restaurantes e bares

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Nem só de saladas vive a quinoa

Para além da diversidade genética e da riqueza nutricional, há outra razão para a atenção que a organização da ONU lhe dispensou. A quinoa tem uma grande capacidade de se adaptar a diferentes condições agro-ambientais, e tanto é cultivada em zonas com -4º C, como em áreas que ultrapassam os 30º C, e traz fortes benefícios socio-económicos às comunidades locais. “Face ao desafio de aumentar a produção de alimentos com qualidade para alimentar a população mundial no contexto das alterações climáticas, a quinoa oferece uma alternativa aos países com problemas de segurança alimentar”, defende a FAO. “Tem também a capacidade de diminuir a dependência de outros produtos como o trigo e o arroz."

Tudo isto levou a que a fama do “cereal milagroso dos Andes” se espalhasse. A moda explodiu até no Peru, que produziu no ano passado 140 mil toneladas, mas só exportou 53 mil, adianta Kuyeng Ruiz.

“Não cresci com quinoa”, diz Valeria Olivari, que nasceu em Tacna, no Sul, junto à fronteira com o Chile. “Só a descobri há poucos anos. Era um alimento de Puno”, região agrícola também no Sul, um planalto a mais de 4 mil metros de altitude, que juntamente com Cusco é das zonas de maior produção da planta. “A quinoa não chegava aos supermercados das cidades”, afirma a chef do atelier Las Cholas, em Lisboa. “Eu própria fiquei surpreendida com o que se pode fazer e utilizo agora nos meus pratos”."

Um artigo no Guardian em Janeiro de 2013 apontava para o reverso da medalha. O aumento da procura trouxe o aumento do preço do alimento, que triplicou desde 2006 até então, de tal forma que “as pessoas mais pobres do Peru e da Bolívia, para quem este era o alimento nutritivo por excelência, já não conseguem consumi-lo". "A comida de plástico importada tornou-se mais barata. Agora, em Lima, a quinoa é mais cara do que o frango. Fora das cidades, devido à grande procura exterior, a pressão é para transformar a terra que produzia diversas colheitas numa monocultura de quinoa."

O mesmo jornal publicou um artigo de opinião, em Julho deste ano, assinado por Alexander Kasterine, responsável pelo programa de comércio e ambiente do International Trade Centre (ITC, agência conjunta da ONU e da Organização Mundial do Comércio), em que estes argumentos eram refutados. Um estudo publicado em Maio pelo ITC, citado por Kasterine, revela que não só o aumento dos preços da quinoa não impedia as populações rurais mais pobres de a consumir, como veio melhorar o seu nível de vida. “E na verdade, quando os preços caíram em 2014-2015 devido ao aumento da concorrência trazida por plantações de maiores dimensões, com uma agricultura mais intensiva na costa, produzindo a custos mais baixos, os rendimentos dos agricultores também caíram e a alimentação das suas famílias piorou”, lê-se.

De acordo com o mesmo estudo, nos anos em que os preços aumentaram, entre 2004 e 2013, “tanto os produtores como os consumidores beneficiaram financeiramente da comercialização". "Os produtores de quinoa, que estão entre as populações mais pobres do Peru, viram um aumento de 46% dos seus rendimentos durante este período”, escreve o responsável.

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