Fugas - restaurantes e bares

Rui Gaudêncio

Barbara reuniu receitas de sopa para ajudar os sírios

Por Alexandra Prado Coelho

A fotógrafa libanesa Barbara Massaad é presidente do Slow Food do Líbano, consultora do restaurante Muito Bey e está empenhada em apoiar os refugiados da Síria. Sempre através da comida.

Numa bancada à entrada do restaurante libanês Muito Bey, em Lisboa, estão vários livros, todos com a mesma assinatura: Barbara Massaad. Esta fotógrafa libanesa que nasceu em Beirute, saiu do seu país para fugir à guerra quando tinha dez anos, cresceu nos Estados Unidos e regressou ao Líbano aos 18, é a consultora do restaurante e os seus livros inspiraram as receitas que aqui se podem experimentar.

Encontramos Barbara durante uma visita a Portugal para introduzir algumas alterações do menu. O objectivo é ir apresentando pratos novos à medida que os portugueses se vão familiarizando com a comida libanesa e, por isso, Barbara tem passado grande parte dos seus dias na cozinha do Muito Bey a dar formação.

Uma das coisas que lhe agradou imediatamente da primeira vez que veio a Portugal foi perceber que em quase todos os pratos podia usar exclusivamente ingredientes portugueses. “Neste momento, 90% dos ingredientes são locais, o que é muito importante”, diz.

Sentamo-nos para conversar com os livros que escreveu à nossa frente. Man’oushé é sobre o pão libanês, resultado de viagens pelo país nas quais recolheu um grande número de receitas que mostram a versatilidade deste pão nas inúmeras maneiras de ser usado.

Seguiu o mesmo método para entrar no riquíssimo mundo dos produtos conservados, o que resultou no livro Mouneh. Foi à procura de quem conhecia as antigas formas de preservar frutos, legumes e outros alimentos para que não houvesse desperdício e continuassem a ser usados mesmo fora das suas épocas.

O terceiro livro, Mezze, é sobre essa instituição da cozinha do Médio Oriente que são os pequenos pratos com diferentes tipos de saladas e outros petiscos e que juntam as pessoas à volta de uma mesa para partilhar uma refeição.

Mas a nossa conversa centra-se no quarto e último livro, o seu mais recente projecto, chamado Soup for Syria, cujas vendas revertem a favor dos refugiados sírios. “Tivemos um grande número de refugiados a vir para o Líbano”, conta Barbara, “e eu quis aproximar-me desse problema porque acho que é um desastre”. Num país que pode atingir temperaturas muito baixas, Barbara ficava impressionada ao ver na televisão imagens de mães sírias com crianças pequenas em tendas, ao frio.

“Peguei no carro e fui até aos campos de refugiados que ficam a 45 minutos da minha casa e comecei a tirar fotografias para as partilhar com muitas pessoas e mostrar a crise de refugiados no Líbano.” É uma situação que está a criar grande tensão, até porque o Líbano, que tem uma população de quatro milhões, já alberga há décadas os refugiados palestinianos e agora recebeu mais 1,5 milhões de pessoas fugidas da guerra na Síria.

Barbara é também a presidente do Slow Food Líbano e está ligada a um mercado de produtores, por isso rapidamente surgiu a ideia de fazer sopa, uma “comida de conforto e uma linguagem comum”, para os refugiados. Daí nasceu a ideia de um livro de receitas. “Fiz uma página no Facebook e pedi às pessoas para doarem receitas”. Alguns chefs famosos, como Anthony Bourdain e Yotam Ottolenghi participaram, o livro já foi traduzido em várias línguas — e deverá no futuro ter também uma edição em português.

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